Conhecida como a Terra da Longevidade, Veranópolis, município de 25 mil habitantes da serra gaúcha, dá início a mais um projeto que visa a melhoria da qualidade de vida de sua população idosa: a construção da sede do Instituto da Longevidade.
A estrutura centralizará as atividades do Instituto Moriguchi, cujos integrantes atuam há 24 anos no Projeto Veranópolis: Estudos em Envelhecimento, Longevidade e Qualidade de Vida. A iniciativa é pioneira em pesquisas sobre o envelhecimento no Brasil. Com a nova sede, a ser construída junto ao Hospital Comunitário São Peregrino Lazziozi, o atendimento de saúde ao público poderá ser ampliado.
A construção do prédio, anunciada em fevereiro, será custeada com R$ 1,5 milhão vindos do Ministério da Saúde (MS). No último sábado (30), às 10h30min, foi assinado o convênio entre município, hospital e instituto, com as obras se iniciando em julho. A responsável pelos trabalhos será a Associação Veranense de Assistência em Saúde (Avaes), que administra o hospital. Os recursos serão repassados pelo município em parcelas, conforme prestação de contas.
Segundo o administrador do hospital, Rogério Franklin da Silva, a previsão é de conclusão do novo prédio em 18 meses. A estrutura de 955 metros quadrados será mantida pela própria instituição que, como contrapartida, poderá usar o primeiro andar para a administração do hospital.
— Vamos colocar nesse espaço o setor administrativo, que hoje está espalhado. A "área nobre" do hospital vai ficar disponível para outros serviços, é bem provável que seja para a melhoria no acolhimento dos usuários, já que hoje não há um local adequado para as famílias (dos pacientes) — projeta.
Já o Instituto Moriguchi ganha um centro de pesquisas próprio. Hoje, as atividades da entidade tem de ser realizadas em áreas emprestadas na cidade, inclusive no próprio hospital.
— Fazemos pesquisas com informações a partir dos pacientes, da comunidade. Atendemos uma vez por mês as pessoas vinculadas ao projeto. Elas são avaliadas por uma equipe multidisciplinar, que confere as medicações, a alimentação, os exercícios. Tudo gratuito. Com a sede, pretendemos fazer esse atendimento com mais regularidade, em alguns dias por semana — explica a geriatra Berenice Werle, integrante do instituto.
A fama de Veranópolis como Terra da Longevidade começou durante a década de 1990, quando se constatou que o município tinha a maior expectativa média de vida ao nascer do Brasil. A métrica foi aproveitada pela prefeitura como atrativo turístico e também chamou a atenção do geriatra Emílio Moriguchi. O acesso a uma população expressiva com mais de 80 anos de idade foi um dos fatores que o motivou a iniciar a pesquisa sobre o tema.
Desde então, foram dezenas de dissertações, teses e artigos publicados em parceria com hospitais e universidades de todo o país. O esforço para entender o envelhecimento garantiu à Veranópolis certificação de Cidade Amiga do Idoso pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2016.
— Uma das coisas que esse projeto trouxe foi a aplicação de melhorias bem simples e estruturais no município para melhor atendimento aos idosos, como alguns tipos de calçada, um tipo de apoio diferente nos banheiros públicos, o acesso ao transporte público, à saúde. Essa é uma melhoria direta — comemora Berenice.
Para ter qualidade de vida, hábitos são tudo
As características de Veranópolis, que permitem o acompanhamento ao longo do tempo de uma mesma população, possibilitaram uma gama de pesquisas valiosas para a compreensão dos fatores que aumentam a longevidade das pessoas.
Conforme a nutricionista Neide Maria Bruscato, coordenadora operacional do Projeto Veranópolis, a iniciativa foi a primeira no país a empreender estudos de longevidade e será a primeira com sede própria. Ela elenca como projeto mais importante o estudo Causas Apontadas como Fatores da Longevidade, iniciado em 1994 com 242 idosos com idade a partir de 80 anos.
