Normalmente, não relaciono minhas colunas às campanhas de saúde, mas acho que o Mês da Conscientização do Câncer Colorretal, em março, é importante demais para ser ignorado. Há muita gente que morre dessa doença evitável porque deixa de fazer exames, incluindo muitas pessoas que não têm a desculpa da ignorância, da falta de seguro-saúde ou do acesso precário a serviços médicos.
E, como mostra a experiência de Joy Ginsburg, até mesmo alguns médicos precisam ser incentivados a solicitar os exames de seus pacientes. Ginsburg, de Leawood, Kansas, nos Estados Unidos, onde é diretora-executiva de uma organização que levanta fundos para a educação pública, tinha 48 anos quando seu médico sugeriu uma colonoscopia.
Mas o gastroenterologista que ela consultou em seguida relutou em fazer o exame. "Ele fez piada. Eu tinha menos de 50 anos, e não havia sintoma, fator de risco ou histórico familiar de câncer de cólon."
Porém, Ginsburg sabia que, no ano anterior, a Sociedade Americana do Câncer havia diminuído a idade recomendada para o início dos exames – de 50 para 45 –, e insistiu. Por sorte. Um grande pólipo pré-cancerígeno, do tamanho de uma bola de golfe, foi encontrado, exigindo remoção cirúrgica, além de 40 por cento de seu cólon.
— Se eu tivesse esperado para fazer o exame aos 50 anos, minha história seria bem diferente. Agora, aconselho a todo mundo que faça o exame. Passar por uma colonoscopia é muito mais fácil que tratar o câncer.
Cinco anos atrás, a Sociedade Americana do Câncer e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças estabeleceram a Mesa de Debates Nacional do Câncer Colorretal, visando conseguir que 80% dos americanos entre 50 e 75 anos fizessem exames para câncer de colo e reto, por qualquer método aceito, até 2018. Na época, apenas cerca de 65% das pessoas do grupo etário específico haviam sido examinadas.
Agora, com o câncer colorretal sendo cada vez mais encontrado em adultos mais jovens, há a necessidade de examinar outros milhões de pessoas em todas as comunidades dos EUA. A meta atual é examinar ao menos 80% dos habitantes entre 45 e 75 anos usando um método aprovado. Mais de 1.800 organizações comunitárias já se prontificaram a ajudar na realização desse intento.
— Não estamos exigindo que todos façam uma colonoscopia, mesmo sendo esse o método padrão de detecção e prevenção do câncer de cólon — disse o dr. Richard C. Wender, responsável pelo departamento de controle do câncer da Sociedade Americana do Câncer.
— Muita gente não quer fazê-lo, algumas não têm condições financeiras para tal e, às vezes, ele nem é oferecido.
Setenta e cinco por cento das pessoas que não haviam sido examinadas no começo da campanha, cinco anos atrás, tinham plano de saúde, muitas por intermédio de seus empregadores.
RICHARD C. WENDER
membro da Sociedade Americana do Câncer
Mas a questão financeira nem sempre é um empecilho, disse Wender.
— Setenta e cinco por cento das pessoas que não haviam sido examinadas no começo da campanha, cinco anos atrás, tinham plano de saúde, muitas por intermédio de seus empregadores.
Outras questões incluem a decisão de alguns de "não fazer exames ao chegar à idade apropriada", disse o médico.
— Em 2016, apenas cerca de 49 por cento dos adultos entre 50 e 54 anos haviam sido examinados.
Outro obstáculo é que, geralmente, as pessoas vão ao médico apenas quando estão doentes. Elas não buscam tratamentos preventivos, disse Wender, e seus médicos têm a mesma atitude.
O modo como o sistema médico americano está organizado é mais um obstáculo. A consulta típica inclui mais diagnóstico e tratamento, deixando pouco tempo para a prevenção. Em comparação, no sistema Kaiser Permanente, que tem um poderoso incentivo financeiro para manter seus membros saudáveis, 80% deles – e 90% dos afiliados ao Medicare – já fizeram exame de câncer colorretal.
O câncer colorretal é a segunda maior causa de morte por câncer nos EUA, com mais de 51 mil pessoas podendo morrer da doença este ano. Mesmo com a diminuição da taxa de mortalidade nas últimas décadas, especialmente graças ao crescimento dos diagnósticos e remoções de pólipos pré-cancerígenos, as mortes entre pessoas com menos de 55 anos aumentaram um por cento ao ano desde 2007. Isso mostra como é importante encorajar o exame na meia-idade.
Exames disponíveis atualmente:
- Colonoscopia
Apesar de ser o exame mais caro e invasivo, é o melhor, não apenas porque pode descobrir um câncer já existente, mas porque pode também detectar pólipos que possivelmente virariam câncer e que podem ser removidos durante o procedimento. Uma câmera é usada, e é preciso esvaziar completamente o intestino antes do exame, algo que não agrada a muita gente. Mas para aqueles que não apresentam fatores de risco ou histórico familiar de pólipos ou câncer colorretal, ele é feito apenas uma vez a cada dez anos. - Exame Fecal Imunoquímico (FIT)
Esse exame imunológico busca sangue em um exame de fezes, um possível sinal de câncer. Normalmente, não detecta pólipos, por isso não é preventivo, mas é mais eficiente que o antigo exame de sangue oculto nas fezes. - DNA no FIT
Esse exame, normalmente feito a cada três anos, combina o FIT com marcadores anormais de DNA nas fezes, por isso é melhor para detectar um câncer e pólipos pré-cancerígenos avançados. Não detecta cerca de metade dos pólipos pré-cancerígenos. - Colonoscopia virtual
Esse é um estudo de imagens feito a cada cinco anos por tomografia computadorizada e, como a colonoscopia, exige limpeza prévia do intestino. Ele visualiza o cólon inteiro, mas, se algo anormal for detectado, é necessária uma segunda preparação para a colonoscopia regular. - Teste de septina 9
Esse é um exame de sangue que, embora mais conveniente e menos desagradável que um exame de fezes, tem apenas metade da eficácia de um FIT na detecção do câncer e não mostra lesões pré-cancerígenas.
Tão importante quanto um exame para a detecção de câncer colorretal é a necessidade de evitar fatores de risco que as pessoas podem controlar. Isso inclui o sobrepeso e o sedentarismo, fumo, consumo de álcool e consumo excessivo de carnes vermelhas e processadas.
Fatores de risco inevitáveis incluem o envelhecimento, doenças intestinais inflamatórias (colite ulcerativa e doença de Crohn) e parentes próximos (pais ou irmãos) que tiveram câncer colorretal ou pólipos adenomatosos, ou uma síndrome, como a de Lynch, ou polipose familiar. Os médicos podem aconselhar pacientes com esses fatores de risco a fazer exames de dois em dois anos.
*Por Jane E. Brody