De aparência simpática, com folhas verdes e frutos pequenos, a erva-de-passarinho é uma planta parasita que atinge árvores de grande porte, podendo ser considerada uma praga que toma conta da vegetação de Porto Alegre. Ela gera alimentos para pássaros, que após ingeri-los, defecam e disseminam o parasita. Raízes crescem nos galhos, perfuram o tronco, sugam a seiva bruta e roubam os nutrientes da planta. Quando a infestação atinge 50% do vegetal, o risco de queda é alto, dizem especialistas.
A prefeitura de Porto Alegre começou, em junho de 2023, a fazer um levantamento com o intuito de contabilizar o número de árvores que existem na Capital, incluindo as que estão com erva-de-passarinho. A praga que predomina em Porto Alegre pertence à espécie tripodanthus acutifolius, que gera folhas compridas e ramos pendentes. Atinge, principalmente, árvores exóticas, ou seja, as que não fazem parte do ecossistema brasileiro.
— As exóticas foram trazidas de outros países, como os da Europa, dos Estados Unidos e da Austrália. As espécies mais comuns são ligustro e extremosa, bastante sensíveis ao ataque da erva-de-passarinho — diz o biólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo Brack.
— Essas árvores precisam de um cuidado maior. Se deixar de lado, a planta seca e acelera sua morte. Em ventanias fortes, como já vimos, elas caem e geram estragos maiores para a cidade — alerta o professor.
Apesar de o levantamento ainda não estar pronto, Paulo Fialho Meireles, coordenador da Unidade de Podas e Remoção de Vegetais (UPRV), ligada à Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, estima que Porto Alegre esteja com cerca de 1 milhão de árvores — desse montante, 20% estariam contaminadas com erva-de-passarinho. Ou seja, 200 mil árvores estariam com a praga.
Em 2017, Porto Alegre estava com cerca de 195 mil árvores contaminadas com erva-de-passarinho. Na época, eram apenas seis técnicos e 25 operários da prefeitura trabalhando diretamente com podas em todas as vias da cidade. Desde então, a equipe cresceu. Atualmente, são sete engenheiros agrônomos, 11 técnicos e 70 operários fazendo o serviço. Mesmo assim, a praga se espalhou na cidade e atingiu pelo menos mais 5 mil árvores.
— Os novos plantios têm privilegiado espécies nativas, que são mais resistentes a essa praga. Tem regiões da cidade onde tu chegas e a rua inteira está infestada, de ponta a ponta de uma quadra, e em outras há zero infestação. Centro Histórico e Moinhos de Vento são os bairros mais atingidos — conta o coordenador da Unidade de Podas e Remoção de Vegetais.
O levantamento sobre as árvores de Porto Alegre está sendo feito pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus). Até julho de 2025, a pasta promete entregar o cadastro de 50 mil árvores adultas. Serão organizadas informações sobre: a localização de cada planta no mapa da cidade, formato da copa, altura, estado geral e eventuais conflitos com a infraestrutura urbana.
"Com o inventário, será desenvolvido o diagnóstico da arborização urbana de Porto Alegre, que será utilizado na formulação das políticas públicas", diz a pasta, que afirma ter plantado 4.840 árvores de espécies nativas desde 2022 em Porto Alegre.
O que pode ser feito
A forma de combater a erva-de-passarinho mais comum é a poda. Quando o galho já está completamente tomado pelo parasita, a alternativa é retirá-lo por inteiro, relatam técnicos da prefeitura. Há equipes que fazem vistorias, mas a maior parte dos casos é relatada por moradores que identificam a praga em árvores nas suas ruas.
— Se estiver no começo da infestação, aí é possível tratar de uma maneira menos agressiva, retirando apenas a erva. Normalmente, quando recebemos a informação, ela já está bastante afetada — afirma o coordenador da Unidade de Podas e Remoção de Vegetais, Paulo Fialho Meireles.
Quando o galho já está todo comprometido temos que retirar para arejar e criar uma proteção nova.
PAULO FIALHO MEIRELES
Coordenador da Unidade de Podas e Remoção de Vegetais
Além da poda, o professor e biólogo Paulo Brack recomenda o plantio de mais árvores nativas e também de frutíferas.
— Para que o passarinho tenha outra opção de alimento. Muitas árvores de Porto Alegre não são frutíferas. As aves que estão comendo erva-de-passarinho estão adaptadas à cidade. Se diversificássemos a nossa arborização com frutíferas, talvez até existissem outras aves que viessem para cá. O problema é bem mais complexo — relata.
Problema antigo
O biólogo Flávio Barcelos Oliveira, que por 42 anos atuou na extinta Secretaria do Meio Ambiente de Porto Alegre (Smam), diz que a erva-de-passarinho é um problema antigo da capital gaúcha. Começou a ser notado na década de 1970, na medida que as árvores plantadas no começo de século 20 foram envelhecendo. Na época, o ambientalista José Lutzenberger chegou a ser consultado pela prefeitura devido a uma infestação da praga no Parque Farroupilha (Redenção), quando 1/4 das árvores do parque estavam acometidas pela praga.
Também na década de 1970, o então prefeito Guilherme Socias Villela mandou plantar 1,15 milhão de árvores na cidade. Uma das regiões que mais recebeu a vegetação foi a do Parque Marinha do Brasil, também inaugurado naquele período. Além de árvores nativas, o parque recebeu muitas exóticas, que são as mais atingidas pela erva-de-passarinho. Em 2016, em um forte temporal, muitas foram derrubadas pela força do vento.
— É assim em outras regiões também. Sempre que dá temporal, cai árvore em Porto Alegre. Chegamos a ser a capital mais arborizada do país. As árvores exóticas não são vilãs, é importante dizer isso. Temos que preservá-las, cuidar delas — diz Oliveira, que também foi presidente da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana.
De acordo com dados divulgados em 2024 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Porto Alegre, junto com Belo Horizonte, é a terceira cidade mais arborizada do Brasil, com 82,7% de índice de arborização em suas vias públicas. Goiânia (GO) é a Capital com mais árvores, com 89,3% de arborização.
— A árvore no meio urbano tem a sua função, mas sofre muito mais estresse do que em área rural ou de floresta. Tem poluição, ela está em canteiros pequenos, o que dificulta o desenvolvimento de raízes. Ela é bem mais estressada, então é mais atacada pela erva-de-passarinho — completa Oliveira.
Como identificar a erva-de-passarinho:
- Pendões caídos, com verde intenso e folhas compridas
- Em estágio mais avançado, ramos abraçam os galhos
- O fruto é redondo e gelatinoso, escuro por fora e branco por dentro
Como avisar a prefeitura:
- Aplicativo 156+POA; 156 WhatsApp (51) 3433-0156 ou pelo e-mail 156poa@portoalegre.rs.gov.br.