A quatro dias de se completar 11 meses da explosão em uma das torres do condomínio Alto São Francisco, no bairro Rubem Berta, zona norte de Porto Alegre, as 17 famílias que estavam fora de suas casas poderão voltar a residir no local a partir deste sábado (30).
Em 4 de janeiro, um vazamento de gás no segundo andar do edifício 10 do condomínio causou a morte de um homem e deixou outras oito pessoas feridas. Entre elas, dois bombeiros.
Durante o período, a torre precisou ser reconstruída, enquanto as famílias residiam em lares obtidos por meio da Defensoria Pública do Estado (DPE).
A obra de reconstrução do prédio em que aconteceu a explosão foi finalizada em 8 de novembro. Porém, antes do retorno dos moradores, era necessária a conclusão do processo de vistoria dos apartamentos e das áreas de uso comum. A ação foi concluída pelos bombeiros na segunda-feira (25), em uma chamada vistoria extraordinária.
O retorno
Ana Paula da Silva Machado, 29 anos, e Charles Alexandre Hoberrek Junior, 31, moravam em Alvorada antes de adquirir um apartamento no condomínio. Eles estavam para se mudar para o prédio no dia em que houve a explosão.
— Cogitamos até desistir do apartamento. Agora, o sentimento é de felicidade, pois nem esperávamos voltar. É emocionante, porque eu queria muito comprar o apartamento. Voltar para cá agora nos emociona mesmo — contou Ana Paula.
Já para Charles, a lamentação pelos 11 meses dá lugar ao alívio e ao sonho de ter a casa própria. Agora, ele e a companheira darão um outro passo no apartamento: a colocação dos pisos. Depois, poderão pensar com mais calma na vida após a mudança.
— A gente corre atrás para ter o nosso lar e quando consegue vem uma tragédia. Depois de 11 meses, vem todo esse alívio que tu pode perceber. Agora podemos viver o sonho da casa própria e a vida a dois — disse.
Alexandra Baccim, 29 anos, define o retorno como um misto de alegria e tristeza. Ela estava dormindo com o marido no momento em que houve a explosão no andar inferior. Na ocasião, só deu tempo de sair às pressas.
— Estou feliz de voltar, mas ainda temos a lembrança de tudo que aconteceu. Agora é pensar em organizar tudo novamente, depois de uma espera extremamente complicada — relata.
Perícia apontou vazamento em fogão
O Instituto-Geral de Perícias (IGP) concluiu no início de fevereiro, quase um mês após o ocorrido, que o vazamento de gás em um fogão do tipo cooktop provocou a explosão na torre 10. O acidente aconteceu quando um interruptor de luz foi ligado por um dos moradores do edifício, causando o incêndio.
A explosão aconteceu em um conjunto residencial com 440 apartamentos na Rua Inocêncio de Oliveira Alves, próximo à esquina com a Rua João Fázio Amato, e deixou um morador morto e oito pessoas feridas, incluindo bombeiros que haviam sido chamados por causa do cheiro de gás.
A reportagem teve acesso ao laudo do IGP. Ele aponta que um botão do cooktop estava em posição aberta, deixando escapar gás. Fotos anexadas ao levantamento mostram que o dispositivo ficou em funcionamento, com a boca aberta.
A explosão aconteceu no apartamento 303 da torre 10. Ali residia Tiago Lemos, 38 anos, que morreu quatro dias depois, com queimaduras em 90% do corpo e falência múltipla de órgãos. Não foram encontrados vazamentos no kit de instalação do gás, que é central e abrange todos os apartamentos da torre. A falha, conforme o IGP, foi deixar aberta uma boca do fogão.
A Polícia Civil não quis comentar o laudo na época. O órgão concluiu sem indiciamentos o inquérito sobre a explosão no prédio. Conforme o delegado Cleiton de Freitas, não houve culpa nem dolo.
Quem era a vítima da explosão
Tiago Rodrigues de Lemos, que morreu aos 38 anos em decorrência das queimaduras e ferimentos causados pela explosão, foi descrito pelos familiares como um rapaz "alegre, trabalhador e amante de pagode".
O frentista foi velado e sepultado em 9 de janeiro, cinco dias após a explosão no apartamento em que morava com o companheiro dele. A mãe de Tiago, Angela Maria Rodrigues de Lemos, 68, contou à época que ele era separado e pai de dois filhos — Laysla, 17, e Nícolas, nove. Tiago trabalhava como frentista em um posto de gasolina no Rubem Berta.
— O Tiago era um guri trabalhador, alegre e adorava um pagode — disse a mãe.
Além da mãe e do casal de filhos, Tiago deixou outros sete irmãos e 17 tios. O pai João Matias já havia falecido há dois anos.