Uma grande tela na parede e um computador, localizados no posto central do sexto andar do Hospital da Criança Santo Antônio mostram o quadro clínico dos mais de 1.100 pacientes da instituição e do Hospital Santa Rita, ambos do Complexo Hospitalar Santa Casa, em Porto Alegre. Ali estão as informações analisadas a cada 3,8 segundos pela Robô Laura, uma plataforma inédita no Rio Grande do Sul que começou a operar nesta quinta-feira (27).
A tecnologia, que usa Inteligência Artificial, conta com 263 processadores trabalhando em tempo real para identificar, antecipadamente, os pacientes em risco ou nas circunstâncias de desenvolverem infecção generalizada, a sepse.
Um estudo organizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Instituto Latino Americano de Sepse (Ilas), divulgado em 2017, revelou que a cada ano morrem mais de 230 mil pacientes adultos nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI’s) em decorrência da doença. A estimativa é de que 55,7% dos pacientes internados com sepse morrem.
A filha do paranaense Jac Fressatto, analista de sistema e criador da plataforma, faleceu com apenas 18 dias de vida em decorrência de sepse em 2010. O luto serviu de motor para que ele criasse a ferramenta, relembra Fressato.
— Fiquei dois anos estudando os processos médicos hospitalares. Em 2012, comecei a estudar a viabilidade técnica da Laura em 2015 ela ficou pronta. Hoje estamos presentes em seis hospitais espalhados pelo Brasil — diz o analista de sistema.
Menos tempo para diagnóstico
Esta espécie de central de monitoramento constante funciona de maneira integrada ao sistema do hospital no qual ela está inserida. O software lê os dados clínicos dos pacientes disponibilizados nos prontuários eletrônicos do hospital. A partir daí, já é feita a análise deste material em tempo real. A plataforma compara os dados coletados com o histórico de atendimento que ela tem armazenado e, então, valida e emite em uma grande tela o alerta de que determinado paciente apresenta maior propensão de desenvolver sepse.
Para Teresa Sukiennik, chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar da Santa Casa, a plataforma traz benefícios para médicos e pacientes.
— Será bom para os médicos, porque vamos receber um aviso bem precoce da deterioração clínica dos pacientes. Mas o principal beneficiado é o próprio paciente que terá seu quadro estabilizado, reduzindo muito o índice de óbito — avalia Teresa.
O diretor Médico da Santa Casa, Antonio Kalil, faz coro à afirmação:
— Laura vai nos auxiliar a reduzir o tempo que se gasta para fazer o diagnóstico de sepse. A expectativa é de que ele caia de 13 horas para duas. E, quanto mais precoce é iniciado o tratamento com antibióticos, maior a chance de recuperação e evolução positiva da pessoa.
Todo Complexo Santa Casa contará com a plataforma até o final de 2020
Atualmente, o serviço está disponível para os hospitais da Criança Santo Antônio e Santa Rita, mas a expectativa é de que todo o complexo possa contar com as análises de Laura até o final de 2020. O treinamento para o uso da tecnologia é rápido, tem duração de, aproximadamente, uma hora. Ele foi ministrado, em um primeiro momento, a um grupo de sete médicos que compartilharão o que foi aprendido com os demais colegas.
A aproximação entre a Santa Casa e entre a startup Laura se deu por meio da chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar da instituição. Ela soube do projeto e em parceria com a Techtools, empresa responsável pela gestão do Programa de Aceleração do Centro de Inovação da Santa Casa, conseguiu implantá-la na entidade. O hospital conseguiu um patrocínio por meio do programa Techmerge (da Corporação Financeira Internacional, ligada ao Banco Mundial) que bancou o investimento de R$ 32 mil para a instalação do sistema e a manutenção mensal que varia entre R$ 4 e R$ 7 mil pelo período de dois anos.
Fiquei dois anos estudando os processos médicos hospitalares. Em 2012, comecei a estudar a viabilidade técnica da Laura em 2015 ela ficou pronta. Hoje estamos presentes em seis hospitais espalhados pelo Brasil.
JAC FRESSATTO
Analista de sistema e criador da plataforma
Kalil ressalta que esta solução tecnológica, além de auxiliar os pacientes, ajudará o hospital a reduzir os gastos com pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
— O tempo de internação delas cairá drasticamente e a curva de despesas da instituição também. Temos ainda a questão de otimização das equipes, que serão alocadas conforme surgem casos mais urgentes e que exigem maior atenção. Esta tecnologia nos permite a otimização de recursos humanos e financeiros — afirma o diretor Médico da Santa Casa
Para Fressatto, Laura vem para trazer o aprimorar o atendimento ao público.
— A medicina é um produto tecnológico. Ela precisa da tecnologia. Os remédios, os equipamentos usados na área são exemplos disto. É chegada a hora de uma pegar na mão da outra para atingirmos a evolução necessária — diz o analista de sistema.
Como funciona
- A Robô Laura é integrada ao sistema interno do hospital.
- A plataforma lê os dados clínicos dos pacientes nos prontuários eletrônicos.
- Em tempo real, ela realiza a análise deste material. E, a cada 3.8 segundos, o quadro de cada paciente é atualizado.
- Caso uma destas análises apresente resultado alterado, é emitido um alerta na tela para que a equipe médica do setor se encaminhe diretamente ao quarto do paciente.