No Rio Grande do Sul, segundo a Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos, pelo menos 16 instituições enfrentam restrição de atendimento. Estes 16 hospitais são referência de atendimento para 259 municípios – sem levar em conta os 156 municípios que têm como referência o Hospital de Pronto Socorro de Canoas, que está com atendimento restrito há duas semanas. Ou seja, mais da metade do Estado já sente o reflexo da crise.
Atual secretário de Saúde do Estado, Francisco Paz não dá previsão de repasse para os hospitais e comenta como a crise financeira e o déficit da saúde se agravou nos últimos meses. Veja a entrevista a GaúchaZH:
Há previsão de fazer repasse de recursos aos hospitais até o final do ano?
Estamos nos organizando para fazer um ou dois pagamentos. Hoje à tarde (ontem), vou discutir com a Fazenda e colocaremos os hospitais em primeiro lugar. Achamos que será possível dar algum pagamento. Mas não tenho data nem quantidade.
De todos os 16 hospitais que estão com restrição de atendimento, quais deles mais lhe preocupam?
Não recebemos notificação de todos os hospitais que estão com restrição. Muitos desses 16 vinham cronicamente com problemas de gestão e agora agonizam. Temos 230 hospitais filantrópicos que têm contratos conosco, a parcela que suspendeu atendimentos até agora é pequena.
Qual será o tamanho da dívida que o governador eleito, Eduardo Leite, terá em janeiro de 2019 com a saúde?
Não tenho ideia. Essa dívida vem sendo administrada desde 2015. Já recebemos o governo com R$ 463 milhões em dívidas (R$ 255 aos hospitais e R$ 208 aos municípios) e viemos amortizando ao longo do tempo.
O que agravou a situação?
A arrecadação vem caindo desde junho, e tudo se agravou. Vivemos uma crise similar a que aconteceu na mudança do governo anterior. Acredito que vamos conseguir suavizá-la um pouco. Possivelmente, vamos entregar a dívida perto do que recebemos, em R$ 500 milhões.
A Secretaria de Saúde opera com déficit porque gasta mais do que o próprio orçamento. Como reavaliar isso?
O orçamento da saúde, quando assumimos, em 2015, era de R$ 990 milhões, e os compromissos de pagamento ultrapassavam em R$ 600 milhões este número. Tomamos uma série de medidas para reduzir essa diferença, mas a demanda de atendimentos continuou crescendo, a inflação médica também, a crise levou as pessoas a saírem dos planos de saúde e a voltarem ao SUS. Ainda tem o recurso federal que entra com defasagem de R$ 20 milhões todos os meses e o Tesouro do Estado tem que cobrir.
O que mais atrapalhou esse cenário?
As dificuldades foram constantes em quatro anos. Tivemos que reduzir contratos, conter despesas, tudo dentro do limite. Na realidade, o que nos atrapalhou foi a crise econômica do Estado e do país porque a arrecadação não cresce. Nosso SUS hoje está numa situação crítica.