O Conselho Regional de Medicina (Cremers) ignorava a notícia de que a bebê Bianca Cézar foi declarada morta ao nascer em 6 de fevereiro de 2017, mas estava viva – algo que só foi constatado seis horas depois de ser preenchido o atestado de óbito.
O episódio aconteceu no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) e o conselho dos médicos vai abrir investigação ex-oficio, apenas baseada no que foi divulgado pela mídia. Isso porque jamais foi avisado do fato, nem da existência de processo judicial que busca responsabilidades sobre lesões graves que seriam resultantes do abandono da menina como se estivesse morta.
— Ficamos sabendo pela mídia, isso é inaceitável. A situação toda é inaceitável, aliás, o episódio em si e a falta de divulgação dele. Mas não posso me apressar em julgar ninguém —comenta o médico João Alberto Laranjeiras, delegado-substituto do Cremers em Santa Maria e integrante do Comitê de Ética do Hospital Universitário (onde ele também trabalha).
Laranjeiras adianta que o Comitê de Ética do Husm deve se reunir nesta quinta-feira (27) para analisar os prontuários médicos do parto de Bianca, fruto de uma gestação de risco. Ele estranha que a comissão técnica do Husm não tenha informado sobre o episódio da menina, que só não foi sepultada porque uma enfermeira desconfiou que ela estivesse viva (o relato foi tema de diversas reportagens de GaúchaZH esta semana).
— Qualquer possibilidade de erro causada por negligência, imperícia ou imprudência médica deve ser comunicada à Comissão de Ética do hospital e isso não foi feito. Independe de inquérito policial ou processo judicial, que inclusive existem nesse caso – pondera Laranjeiras.
A direção do Husm diz que a sindicância interna do hospital não foi finalizada e que, por isso, o Comitê de Ética não foi avisado.
O conselheiro do Cremers acredita que, na próxima semana, o Comitê de Ética deve tomar depoimento dos médicos envolvidos no parto e das enfermeiras, inclusive a que viu que a criança estava viva.