Os sucessivos escândalos relacionados ao vazamento de dados privados de usuários parecem não abalar a confiança do Facebook. Antes de apresentar soluções claras para os rombos na segurança da plataforma, a companhia promete o lançamento de produtos que mexem com informações sensíveis de chats como Messenger e WhatsApp.
A novidade da vez é a criptomoeda libra, que, conforme o anúncio da empresa, poderá ser utilizada para realizar transferência de dinheiro digital bem como o pagamento de produtos ou serviços. A nova moeda digital, anunciada na semana passada, deve entrar em circulação no início de 2020.
No "whitepaper", documento que detalha informações sobre a tecnologia aplicada no desenvolvimento desta criptomoeda – divulgado pela própria Libra –, foi informado que será usada a tecnologia de blockchain (de registro coletivo e descentralizado, permite que diversas pessoas tenham acesso) e que a moeda será fundamentada em fundo de ativos e moedas estáveis, entretanto, não foram especificados quais seriam eles.
O que foi explicado é que a iniciativa é uma parceria de 28 empresas espalhadas pelo mundo e que cada uma delas teve de investir US$ 10 milhões para fazer parte do seleto grupo. Entre as companhias que integram esta organização, chamada de Libra Association, estão Mastercard, Visa, Booking, Uber e Spotify – esta última empresa teve acesso a mensagens privadas de usuários do Facebook que ativaram a integração entre o serviço de música e a rede de Mark Zuckerberg. O vazamento foi, inclusive, reconhecido pela rede social em dezembro de 2018.
Segundo o post publicado por Mark em seu perfil no Facebook, a Libra facilitará a vida de indivíduos que não têm acesso a bancos tradicionais ou a serviços financeiros, mas que têm em mãos um smartphone.
"Queremos facilitar a todos enviar e receber dinheiro, assim como você usa nossos aplicativos para compartilhar instantaneamente mensagens e fotos. Para ativar isso, o Facebook também está lançando uma subsidiária independente chamada Calibra que vai construir serviços que te permitem enviar, gastar e salvar libra. Começando com uma carteira digital que estará disponível no WhatsApp e mo Messenger e como um aplicativo autônomo no próximo ano", disse o CEO do Facebook.
Ele afirmou ainda que as informações compartilhadas com o Calibra serão mantidas separadas das informações da rede social. Ou seja, é prometido que dados de transação dos usuários não serão usados para segmentar anúncios, classificar feed de notícias etc. Além disso, a transferência de dinheiro deve ser feita por meio de cobranças de taxas baixas ou com isenção, no caso de países que realizam muitas transações internacionais.
Porém, a novidade vai além da transferência de dinheiro entre pessoas por meio de aplicativos de mensagens. Com a implantação desta moeda, o Facebook retém ainda mais o capital de anunciantes interessados em aumentar suas vendas online. Isso porque, na prática, a Libra vai catapultar o comércio dentro das plataformas controladas por Zuckerberg. Já que aqueles que dispuserem desta criptomoeda em suas contas terão o processo de compra de um produto facilitado no momento em que clicam no anúncio desejado quando estiverem lendo o feed de notícias.
Agências reguladoras veem o projeto com preocupação
A novidade que deve chegar no mercado financeiro somente no ano que vem já deixa em alerta agências reguladoras, políticos e bancos dos Estados Unidos e da Europa. Um problema decorrente do anonimato das transações via blockchain é o interesse que esta moeda pode causar em pessoas envolvidas com crimes, lavagem de dinheiro, sonegação de impostos etc.
Chefe da Autoridade de Conduta Financeira da Inglaterra, Andrew Bailey afirmou que eles estão trabalhando com o Tesouro do Reino Unido e o Banco da Inglaterra para monitorar os planos do Facebook, segundo o jornal inglês The Guardian.
— Teremos que nos engajar nacional e internacionalmente, com o Facebook e essa outra organização (Libra). Eles não vão passar por uma autorização sem isso — disse Bailey.
A congressista democrata Maxine Waters ressaltou ao portal de notícias BBC os vazamentos de dados que envolvem a empresa e solicitou que os executivos da companhia testemunhem no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA.
— Devido ao passado conturbado da empresa, estou solicitando que o Facebook concorde com uma moratória sobre qualquer avanço no desenvolvimento de uma moeda criptografada até que o Congresso e os reguladores tenham a oportunidade de examinar essas questões e tomar medidas — disse Maxine.
Já Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (FED), o banco central dos Estados Unidos, afirmou à agência de notícias AFP, nesta terça-feira (25), que o projeto de criptomoeda do Facebook exigirá uma vigilância "muito de perto" devido a seu "possível alcance".
— Acho que nossas expectativas de uma perspectiva de proteção do consumidor, de uma perspectiva regulatória, vão ser muito, muito altas — sentenciou Powell.