Da esquina, já dá para ouvir a música. E, ao entrar na Casa do Hip Hop de Esteio (Ache), a alegria toma conta do ambiente. A mulher negra que compõe o painel da entrada abre os braços para uma cultura repleta de representatividade que vem adquirindo espaço no território gaúcho. A Ache, fundada em 2017, teve a sede inundada pela enchente de maio e ainda organiza sua estrutura para a sua plena retomada. E o recomeço também está presente nas atividades da entidade, que está com as inscrições abertas para o Circuito Energia Hip Hop, projeto que oferece oficinas de MC, breaking, DJ e grafite.
Em uma volta pela instituição é possível ver os detalhes de um lugar que preza pelo movimento: de jovens e de talentos. Como Alan Bitello, um dos coordenadores da casa, descreve, o local é a prova de que a cultura negra periférica tomou o centro.
— A gente trabalha a cultura hip hop como meio de transformação social e de manutenção dos direitos humanos — destaca Alan.
A também coordenadora Natália Diogo dos Santos é uma das entusiastas do projeto que oferece as oficinas para a comunidade. Segundo ela, o trabalho é qualitativo e todas as áreas têm uma entrega final, que será apresentada no evento de formatura. No dia 3 de agosto, ocorreu a finalização da turma que teve suas aulas interrompidas pela enchente e, por isso, concluiu seus estudos no último mês. Já os próximos grupos iniciarão as aulas no dia 13 de agosto e ficarão durante dois meses imersos na cultura hip hop.
— Ouvimos muitos pais dizendo que “aqui meu filho está tendo um espaço para ser ele mesmo” e isso é muito gratificante. — relata Natália.
Mudança
Em alguns minutos de apresentação de rimas improvisadas, foi possível ver o talento iminente do MC Narrador Kanhanga, natural de Angola, país africano, que mora no Brasil há 18 anos. Segundo ele, a paixão pelo hip hop veio desde sua infância, mas foi a Casa do Hip Hop de Esteio que o ensinou a ser quem é hoje:
— Aqui foi onde aprendi a ser pai e a ser homem. O hip hop me deu uma perspectiva diferente de autonomia para que eu pudesse ser quem sou.
O hip hop é um sonho, é como se fosse um pedaço da minha alma.
RAFAELA CARMONA
Aluna das oficinas da Casa do Hip Hop de Esteio
Professor da oficina de MC, Kanhanga enfatiza a importância do movimento para a juventude periférica. Para ele, ver um jovem mudando de vida por conta do rap é revisitar seu passado, pois foi assim que conseguiu construir sua independência.
— Os jovens são nosso alvo principal, pois o rap dá autonomia, lugar de fala e leveza para conduzir a vida. Sempre penso que, assim como eu mudei minha vida pelo hip hop, eles também podem fazer isso – relata o MC.
Rafaela Carmona, 14 anos, tem contato com o hip hop desde sua primeira infância. A garota tem uma família que mantém relação com o movimento e, por isso, encontrou nessa cultura uma nova forma de se expressar.
Ela tem o sonho de trabalhar com a dança e viu nas oficinas de breaking uma oportunidade de desenvolver suas habilidades.
— Entrar aqui foi uma das melhores coisas que eu fiz. O hip hop é um sonho, é como se fosse um pedaço da minha alma — conta Rafaela.
Pensando no futuro, Rafaela planeja se profissionalizar cada vez mais, por isso, iniciará as aulas junto com as novas turmas tanto de breaking, quanto de MC. E para aqueles que querem participar das oficinas, a jovem aconselha:
— Vem sem medo! Se é uma coisa que tu quer, tu não vai se arrepender!
Esperança de reconstrução
As paredes da primeira Casa de Hip Hop do Estado ainda estão úmidas por conta da água que não teve pena de entrar. Em alguns cômodos, móveis improvisados, como uma mesa feita com uma porta que conseguiu ser salva, compõem o cenário de reconstrução. Porém, nada impede os organizadores da casa de sonhar em alcançar cada vez mais pessoas.
Rafa Rafuigi, fundador da ACHE e também do Museu do Hip Hop de Porto Alegre, descreve que a expectativa é transformar a cozinha da sede em industrial e lecionar aulas de gastronomia. A criação de um estúdio audiovisual para produção e edição de conteúdos também está nos planos. Tudo isso para proporcionar novas oportunidades para a comunidade.
— Aqui também é o meio de conexão com quem busca o primeiro emprego – finaliza Rafa.
Como ajudar
- Para manter suas atividades e ajudar mais pessoas, a entidade precisa de auxílio, por isso, Rafa reitera a importância da conscientização das empresas de investirem em projetos sociais como a ACHE.
- Se quiser ajudar, entre em contato pelo telefone (51) 99103-0530.
Como participar das oficinas
- As próximas turmas das oficinas da Casa de Hip Hop de Esteio vão começar suas aulas no dia 13 de agosto. As inscrições podem ser feitas pelo link bit.ly/inscricoeshiphop.
*Produção: Elisa Heinski