"É preciso que a leitura seja um ato de amor". A frase do filósofo Paulo Freire muito representa o intuito da Biblioteca Chocolatão, localizada no Morro Santana, na zona leste de Porto Alegre. Organizado pela ONG Cirandar, o espaço, além dos livros, oferece atividades que incentivam o hábito da leitura e do estudo para a comunidade. No último mês, o local recebeu uma revitalização em sua fachada, com uma arte da grafiteira Sabrina Brum, conhecida como Bina.
A coordenadora institucional da ONG, Márcia Cavalcante, relembra a trajetória do projeto, que iniciou com um convite da Associação de Moradores da Vila Chocolatão para a construção da biblioteca, quando ainda era localizada no centro da Capital. Quando a comunidade foi reassentada para o Morro Santana, a ação foi junto para continuar realizando esse trabalho de formação de leitores com as crianças e jovens de lá.
— Queremos que a biblioteca seja como uma referência formativa, que forme para a arte. Que as crianças possam experimentar novos prazeres e culturas — destaca Márcia, que também foi uma das fundadoras da ONG.
O espaço é frequentado por pessoas de todas as idades. Diariamente, são realizadas rodas de leitura para as crianças. Oficinas de escrita criativa para mães e avós também fazem parte da programação do local. Aulas de português para migrantes estão entre as atividades. E o Sábado Cultural reúne habitantes de toda a comunidade, em que são realizadas ações em parcerias com outros coletivos.
— O trabalho da biblioteca é muito amplo, mas é sempre centrado na formação de leitores e na ampliação e democratização do acesso à cultura. A gente trabalha em parceria com os outros atores do território, com galpões de reciclagem, posto de saúde, escola de Educação Infantil. O Cirandar é um centro de integração de redes — afirma Márcia.
Revitalização
Para proporcionar um espaço ainda mais acolhedor, a ONG Cirandar chamou a grafiteira Sabrina Brum, conhecida como Bina, para revitalizar a fachada. A artista trabalha com a técnica desde os anos 2000 e viu no convite uma oportunidade de contribuir com a comunidade por meio do seu trabalho.
O projeto foi realizado com apoio das crianças, que ajudaram na escolha dos desenhos. As ilustrações são de personagens de livros do escritor André Neves, que é patrono da biblioteca por ter participado ativamente de sua trajetória. Bina fez uma adaptação de algumas das ilustrações do autor, utilizando a identidade do seu trabalho, que é mais urbana.
— Fiz referências ao trabalho dele usando a minha técnica. O grafite por si só já tem uma estética social da arte. Ele (o grafite) estando neste espaço traz o cuidado, de as crianças poderem ver a biblioteca diferente — afirma Bina.
Márcia acredita que a revitalização foi uma forma de atrair cada vez mais a comunidade para o espaço e, consequentemente, para o mundo da leitura:
— Uma estratégia é pensar que o espaço da biblioteca também é de acolhimento, é bonito e aconchegante. É bem cuidado, colorido e com móveis bem preservados.
Ajuda na alfabetização
Gratidão é o sentimento que representa a Biblioteca Chocolatão e a ONG Cirandar para Fabiana Machado, 45 anos. Sua filha, Ana Beatriz, 13 anos, teve a ajuda dos projetos para superar dificuldades cognitivas em sua alfabetização. O trabalho foi realizado no turno inverso das aulas da menina e a sua evolução foi muito satisfatória.
— A Ana Beatriz é diagnosticada com deficiência mental leve. E a Cirandar lançou um projeto de letramento com crianças. Foi através da ONG que a minha filha conseguiu deslanchar, aprender a ler e entender as letras — relata Fabiana.
E o trabalho não para por aí. A recicladora destaca que a Biblioteca e a ONG ajudam também as mães, oferecendo rodas de conversa e oficinas:
— No nosso grupinho de mães, temos falado um pouquinho da nossa história e das nossas dificuldades. Se não fosse a Cirandar, junto com a Márcia e os seus apoiadores, nós não teríamos conseguido nada, nem para os adultos nem para as crianças.
Como participar
/// Para participar das atividades da Biblioteca Chocolatão, não é necessário inscrição. Basta chegar no local nos horários das ações. A programação está disponível no perfil do Instagram @cirandar.ong.
/// Doações de livros podem ser encaminhadas para a biblioteca do Centro Histórico, na Rua dos Andradas, 851.
*Produção: Elisa Heinski