A sindicância aberta pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) a respeito da morte e da ressurreição de Bianca Vitória Silbershlach Cézar, um ano e sete meses, tramita desde o início de 2017, sem conclusões. Faltam perícias e depoimentos, relata Elaine Resener, superintendente do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), na região central do Estado. Os envolvidos são passíveis de demissão do serviço público.
Elaine entende do assunto e conhece os envolvidos. Ela é doutora em ginecologia e obstetrícia, professora e atuou 30 anos em partos no Husm, antes de assumir cargo diretivo. Nesta entrevista, ela fala do caso:
Como está a investigação sobre a morte e a ressurreição de Bianca?
É um fato excepcional. Nunca tivemos um caso como esse. Até por isso, vamos apurar todos os fatos, do ponto de vista técnico e científico, como pode ter acontecido, da responsabilidade dos profissionais, da estrutura do Centro Obstétrico, da superlotação permanente. Somos única referência para gestantes de alto risco em 45 municípios. A lotação dos 10 leitos para esse tipo de caso, no Husm, chega a 200% da capacidade instalada. Tem espera de gestante em cadeira. E a equipe é a mesma, inclusive nos momentos de pico. Isso, por si só, não justifica, mas ajuda a entender o cenário. São situações que comprometem a segurança do atendimento.
No caso específico, foi feita ressuscitação.
Sim. Ela nasceu em parada cardíaca, o que consideramos natimorto. Foi reanimada por um tempo, que eu soube, além do protocolar. Tentaram todas as manobras pelo dobro do tempo do protocolo da Sociedade Brasileira de Pediatria e Neonatologia. Aí chegou um momento em que foi atestado o óbito. Quem deu é o obstetra. Nossa equipe é qualificada, credenciada pela Sociedade Brasileira de Pediatria para dar cursos de capacitação de reanimação neonatal. Isso é importante. Estou tranquila que todas as manobras foram tentadas.
Mas e por que a menina voltou a respirar e não se constatou que estava viva?
Vamos buscar as evidências científicas. Existem casos em que a quantidade de drogas (medicamentos, como adrenalina e atropina) injetadas no bebê, para reanimação cardíaca, fazem efeito só depois. Ela pode apresentar movimentos só depois. Como era verão e estava quente, ela sobreviveu. Foram tomadas todas as medidas do ponto de vista técnico. Ela, desde então, tem recebido todo atendimento laboratorial e de cirurgias passíveis de serem feitas no hospital.
Como a senhora vê o fato dos pais estarem processando o hospital?
É uma atitude normal, não nos compete julgar. Temos é de ver quais as responsabilidades e o que é passível de implementar para evitar esses fatos. Temos comissão de mortalidade materna e de mortalidade neonatal. Vamos apurar todos os fatos e daremos as respostas que a família merece. Se constatada omissão de algum profissional, isso vai para um processo administrativo, eles responderão como funcionários públicos. Esse bebê, infelizmente, tem muitos problemas graves que não estão relacionados ao parto, nem à reanimação. Inclusive o cerebral, mas por ética não posso aprofundar. São malformações desenvolvidas durante a gestação.
A equipe médica continua trabalhando?
Sim. A sindicância não foi finalizada. E eles são funcionários do quadro, concursados.