Após 20 anos de pesquisa e coleta de amostras, cientistas do Programa Global de Vigilância Viral da Abbott anunciaram a descoberta de um novo subtipo de HIV. Pertencente ao Grupo M (o HIV é dividido entre: M, N, O e P), que é responsável por 90% da epidemia global, o novo subtipo foi chamado de L.
Ronaldo Hallal, infectologista da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, explica que a descoberta não tem impacto direto na vida de pacientes e médicos clínicos, mas é importante para pesquisas que buscam desenvolver vacinas contra o vírus.
— Uma vacina precisa incorporar fragmentos de diferentes subtipos, para ser eficaz. Nisso, é importante o reconhecimento de novos subtipos — avalia.
Segunda Hallal, ainda será necessário complementar o estudo, estabelecendo se este é um subtipo recombinante (uma mistura de subtipos já existentes) ou um novo subtipo de fato. A análise de subtipos permite entender as cadeias de transmissão, que são diferentes em cada região do mundo — enquanto o responsável pelas epidemias de aids em países da África e na Índia é o subtipo C, o mais comum no Brasil é o subtipo B, por exemplo, que tem grande circulação também em países da Europa.
Amilcar Tanuri, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) especialista em HIV-1, diversidade genética e subtipos de HIV, afirma que a descoberta impacta na vida do cidadão comum no que diz respeito à segurança dos testes diagnósticos.
— Temos que ver se os testes pegam esses subtipos, já que eles circulam no mundo. E também se este novo subtipo já carrega mutações de resistência aos antirretrovirais — explica.
Mary Rodgers, chefe do Programa Global de Vigilância Viral da Abbott, contou, em um vídeo divulgado para a imprensa, que o laboratório tem um extenso repositório com amostras de sangue coletadas ao longo dos últimos 25 anos. Em parceria com hospitais e bancos de sangue, eles já somam mais de 78 mil amostras infectadas com HIV e hepatite, provenientes de 45 países.
— Descobrir um novo subtipo é realmente o primeiro passo. Nós confirmamos que ele existe e compartilhamos seu sequenciamento genético com a comunidade que pesquisa o vírus. Isso permite a todos avaliarem como isso impacta testes diagnósticos, tratamentos e potenciais vacinas — disse Mary.
O vírus
Dividido em dois grandes tipos, o vírus é classificado como HIV-1 e HIV-2, que são diferentes, porém da mesma família. O primeiro teve origem em chimpanzés e foi transmitido para o homem pelo contato com sangue contaminado através de arranhões, mordidas e consumo de carne.
Dentro do HIV-1, há quatro grandes grupos: M, N, O e P. O Grupo M teve origem na República Democrática do Congo e conta com diversos subtipos que podem se recombinar e formar outras 50 variações.
Não tão comum, o Grupo N é mais prevalente em Camarões. O Grupo O era mais comum no oeste e no centro da África, mas tem se espalhado por outras regiões do globo. Já o Grupo P, dizem os pesquisadores, foi identificado em Camarões e na França, porém tem potencial para se dispersar para outras áreas.
Enquanto isso, o HIV-2 é originário de um macaco encontrado na África. Ele é menos comum e fica mais restrito ao oeste africano.