Bianca Martins Cézar sobreviveu a mais uma maratona na luta pela vida nesta semana. Após uma espera de 15 dias, com uma infecção e um coágulo no coração, a menina de um ano e sete meses conseguiu assistência médica especializada no Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre. Uma vitória para quem foi declarada morta ao nascer pela equipe médica que a atendia, em Santa Maria. Desta vez, a criança foi deslocada de ambulância desde sua cidade natal, na madrugada de sexta-feira (21), e, após chegar, aguardou ainda 12 horas por um leito na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), onde está agora, à espera de nova cirurgia – a décima internação desde que nasceu, em fevereiro do ano passado.
Bianca, a sobrevivente, chama a atenção de todos por contrariar o destino. Ela teve atestado o seu óbito no mesmo dia em que nasceu, 6 de fevereiro de 2017, no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). Veio ao mundo por uma cesariana de emergência, prematura (com 34 semanas de gestação, pouco mais de sete meses), em meio a uma crise de pressão alta (eclâmpsia) da mãe, Tieli Martins Silberschcach. Conforme médicos relataram a Tieli e ao marido dela, Marcos Renato Cézar, a menina teve parada cardiorrespiratória.
Conforme o atestado de óbito, as causas da morte foram "sofrimento fetal agudo, deslocamento prematuro de placenta e hipertensão gestacional". O óbito foi constatado às 13h28min e os pais, avisados. Cézar, debulhado em lágrimas, preocupava-se em como arranjar dinheiro para comprar o caixão para sepultar a filha quando foi avisado, por uma médica, que a menina estava viva. Foi uma correria para salvar a criança. Desde então, foram 38 consultas e nove internações no Husm.
- Desde que nasceu, ela passa mais tempo em hospital do que em casa - resume o pai de Bianca, Marcos Cézar, que, neste sábado (22), falou com GaúchaZH por telefone, desde a UTI do Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre, onde ambos aguardam a nona intervenção cirúrgica pós-parto na criança.
Bianca enfrentou nova maratona para conseguir essa vaga. O médico Fernando Lucchese, um dos diretores do Complexo Santa Casa (que abriga o Hospital Santo Antônio), recebeu um telefonema à 1h da madrugada do dia 21, solicitando a internação urgente da criança. Ela aguardava desde o dia 6 um local especializado em cirurgia do coração... e nada de conseguir. Todos os hospitais estavam superlotados.
- Ao telefone, atendi o prefeito de Santa Maria, Pozzobom, e o juiz federal João Osório, que portava uma antecipação de tutela (liminar) determinando a internação da Bianca. Mesmo com a ordem judicial, nenhum hospital conseguia vaga - recorda Lucchese.
O Hospital Santo Antônio também estava superlotado, com os 40 leitos da UTI ocupados. Existiam, antes de Bianca, prioridades para uma criança de Tocantins (com liminar judicial também) e três bebês de Porto Alegre. Lucchese disse que, após pesquisar prontuário por prontuário, descobriram uma criança que poderia ir para o quarto no dia 21. Isso foi providenciado e, só então, ele ligou de volta para a assessoria do juiz, confirmando vaga para Bianca. Após as 8h da manhã. Justo o tempo para ela viajar até Porto Alegre. Na realidade, ela só conseguiu a UTI 12 horas depois, mas agora a cirurgia está garantida. Ela faz exames preparatórios.
- Ela desenvolveu um coágulo no coração e uma endocardite (infecção no tecido cardíaco), provavelmente provocada por um cateter. O problema será corrigido - confia Lucchese.
O médico alerta, porém, que a criança tem outro dilema: paralisia cerebral severa, desencadeada após o parto.
O pai de Bianca confirma. Diz que há pouca esperança de reverter a paralisia cerebral da menina. A situação dramática de Bianca gera também preocupação financeira. Marcos Cézar é borracheiro, mas pouco tem conseguido ir ao serviço. A mulher dele, Tiele, era atendente numa padaria e largou o emprego para cuidar da bebê. Eles ainda têm outro filho, Marcos Henrique, de 11 anos.
A direção do Husm se manifestou por nota, dias atrás, a respeito do episódio. O relato é de que a bebê teve parada cardiorrespiratória e tudo foi feito para reanimá-la. Foi constatado óbito, mas um novo exame, horas depois, mostrou sinais vitais. Desde então toda assistência tem sido prestada a ela, conclui o estabelecimento.