Há pelo menos um ano e nove meses, motoristas da Região Metropolitana aguardam por uma obra que promete melhorar o trânsito em Gravataí, mas que já foi adiada três vezes. A construção de dois novos viadutos na intersecção da RS-118 com a Avenida Centenário se iniciou em junho de 2022 e, desde fevereiro de 2023, interdita as pistas principais nos dois sentidos. O resultado é congestionamento diário, em diferentes horários.
De Sapucaia do Sul a Viamão, a RS-118 é uma das principais rotas de ligação da Região Metropolitana, além de um conector com a Serra, pela BR-116, e com o Litoral Norte, por freeway e RS-030. Cerca de 30 mil automóveis passam por dia pela via.
Zero Hora percorreu a estrada durante a manhã e a noite de quinta-feira (28). O trânsito intenso no km 22, onde ocorrem as obras, começa ainda nas primeiras horas da manhã.
Por volta das 9h30min, a reportagem levou cerca de 15 minutos de carro para percorrer um trecho de um quilômetro e meio. No final da tarde, o congestionamento chegou a cinco quilômetros. À noite, apesar do movimento intenso, não houve registro de arranca e para.
Condutores relatam perder até 40 minutos de deslocamento por dia em alguns horários.
— Você não tem saída, fica 30, 40 minutos no trânsito com passageiro. Muitas vezes, as pessoas perdem horários de médico, trabalho, de tudo. É horrível e acontece todo dia — reclama o motorista de aplicativo Ceonil Moraes, 69 anos.
As estruturas foram planejadas para facilitar o acesso à Avenida Centenário — que leva ao Distrito Industrial de Gravataí — e ao Litoral Norte pela RS-030. Os engarrafamentos já eram frequentes neste cruzamento antes das obras.
A previsão inicial era de que os viadutos fossem entregues em dezembro de 2023. O primeiro adiamento passou o prazo para o fim de 2024. Depois da enchente de maio, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) alterou novamente a data prevista, dessa vez para junho de 2025, alegando mudanças no planejamento em razão das chuvas. Agora, o órgão trabalha com a previsão para o segundo semestre de 2025.
Questionado pela reportagem, o Daer afirma que a obra está 70% concluída. No local, é possível ver duas partes erguidas, mas sem a conexão entre elas. Durante a passagem pela manhã, máquinas trabalhavam no asfalto. Já à noite, não havia equipe atuando. O ponto fica muito próximo do acesso à freeway, principal alternativa para ir a Porto Alegre.
Carlos Paim, 42 anos, é supervisor de um posto de gasolina que fica à margem da RS-118, no trecho das obras, bem no começo da interdições das pistas, no sentido Sapucaia-Gravataí. Ele afirma que a intervenção prejudicou o movimento do estabelecimento:
— Antes, a gente recebia clientes tanto na ida quanto na volta. Devido à falta do retorno que tinha ali embaixo desse viaduto, deu uma queda tremenda no posto. O pessoal fazia bastante retorno para vir ao posto ou acessar bairros menores.
Morador de Gravataí, o advogado Alex Luz, 45, buscou rotas alternativas para fugir da lentidão. No entanto, tem sido impactado por uma nova intervenção que agrava a situação, abaixo do viaduto da freeway com a rodovia.
Trata-se de um trabalho de drenagem, que integra o projeto e precisou ser feito após a enchente, para evitar que a área seja alagada, como ocorreu em maio. Há uma restrição de faixa logo antes do acesso à rodovia.
— Eu tenho vindo pela avenida principal de Gravataí (Dorival Cândido Luz de Oliveira), pela parada 76, ingressado na 118. E aí fica mais fácil para conseguir entrar na freeway, porque quem tenta entrar na Centenário não consegue, porque fica horas ali trancado, justamente por causa desse fluxo. Mas, mesmo assim, em alguns horários, não consigo fugir pois tem essa obra perto da freeway — relata.
Gargalos na pista simples
O congestionamento na RS-118 não se restringe apenas ao trecho de Gravataí. A rodovia possui um trecho de 19 km de pista simples e, em pontos com maior movimento, o trânsito fica lento em horários de pico. É o caso do segmento próximo ao acesso a Alvorada, pela Avenida Getúlio Vargas. No início da manhã, motoristas enfrentam longos engarrafamentos. À noite, a falta de postes de iluminação é um dos problemas percebidos.
Para desafogar o tráfego, a principal alternativa é a duplicação do trecho Viamão-Gravataí (de Gravataí a Sapucaia a estrada já é duplicada). O governo do estado não trabalha com um prazo para a realização dessa obra, e pretende conceder a rodovia à iniciativa privada para que haja a execução.
Morador de Alvorada que enfrenta o problema diariamente, Clóvis Reprise, 66, afirma que, mesmo com duas faixas, e estrada precisará de ainda mais obras para que haja fluidez.
— A solução para a saída de Alvorada seria a colocação de um viaduto para que a gente possa sair do município e ter entrada para a RS-118, tanto do lado direito como do lado esquerdo. Te garanto que se você vir às 17h, esse engarrafamento dá mais de uma hora.
Menos buracos
A RS-118 foi uma rota emblemática durante a enchente, chegando a ser a única ligação direta entre Porto Alegre e municípios da Região Metropolitana. Por conta do excesso de veículos que trafegaram na rodovia na época, as condições do asfalto pioraram, com buracos e desníveis.
Quase sete meses depois, é possível ver uma melhora nesse aspecto. A reportagem não registrou falhas significativas de pavimentação ao longo do percurso, com exceção de pequenos desníveis e rachaduras. O acostamento, entretanto, ainda apresenta problemas.