Celular na mão, selfie com amigos, jogar conversa fora ou passar o tempo com um game. Práticas comuns para quem é um adolescente de 13 anos. Mas este não é o caso de Renan da Silvia Soares Barbosa. O jovem encontrou no breaking uma forma de expressar seus mais profundos sentimentos.
— Quando eu danço é um negócio mágico. Eu me sinto feliz, acolhido. Eu sou forte, importante. É muito legal dançar. E é difícil também, mas quando tu amas, tu consegues — revelou o adolescente morador do bairro Colina do Sol, em Caxias do Sul.
Há três anos, Renan frequenta uma casa de Hip-Hop localizada no bairro Santa Fé, em Caxias do Sul, a Fluência.
— O interesse surgiu quando eu vi as pessoas dançando, assisti vídeos de fora do país, vi os grafites daqui, a cultura, e eu achei muito lindo. E foi quando comecei a me esforçar mais ainda, a focar na minha dança todo dia — recordou o jovem.
Agora, mais experiente na dança, Renan não quer fazer do breaking um hobby. O adolescente, bem como os mais de 30 que frequentam o espaço, nutre a esperança de fazer deste o pontapé inicial para uma carreira gloriosa.
— Já é um diferencial na minha vida. Quando eu pratico breaking, eu quero muito poder fazer o que eu amo, que é dançar. Quero ganhar dinheiro, porque a vida financeira não é tão boa, mas a gente vem pra cá, faz coisas que a gente nunca fez. Espero muito poder viajar pra lugares que não conheço e o que quero mesmo um dia é ir para o evento da Red Bull Buc One (maior campeonato mundial de breaking 1x1 criado em 2004).
Ferramenta social
O Breaking sempre foi uma ferramenta social muito forte na região da Zona Norte de Caxias do Sul. O trabalho de arte-educadores, como o da psicóloga Kamila Bazzo, torna o ambiente entre os alunos ideal para que eles desenvolvam a cultura.
— A gente pensou, não precisa ter um serviço que trabalhe exclusivamente a cultura Hip-Hop com o foco na formação artística independente da idade, né? Então que eles possam iniciar na infância. E que a adolescência, que é um momento tão crucial para o desenvolvimento deles, que vai fazer essa questão do caráter deles, porque a rua, a periferia, ela dá várias opções que para a gurizada, algumas são boas, algumas não — apontou Kamila que ainda concluiu:
— E o Hip-Hop precisa ser uma dessas opções, de alternativas positivas. Não somente de desenvolvimento artístico, mas de desenvolvimento integral deles. E não só até os 15 anos. Então, aqui temos crianças, tem adolescentes e a gente tem turmas de adultos, de quase 50 anos, juntos conosco nas oficinas.
Cultura Hip-Hop
O breaking nasceu nos anos 1970 no Bronx, em Nova York, e foi o estilo criado pelas comunidades negra e latina com o desejo de pacificar disputas territoriais na região.
As pessoas mais jovens começaram a se afastar das gangues de rua. A partir deste movimento, a violência saiu de cena e deu lugar às batalhas entre as crews, assim chamados os grupos de dançarinos que juntavam suas habilidades em disputas para definir quem apresentava os melhores movimentos.
— O breaking é uma cultura incrível, porque conversa muito com a juventude. É uma dança muito dinâmica, com movimentos difíceis de fazer, que desafiam muito. E a juventude gosta de desafio. Então, eu acho que casa muito. Girar de cabeça, fazer mortal, fazer os passos ou ter uma dinâmica na dança, não é para qualquer um — avalia o artista caxiense Giovani de Gregori.
Coreógrafo, diretor artístico e um dos mais entusiastas da modalidade, Giovani trabalhou por anos como arte-educador dentro de outros serviços sociais na Zona Norte de Caxias do Sul.
Com o passar dos anos, o artista desenvolveu a cultura Hip-Hop com alunos que precisavam de um espaço onde eles pudessem se capacitar e profissionalizar. Foi aí que nasceu a Fluência Casa Hip Hop.
— A Fluência vem com esse papel de profissionalização também, levar a cultura Hip-Hop para um outro estágio, para a nossa comunidade, outro nível de profissionalização. Temos as turmas e cada uma tem em torno de 15 alunos. São quase 40 no total — destacou.
OLIMPÍADA
Apesar do Brasil não ter representantes na modalidade olímpica em Paris nos Jogos de 2024, Geovani aponta que o país tem potencial, mas falta investimento..
— O Brasil é um país que tem muitos dançarinos de breaking. A gente chama de B-Boys e B-Girls quem dança breaking. Muito potentes, muito talentosos. E acredito que a gente não tem nenhum brasileiro no ranking, participando das Olimpíadas, por falta de investimento mesmo, porque o breaking acontece há muitos anos já no Brasil, chegou na década de 80 e começou a disseminar no Brasil inteiro. E a gente tem brasileiros indo para fora, disputando, ganhando campeonato fora — destacou Giovani.
Apesar de algumas pessoas ainda olharem para essa cultura com ar de preconceito, o artista lembra:
— É sempre muito difícil a visibilidade vir para cá. Grandes marcas olharem para cá, grandes investidores olharem para cá. Temos uma luta um pouco mais pesada para fazer isso e fazer com que o povo caxiense entenda que é uma cultura, e que esses 30, 40 jovens que passam aqui semanalmente na casa, podem ter também uma profissão para eles no futuro.
Dicas do professor para quem quer começar no breaking:
:: A primeira coisa é saber que você vai ter que ter muita disciplina, porque realmente é uma dança que exige bastante;
:: O que movimenta a todos nós é a paixão de dançar, a paixão de estar em conexão com a música, de poder expressar a personalidade que cada um tem. Esse momento onde você realmente expressa quem você é, a roupa que você gosta de vestir;
:: Se você tiver isso, você pode chegar onde quiser. Então, para começar a dançar o breaking, tem que ter disposição.