A menina que voltou à vida após ser declarada morta ao nascer no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) passou por mais uma cirurgia nesta terça-feira (16). Bianca Vitória Silbershlach Cézar, um ano e oito meses, foi submetida a sua 26ª operação, a segunda realizada no Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre, onde está internada desde 21 de setembro. De acordo com o neurocirurgião pediátrico Antônio André Bedin, a cirurgia de alta complexidade chamada terceiro-ventriculostomia endoscópica (TVE) — uma comunicação feita entre dois espaços ventriculares, que auxilia no tratamento da hidrocefalia sem o uso de um dreno na cabeça — foi finalizada depois de três horas. Até o início da noite, Bianca permanecia em observação na CTI do hospital e já estava acordada.
Bianca sofre de microcefalia (o cérebro é menor do que o normal) e hidrocefalia (há acúmulo de líquido no crânio, impedindo o desenvolvimento cerebral). Para retirar o excesso de líquido (liquor), a menina teve, mais de uma vez, de passar pela colocação de drenos que desviavam o liquor da cabeça para outro lugar do corpo, em geral o abdômen. Devido a complicações, foi preciso encontrar outro local para receber o líquido que saía do cérebro. A opção escolhida foi drená-lo para o átrio, no coração, onde Bianca acabou desenvolvendo uma infecção (endocardite) com uma lesão, chamada de vegetação – foco da operação inicial conduzida por profissionais do Santo Antônio, em 25 de setembro. Naquele dia, a vegetação foi removida, e o dreno, reposicionado na cabeça, expelindo liquor para o meio externo, uma solução provisória até que a infecção fosse completamente curada.
A intervenção da tarde desta terça-feira deu continuidade à primeira operação conduzida em Porto Alegre. Segundo o neurocirurgião pediátrico, Bianca foi submetida a uma craniotomia (cirurgia em que um retalho ósseo é temporariamente removido para acessar o cérebro) na região frontal direita do crânio para a equipe médica conseguir chegar até o terceiro ventrículo. Foi feita uma perfuração de 1,5cm de diâmetro, por onde o endoscópio foi introduzido no cérebro. A meta da cirurgia foi restabelecer a comunicação entre o sistema ventricular e as cisternas basais do cérebro.
— Com este novo trânsito, restabelecemos o fluxo natural do liquor, e Bianca não precisará de uma válvula de derivação na cabeça. É um tratamento definitivo. Se até a próxima quinta-feira ela não apresentar dificuldades para se adaptar a esta nova comunicação, retiraremos o dreno que, por enquanto, ficará fechado — explica Bedin, que já planeja dar alta à menina no próximo final de semana.
O caso de Bianca ganhou notoriedade há algumas semanas, quando os pais dela, a dona de casa Tieli Martins Silbershlach, 32 anos, e o borracheiro Marcos Renato dos Santos Cézar, 31, resolveram tornar público o episódio ocorrido em fevereiro de 2017 no Husm. Com pressão alta, Tieli passou por uma cesariana de emergência quando contava 34 semanas de gestação, e o óbito da criança, por parada cardíaca, foi atestado em seguida. De acordo com o Husm, foram tentadas as manobras de reanimação habituais pelo dobro do tempo previsto. O bebê foi encontrado horas depois, com vida, em uma área de descarte da instituição.
Na última quinta-feira (11), a Comissão de Análise de Óbitos e Biópsias e o Comitê de Ética do Husm tomaram o depoimento da equipe responsável pelo parto. Como conclusão, divulgou-se que não foram encontrados erros aparentes nos procedimentos de médicos e enfermeiros.
Tieli tem sido a companhia mais constante da filha no Santo Antônio, enquanto Marcos fica entre Porto Alegre e Santa Maria para conseguir tocar o negócio da família. Bianca apresenta uma série de problemas de desenvolvimento.
— É uma rotina bem cansativa, bem estressante. A gente está sempre na esperança de que seja a última cirurgia — disse Tieli, enquanto aguardava a conclusão da 26ª operação.