Avança a obra para a instalação de uma ciclovia no canteiro central da Avenida Wenceslau Escobar, no bairro Tristeza, em Porto Alegre. A via de 800 metros ficará entre as avenidas Pereira Passos e Otto Niemeyer, na Zona Sul (confira no mapa), e é fruto de uma contrapartida por dois empreendimentos da construtora Melnick.
Quase dois meses depois da primeira visita ao local, a reportagem de Zero Hora retornou, nesta segunda-feira (26), ao canteiro que recebe a obra. Diferentemente da primeira vez, quando apenas o levantamento topográfico havia sido realizado, agora a construção já começou.
Nesta manhã, trabalhadores realizavam a escavação do caminho da ciclovia, assim como a colocação de delimitadores de concreto em alguns pontos da pista. A partir do entroncamento com a Rua Iete até a Avenida Otto Niemeyer, porém, ainda não havia sinais de obras.
Pelo trajeto de pouco menos de um quilômetro era possível ver raízes e galhos de árvores que foram cortados para a instalação do projeto. Não foi possível constatar se alguma árvore teria sido suprimida em razão da ciclovia. Também foi avistada uma máquina trabalhando no canteiro.
O que diz quem circula pelo local
Frequentadores e moradores da localidade têm opiniões divergentes sobre o empreendimento. Quem avalia a obra positivamente argumenta que a ciclovia trará mais segurança para quem anda de bicicleta pela região. Por outro lado, aqueles que enxergam pontos negativos na pista assinalam que faixa fica isolada de outras ciclovias, gerando insegurança na mobilidade dos ciclistas entre os trechos.
Residente desta região da cidade desde 2017, o publicitário e professor universitário aposentado Marino Boeira explica que não entendeu o propósito da obra.
— Esse serviço leva do nada para lugar nenhum — pondera, avaliando que a ciclovia ficará "ilhada" na cidade.
A observação do morador se dá pelo fato de que há um outro trecho de ciclovia distante cerca de 500 metros da nova obra, em direção ao Centro, no cruzamento entre a Wenceslau Escobar e a Rua Doutor Castro de Menezes. Na outra ponta, quem deseja seguir para o Extremo Sul, encontra a continuidade apenas na Rua Déa Coufal, a mais de quatro quilômetros da construção.
Boeira também cita a preocupação com as árvores do canteiro, que agora estão sendo cortadas nas raízes e galhos para a implementação da obra. O morador teme que os vegetais sejam retirados do canteiro ou que venham a cair futuramente em razão dos cortes.
— Tem essa interrogação: as árvores cujas raízes estão sendo cortadas, elas morrerão ou permanecerão vivas? — questiona o professor, que mora em um edifício que fica em frente à obra.
Hélio Lima passa diariamente pelo local em que a pista destinada para a mobilidade de bicicletas está sendo construída. Ele explica que há mais de uma década caminha pelo canteiro que está recebendo obras para ir ao trabalho. Dessa forma, afirma conhecer a mobilidade da região.
— Com a obra, terá mais espaço para o pessoal passar de bicicleta, o que é bom, porque daí (os ciclistas) não precisarão mais andar no meio da rua. Aqui é bastante movimentado, às vezes até perigoso, então a obra pode evitar acidentes — avalia o pedestre.
Comentário similar é feito por Sérgio Meotti, dono de uma empresa que realiza conserto e montagem de bicicletas na Avenida Wenceslau Escobar.
— Não apenas aqui, mas em toda a cidade a ciclovia é bem-vinda. Meus clientes seguidamente reclamam da falta de ciclovias pela cidade. Ainda mais aqui, que a avenida é bem movimentada — observa o empreendedor, que atua na região desde 1990.
Ele ressalva, porém, que é necessário que a obra seja ampliada para se conectar com as outras ciclovias para não ser uma estrutura "sem sentido" e para que não cause problemas no deslocamento de carros e ônibus.
— Simplesmente incluir isso no tráfego da cidade, sem uma conexão ou planejamento, não faz sentido. É preciso fazer uma ligação de uma ciclovia com a outra. Nem tanta segurança trará para o ciclista, porque ele terá que sair da ciclovia durante o trajeto para andar no meio da rua — pondera Meotti.
O que diz a prefeitura
A reportagem levou à prefeitura os questionamentos dos moradores e frequentadores da região. Por meio das secretarias de Mobilidade Urbana e de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, o Executivo respondeu que "esse trecho será conectado na ciclovia existente na Avenida Wenceslau Escobar próximo à Avenida Coronel Massot, que leva em direção à orla do Guaíba pela Avenida Diário de Noticias ou, através da ciclovia da Avenida Icaraí, em direção às avenidas Divisa e Cruzeiro do Sul, na duplicação da Tronco".
Sobre a preocupação com a retirada de árvores, a prefeitura afirma que "o projeto foi concebido de forma a livrar o máximo possível o atingimento de árvores e arbustos", porém, admite que alguns vegetais foram removidos, mas diz que haverá replantio.
Sobre os cortes de raízes, o Executivo argumenta que os cortes tiveram "avaliação de técnicos" e supervisão da secretaria do Meio Ambiente, levando em conta "a saúde, o equilíbrio e adequação do vegetal ao ambiente urbano".
O município ainda destaca que o projeto e execução da obra são de responsabilidade da construtora Melnick e que "nenhum valor foi investido ou gasto" pelo município na construção.