A pesquisadora revela que os hábitos das pessoas são fatores determinantes para viver mais. Em comparação com outros municípios, o estudo constatou que os níveis de estresses dos idosos são menores, a atividade física é mais intensa e o número de fumantes é menor do que em cidades maiores, por exemplo.
Outro fator determinante é o social. A vida em comunidade, segundo pesquisadores, é determinante para a longevidade.
— Há muitos mitos sobre o assunto. As pesquisas têm mostrado que o estilo de vida, em comunidade, com a presença da família, é extremamente importante para uma vida saudável — destaca o geriatra Emílio Moriguchi, fundador e coordenador geral do projeto.
Ele cita como exemplo uma pesquisa que analisa o envelhecimento das células em quatro gerações de pessoas das mesmas famílias, ainda em andamento, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS):
— Os trabalhos mostraram que quando convivem quatro gerações sobre o mesmo teto, as pessoas são mais longevas. A gente vem trabalhando muito nessa questão social. Hoje, quando a vida está muito mais individualizada, essa pesquisa mostra que o tempo de contato com as pessoas importa. Basicamente, o tempo de tela (uso de celular, computador) encurta a vida e o tempo (de contato) cara a cara, aumenta — conclui.
SEGREDOS DA LONGEVIDADE EM VERANÓPOLIS
- As pesquisas sobre envelhecimento populacional permitiram mapear alguns fatores que, acredita-se, contribuem para a longevidade dos habitantes de Veranópolis.
- Conforme a nutricionista Neide Maria Bruscato, os níveis de estresse dos idosos da cidade são menores.
- A atividade física é mais intensa, similar à praticada por pessoas adultas.
- Dados mostram que o número de fumantes é menor do que em cidades maiores, como Porto Alegre.
- Os idosos costumam fazer refeições regulares, garantindo uma nutrição saudável.
- Apesar de existirem riscos cardiovasculares na população idosa, como colesterol alto, diabetes e hipertensão, um estudo longitudinal que acompanhou a mortalidade dos idosos durante três anos não mostrou associação entre mortalidade e tais riscos.
- Investigações nutricionais mostraram que os idosos ingerem em média as quantidades de carboidratos, proteínas e gorduras que são indicadas pela OMS.
- Estudos feitos por psiquiatras, psicólogos e biólogos mostraram que a população de Veranópolis possui um alto grau de satisfação com a vida, sendo em geral alegre e ativa: religiosidade, convivência familiar e social são apontados como fatores determinantes.
A OBRA DA SEDE
- A sede do Instituto da Longevidade será construída junto ao Hospital Comunitário São Peregrino Lazziozi, na área que hoje é utilizada para estacionamento interno.
- Conforme o administrador da instituição, Rogério Franklin da Silva, será um prédio de dois andares, com 955 metros quadrados de área.
- O primeiro piso vai abrigar o setor administrativo do hospital e o segundo a sede do instituto, com entrada própria pela Rua Rui Barbosa.
- A verba de R$ 1,5 milhão foi disponibilizada pelo Ministério da Saúde e será liberada em cotas pela prefeitura.
- A manutenção do local ficará a cargo do hospital, mas os recursos humanos serão mantidos pelo Instituto Moriguchi. As verbas terão de ser captadas junto ao poder público e parceiros privados.
- O prédio deve ser concluído em 18 meses e vai permitir o atendimento ao público com acessibilidade e equipes multidisciplinares fixas.
O INSTITUTO
- O Projeto Veranópolis: Estudos em Envelhecimento, Longevidade e Qualidade de Vida" foi iniciado em 1994 pelo geriatra Emilio Moriguchi, pesquisador da UFRGS e da Unisinos e tem como apoiadores a Associação Veranense de Assistência em Saúde, mantenedora do Hospital Comunitário São Peregrino Lazziozi e a prefeitura do município.
- Há dois anos, foi fundado o Instituto Moriguchi para oficialização do grupo de pesquisa, que conta com cerca de 10 integrantes.
- O projeto conta com uma produção científica de 25 dissertações de mestrado, 11 teses de doutorado, 12 monografias, mais de 50 trabalhos apresentados em congressos, além de 19 artigos científicos publicados.