Entre risadas e câmeras, programas ao vivo tomam forma no bairro Bom Jesus, zona leste da Capital. A TV da Bonja é uma iniciativa do Centro de Educação Ambiental (CEA), que há 28 anos realiza projetos na comunidade. Para ajudar na divulgação dos programas e criar uma rede de comunicação própria, um telão digital foi instalado em frente ao espaço. E a cobertura também abrange outras áreas: jogos de futebol, filmes, como o do grupo Racionais MC's, e algumas disputas das Olimpíadas já foram transmitidos no painel que compõe o plano de se transformar no maior cinema popular da América Latina.
Para o gestor do CEA, Luiz Henrique Medeiros, 32 anos, o objetivo da TV da Bonja é simples: contar a história da comunidade de uma perspectiva "de dentro para fora", e não o contrário.
— A ideia surgiu de uma percepção que temos de ter sempre a nossa história contada por pessoas que, na grande e na maioria das vezes, não são da periferia — descreve o gestor, que também é neto da fundadora do CEA, Marli Medeiros (1952-2018).
Além disso, o intuito do projeto é o de desconstruir o estereótipo de que o sucesso está, necessariamente, fora da comunidade. Luiz destaca a importância de mostrar para os moradores da Bom Jesus que é possível ascender na periferia e ser protagonista da sua história.
É o caso dos apresentadores do Passada Esportiva, programa que faz parte da grade da TV da Bonja. Wagner Marques, conhecido como Bola, e Douglas Peres são influenciadores digitais nascidos e criados na comunidade e que encontraram no projeto uma forma de expandir seus horizontes. Com mais de 40 mil seguidores, Douglas divide seus dias entre a construção civil e a TV, e não podia estar mais satisfeito:
— Estou muito feliz com essa oportunidade, e não vou desistir desse sonho.
Futuro
O estúdio que foi construído na sede da ONG tem equipamentos de ponta, financiados pelo Ministério da Comunicação, do governo federal. Existem dois principais programas: o Passada Esportiva, que debate os campeonatos de futebol de várzea da Bom Jesus e a atuação da dupla Gre-Nal, é transmitido nas segundas-feiras, às 19h. Já o Quebrada em Foco, que fala sobre diversos assuntos relacionados à comunidade, é exibido às quintas-feiras no mesmo horário. A programação também é transmitida no Instagram (@ceabomjesus) e no youtube do projeto (@TVdabonjaCEA).
Quando a TV da Bonja foi inaugurada, em 12 de agosto, a praça em frente ao CEA, de onde é possível assistir aos programas pelo telão, estava lotada. A possibilidade dos moradores se enxergarem em um painel digital gera entusiasmo na comunidade. Por isso, propagandas dos comércios locais também são exibidas ao longo do dia.
— A pergunta da hora é: "Como que eu faço para gravar o meu próprio programa?"— conta Luiz, entre risadas: — No futuro, podemos criar o Jornal do Almoço da comunidade.
Capital humano
Além do estúdio, a sede do CEA conta com outros espaços comunitários. Cinema, galpão de reciclagem, horta agroecológica e salas para outros projetos da ONG estão entre eles.
Atualmente, a iniciativa "Vale do Silício na Periferia", que conta com investimento de uma startup holandesa e busca capacitar jovens da periferia no ramo da tecnologia, está prestes a iniciar suas atividades. E todas essas ações são organizadas a partir da escuta da necessidade dos moradores, segundo Luiz Henrique:
— Costumo dizer que o grande capital do CEA é o humano e, para entender as demandas da comunidade, precisamos ter uma visão muito aguçada do mundo.
O Centro de Educação Ambiental tem três principais frentes de atuação. A primeira criada foi o Centro de Triagem da Vila Pinto (CTVP), em 1996, uma iniciativa de reciclagem para gerar sustento e reduzir a vulnerabilidade social das mulheres da Vila Pinto, no bairro Bom Jesus, na Capital.
Com a crescente necessidade das recicladoras de terem um lugar para deixarem seus filhos durante o trabalho, foi criado o Centro Cultural Marli Medeiros, que oferece atividades nas áreas de cultura, educação, lazer, esporte e qualificação profissional.
Por fim, também foi constatada a necessidade de um local para abrigar as crianças com menos de seis anos de idade. Assim, uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação foi estabelecida e, em 2008, foi fundada a Escola de Educação Infantil Vovó Belinha.
*Produção: Elisa Heinski