Desde a tarde de 6 de fevereiro de 2017, o médico responsável pelo parto de Bianca Cézar, o obstetra Marcelo Lorensi Feltrin, assegura a quem comenta o assunto: fez o possível, diante da situação de alto risco em que se encontrava a mãe da menina, Tieli Martins Silberschcach. A gestante estava com pressão sanguínea altíssima (eclâmpsia) e o bebê apresentava sofrimento fetal, o que forçou um parto prematuro.
Feltrin diz que foi aconselhado pelo hospital e pelo seu advogado a não comentar o assunto e, por isso, não quis dar uma entrevista completa a respeito do episódio. Mas, ao ser procurado por GaúchaZH na manhã desta terça-feira (25), no seu consultório na área central de Santa Maria, ele deixou escapar um desabafo:
— A criança estava clinicamente morta quando nasceu. Infelizmente.
Feltrin não quis prolongar a conversa, mas ressaltou que as manobras de reanimação da menina não foram feitas por ele e, sim, por pediatras.
O advogado de Feltrin, Bruno Seligman de Menezes, confirma e salienta que Feltrin só assinou o atestado de óbito porque esse é o dever do obstetra, quando o bebê é natimorto (não sobrevive ao parto).
Porém, se estava morta, como Bianca sobreviveu e foi encontrada respirando, seis horas depois? A explicação estaria nas drogas químicas usadas para reanimar o bebê, que podem ter surtido efeito após declarado o óbito. Seligman considera que não houve omissão, sequer erro. Ele comenta que tanto seu cliente quanto os outros médicos foram excluídos do processo, com base numa regra que impede que pessoas físicas virem réus numa ação movida contra um ente administrativo (o Hospital Universitário de Santa Maria):
— O meu cliente foi chamado para uma cirurgia de urgência e agiu de forma correta. Fez o possível. Os pediatras também viram que a menina estava clinicamente morta, tanto que tentaram reanimá-la por 20 minutos, o dobro do tempo previsto no protocolo.
Seligman afirma que a criança foi deixada de lado, numa sala chamada descarte, justamente para evitar que os pais vissem algum espasmo involuntário, comum no pós-morte. Foi aí que uma enfermeira notou sinais vitais e chamou Feltrin e outros médicos.
Conforme relato dos prontuários, após alguma relutância, os médicos constataram que Bianca estava viva. GaúchaZH procurou a enfermeira que salvou Bianca. Ela não quis falar sobre o episódio. Tanto ela quanto Feltrin continuam trabalhando no Husm.