Transferida para Porto Alegre na última sexta-feira (21), Bianca Vitória Silbershlach Cézar, um ano e sete meses, que teve o óbito declarado ao nascer e depois foi encontrada com vida no setor de descarte do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), submeteu-se a uma cirurgia delicada e de alta complexidade, envolvendo o cérebro e o coração, nesta terça-feira (25), no Hospital da Criança Santo Antônio. A operação, iniciada às 10h e concluída às 14h, foi considerada exitosa pela equipe médica. Conforme a assessoria de imprensa do Complexo Hospitalar Santa Casa, de Porto Alegre, Bianca está estável, recuperando-se bem na UTI.
A dona de casa Tieli Martins Silbershlach, 32 anos, mãe da menina, enfrentou uma gravidez de risco por conta de pressão alta e passou por uma cesariana de emergência em fevereiro de 2017. De acordo com o Husm, o bebê, prematuro de 34 semanas, nasceu em parada cardíaca, passou por manobras de reanimação e acabou sendo considerado natimorto pelo obstetra. Mais tarde, uma enfermeira que passava pelo setor de descarte percebeu que a criança ainda respirava. Tieli e o marido, o borracheiro Marcos Renato dos Santos Cézar, 31 anos, resolveram trazer o drama particular a público agora para tentar salvar a vida de Bianca mais uma vez.
— O caso dela é muito grave. Se ela continuasse lá (em Santa Maria), ela viria a óbito — lamentou Tieli em entrevista a GaúchaZH na véspera da operação.
Bianca sofre de microcefalia (quando o cérebro é menor do que o normal) e hidrocefalia (há acúmulo de líquido no crânio, impedindo o desenvolvimento cerebral), condições que podem surgir ainda durante a gestação ou por problemas após o parto. Para retirar o excesso de líquido (liquor), a menina teve, mais de uma vez, de passar pela colocação de drenos que desviavam o liquor da cabeça para outro lugar do corpo, em geral o abdômen.
Devido a complicações, foi preciso encontrar outro local para receber o líquido que saía do cérebro – a opção escolhida foi drená-lo para o átrio, dentro do coração, uma decisão que se evita devido ao risco mais elevado envolvido. Bianca acabou desenvolvendo uma infecção no coração (endocardite) com uma lesão, chamada de vegetação. O Husm não realiza cirurgias cardíacas, e a paciente foi encaminhada para a Capital.
Cerca de 10 profissionais estiveram envolvidos na cirurgia desta terça-feira. A primeira etapa ficou sob o comando de dois cirurgiões cardíacos pediátricos, que, com uma incisão no tórax da garota, removeram a vegetação e o dreno do coração, que estava infectado. Esta foi a etapa mais longa do procedimento. Na sequência, entraram em ação dois neurocirurgiões, que reposicionaram o dreno da cabeça. Até que o organismo de Bianca se recupere da infecção, o liquor será expelido para o meio externo, caindo em um sistema coletor. Trata-se de uma solução provisória pelo risco de complicações, explica Claudia Ricachinevsky, chefe das UTIs pediátricas do Santo Antônio:
— O líquido do cérebro tem que circular dentro do corpo, fechadinho, para não haver o risco de infectar.
Bianca está agora em um leito de UTI. As primeiras 48 horas após a cirurgia são consideradas o período mais crítico da recuperação.