Mesmo diante de campanhas de conscientização, como o Outubro Rosa, o câncer de mama é o segundo tipo de tumor que mais mata mulheres no Brasil (o de pulmão ainda é o mais agressivo). O dado mais atualizado indica 57.960 novos casos da doença em 2017, ou 159 por dia. No Rio Grande do Sul, são 5.210. O índice de mortalidade nacional também cresceu: de 14.388 para 15.403. Há casos de câncer de mama em homens, mas a incidência é muito baixa. Os dados são do Instituto do Câncer (Inca).
Histórias Rosas
A servidora pública Juliana Kreling, 31 anos, descobriu em 2013 o câncer de mama ao fazer uma ecografia mamária de rotina.
— Tentei manter a minha vida o mais normal possível. Eu fazia quimioterapia nas segundas de tarde e trabalhava pela manhã. Aí eu trabalhava — relembra.
A bióloga Flávia Santos da Costa, 36, tinha histórico de câncer de mama da família – a mãe enfrentou a doença em 2014. Sentiu um nódulo na mama esquerda ao fazer o autoexame:
— A primeira suspeita foi em abril de 2016. No final de abril de 2016, eu já estava começando a quimioterapia.
A relações internacionais Maynara Orlandi, 25 anos, é um exemplo de superação. Ficou sabendo ainda grávida que estava com câncer:
— Foi no final da gravidez. Então, para mim, foi um misto de muitas coisas. Acabei tendo que marcar uma cesariana antes para poder começar o tratamento.
Juliana, Flávia e Maynara fazem parte de um grupo que vem crescendo: mulheres com menos de 40 anos e que foram diagnosticadas com câncer de mama. A preocupação dos médicos aumenta, já que o grupo de risco sempre foi a partir dos 40.
— E eu sei que isso é controverso, mas a recomendação mais segura é de que as pessoas consultem com seus médicos e comecem a considerar fazer mamografia ou uma avaliação anual a partir dos 40 ou 50 anos. Agora, para pacientes com um histórico familiar de câncer de mama, essa idade tem de ser mais cedo — ressalta o médico oncologista e diretor do Hospital do Câncer Mãe de Deus, Carlos Barrios.
No grupo mais vulnerável, está a médica-cirurgiã Luciana Zaffari. Aos 50 anos, também ficou sabendo do tumor num exame de rotina, há quatro anos. A primeira reação foi de susto. Mas nem por isso desistiu de lutar:
— Eu estou ótima. Eu brinco que eu sou antes do câncer e depois do câncer. Eu hoje faço tratamento com medicação, mas eu estou super bem. Faço os controles, a cada seis meses e faço os exames de prevenção e para acompanhar, mas estou super bem.
Durante o Carnaval passado, a servidora pública Maurea Dil Ferreira, 52 anos, detectou três nódulos nos seios e um numa das axilas ao fazer o autoexame em frente ao espelho (e estava fazendo exames semestralmente). Já fez a retirada da mama esquerda e vai começar a radioterapia.
— Os efeitos colaterais foram muito mínimos. Mais foi a parte do cabelo e das unhas. Eu acredito que pela minha excelente condição de saúde. Sempre pratiquei esporte, nunca tive colesterol alto, diabetes, pressão alta — conta Maurea. — O cabelo já está crescendo e as unhas já estão voltando ao normal.
A advogada Patrícia Chiappin Kauer, 45 anos, ficou sem chão quando descobriu dois tumores nos seios há cerca de dois meses. Fez mastectomia, que é a retirada total ou parcial da mama. Tinha histórico familiar, mas, segundo ela, não foi este o motivo que causou a doença:
— Inclusive hoje eu peguei o resultado de um rastreamento genético, e deu negativo. Então, com certeza, tem a ver com a influência dos hábitos de vida. Talvez sedentarismo.
A chefe do Serviço Médico de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento e presidente do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul, Maira Caleffi, faz uma ponderação:
— Nós temos poucas chances atualmente de prevenir o câncer de mama. Nós podemos é diminuir as condições para o câncer de mama. Evitar obesidade, sedentarismo, uso excessivo de álcool. E claro, sempre o cigarro está envolvido de alguma forma.
O Outubro Rosa nasceu na década de 1990 para compartilhar informações sobre o câncer de mama, promover a conscientização sobre a doença, proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento e contribuir para a redução da mortalidade.
O chefe do Serviço de Oncologia Clínica da Santa Casa de Porto Alegre, Carlos Eugênio Escovar, lembra que o quanto antes o tumor for detectado, maior a chance de cura:
— O diagnóstico precoce, mais ainda a prevenção, são fundamentais em qualquer tipo de neoplasia e na neoplasia de mama, principalmente nesse nosso mês Outubro Rosa, sem dúvida nenhuma. Quanto mais precocemente tu fizeres o diagnóstico, maior a chance de cura. Nos melhores casos, acima de 90%, conseguindo inclusive que a paciente seja menos agredida pelos tratamentos, como cirurgia, quanto radioterapia, quanto quimioterapia.
Depois do câncer
Depois do susto, Juliana mudou os hábitos de vida.
— Eu passei a cuidar muito mais da alimentação, a fazer mais exercícios físicos. Eu passei a ter mais consciência do meu corpo.
Para Flávia, iniciativas como o Outubro Rosa são fundamentais, já que, mesmo com elas, os casos da doença e mortalidade vêm aumentando. Ela comenta:
— Eu já tinha feito mamografia e tinha dado absolutamente normal. Um ano e meio depois, eu senti um nódulo palpável na minha mama. Então, os exames preventivos são extremamente importantes, mas a própria mulher conhecer seu próprio corpo e ficar atenta a sinais de mudança, é tão ou mais importante do que os próprios exames.
A médica Luciana Zaffari, que retirou as duas mamas, reforça:
— Acho extremamente importante. Aconselho a todas as mulheres, inclusive as jovens, que façam o exame, o autoexame e também exames de imagens. E procurem seus médicos.
Quais são os sinais e sintomas do câncer de mama?
- Caroço (nódulo) fixo e geralmente indolor.
- Alterações no bico do peito (mamilo).
- Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja.
- Pequenos nódulos na região embaixo dos braços (axilas) ou no pescoço.
- Saída de líquido anormal das mamas
Conforme o instituto, "a mulher deve conhecer suas mamas, a evolução das mesmas no ciclo menstrual e ao longo da vida e conhecer os sinais de alerta para o câncer de mama. A palpação das mamas não precisa seguir a técnica padrão de autoexame e pode ocorrer em situações cotidianas".
(Fonte: Inca)
Ouça a reportagem em áudio