Um dos mais conhecidos investidores em tecnologia do mundo, Roger McNamee escreveu um artigo que foi capa da edição impressa da revista norte-americana Time desta semana. No ensaio, ele afirmou que o Google, a Amazon e, principalmente, o Facebook prejudicam os consumidores, a economia e a democracia ao manipular os usuários e ignorarem os prejuízos que causam na sociedade em prol do próprio sucesso financeiro.
McNamee relata que entrou para o Facebook há 10 anos, como acionista, e era uma pessoa orgulhosa das posições que a companhia estava galgando no mercado, mas que tudo isso caiu por terra meses atrás com o escândalo da venda de dados de usuários da plataforma a empresas como Spotify e Microsoft e com a suposta manipulação da opinião pública, como no caso do referendo que decidia a saída do Reino Unido da União Europeia. Apesar de deter ações na companhia, ele afirma que sua crítica é uma questão de princípios.
— Me tornei um ativista, porque fui um dos primeiros a ver a catástrofe acontecendo, e minha história com a companhia me fez uma voz com credibilidade. Essa é uma história sobre a minha jornada. Sobre poder. Sobre privilégio. Sobre confiança e come ela pode ser abusada — escreveu o investidor.
Em uma das passagens do artigo, ele diz que o sucesso alcançado pela rede social a levou ao caos. O modelo de negócio calcado na publicidade requer a atenção dos usuários para que eles visualizem mais anúncios. O problema, observa ele, é que, para chamar a atenção de alguém, acaba-se apelando para a indignação e o medo, ou seja, as emoções aumentam o engajamento das pessoas. Os algoritmos do Facebook oferecem aos indivíduos aquilo que eles seguem, querem e acreditam e isso foi bom para os resultados da companhia, mas aumentou a polarização política e prejudicou a democracia, afirma McNamee.
Democracia fragilizada
No texto, é relatado que o Facebook aperfeiçoou seus métodos de hackeamento, o que permitiu com que a plataforma conseguisse monetizar as centenas de dados que as pessoas geram a cada interação, post e foto publicada.
— Cada ação realizada por um usuário deu ao Facebook uma melhor compreensão sobre ele – e dos amigos dele – permitindo que a empresa fizesse pequenas “melhorias” na experiência de navegabilidade todos os dias, o que equivalia a manipular a atenção dos usuários. Qualquer anunciante poderia comprar acesso a essa atenção — pontuou o investidor
Ele disparou ainda que o sucesso perturbou a percepção de realidade dos funcionários do Facebook e que eles não imaginam que a disseminação de informação falsa, o discurso de ódio e a polarização ideológica podem estar conectados ao modelo de negócio e decisões tomadas pela companhia.
— No Facebook, informação e desinformação parecem a mesma coisa; a única diferença é que a segunda gera dinheiro, então, recebe melhor tratamento. (...) O Facebook — juntamente com o Google e o Twitter — minou a imprensa livre de dois modos: corroeu a economia do jornalismo e, em seguida, sobrecarregou-a com desinformação — disse o empresário.
Privacidade e vício nas redes sociais
McNamee pediu proteção rigorosa em relação aos dados, destacou que os usuários precisam ter controle sobre seus próprios dados, saber como eles são usados, bem como os nomes das empresas e pessoas que conseguem acesso a essas informações. Ele também pediu atenção ao crescente fenômeno do vício em tecnologia como um problema de saúde pública.
— Essas recomendações parecem extremas, mas pode não haver outra forma de proteger crianças, adultos, democracia e economia. Nossos pais e avós tiveram um dia semelhante de contas com o tabaco. Agora é nossa vez, desta vez com plataformas na internet — finalizou McNamee.