Os três trechos improvisados de ciclofaixa em cima da pista de rolagem da Avenida Ipiranga, em Porto Alegre, desagradam ciclistas e motoristas.
Os pontos ficam situados:
- na esquina com Rua Silva Só (sentido bairro-Centro);
- na esquina com Rua São Manoel (Centro/bairro);
- perto das ruas Gomes Jardim e Ramiro Barcelos (Centro/bairro).
A partir desta quinta-feira (22), o trecho entre a Avenida João Pessoa e a Rua Salvador França está liberado para os ciclistas, o que representa 60% da extensão total da ciclovia em condições de uso. A parte que permanece interditada é a que vai da Salvador França em direção à Antônio de Carvalho, ainda em razão da queda de talude.
Zero Hora foi conferir a situação nesses locais. As pessoas ouvidas pela reportagem receiam a possibilidade de acidentes e apontam riscos, especialmente pela maior proximidade das bicicletas com os veículos.
O técnico em enfermagem Thiago Corrêa, 32 anos, vê com pessimismo a solução encontrada pela prefeitura para liberar parte da ciclovia da Avenida Ipiranga.
— Eu acho muito mais perigoso como fizeram. Deveriam é consertar a ciclovia — afirma Corrêa, temendo que os carros invadam os espaços dos ciclistas assim que os cones de sinalização forem retirados.
O agente de atendimento Tiago Antunes, 38, passava de bicicleta no cruzamento da Ipiranga com a Silva Só. Ele costuma vir pedalando de Viamão, na Região Metropolitana, até Porto Alegre. O ciclista diz que lá também há ciclofaixas iguais e que os problemas são frequentes.
— Mesmo quando a gente circula pela ciclovia, os carros já tiram tinta da gente. É bem mais inseguro para quem está de bike — considera, em relação à falta de guard rails separando carros e bicicletas.
Agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e funcionários da prefeitura preparavam a ciclofaixa. Os locais estavam sinalizados por cones e cavaletes, e recebiam a pintura da sinalização horizontal para a posterior liberação dos espaços. Alguns motoristas passavam ao lado e faziam sinal negativo com os dedos.
Interdição do talude exigiu adaptações
Como ainda há interdição do talude devido a deslizamento em algumas partes da Ipiranga, foram feitas adaptações nesses trechos. O ciclista precisa fazer o desvio para a pista de rolamento da via.
Desse modo, a faixa da esquerda apresenta bloqueio nos pontos para permitir a utilização dos ciclistas. Por sua vez, os veículos terão uma pista a menos nos mesmos locais. Ou seja, haverá estreitamento da via.
Em função disso, nos trechos em questão, os veículos podem utilizar a faixa azul nos horários em que normalmente isso seria proibido. Os tempos dos semáforos também serão modificados pela EPTC nesses pontos, para dar mais agilidade ao fluxo.
O motorista e contador Luiz Trindade, 67, prevê problemas nessas faixas implantadas sobre a pista de rolagem para os ciclistas.
— Principalmente na parte da noite — acredita.
O empresário Maicon Santos, 36, utiliza a ciclovia da Ipiranga com frequência. Ele afirma que continuará se deslocando pelo espaço, porém, agora, com ainda mais cautela.
— Ficou muito arriscado. O volume de carros na Ipiranga é muito grande — diz.
Solução para taludes depende de publicação de edital
No trecho da Ipiranga que vai da Avenida Edvaldo Pereira Paiva até o Hospital São Lucas da PUCRS, é possível perceber partes desmoronadas de taludes em alguns locais. Isso ocorre nos dois lados da via junto à esquina com a Rua Silva Só, nas imediações do Planetário (Centro-bairro) e na altura do número 6.109 (Centro-bairro).
Questionada sobre os planos para reforma dos taludes, a prefeitura disse que o tema está sendo tratado pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae).
Por sua vez, o órgão encaminhou o seguinte posicionamento:
"O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) informa que 11 trechos do talude da avenida Ipiranga cederam entre julho de 2023 e maio de 2024. O período foi marcado por sucessivos temporais. Destes, dois foram reconstruídos em 2023. Novos projetos foram encomendados após os episódios registrados neste ano. Um edital de licitação, elaborado pelo Dmae, está sob análise da Procuradoria do Município e deve ser publicado em breve".
Segurança viária dos ciclistas é o foco das intervenções, diz prefeitura
A prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU), afirma que a segurança viária dos ciclistas é o principal motivo para essas intervenções em execução na Avenida Ipiranga.
Confira a íntegra da nota da pasta:
"A segurança viária dos ciclistas que utilizam a avenida Ipiranga para seus deslocamentos é o foco principal desta intervenção temporária, até que o DMAE consiga concluir a recuperação do talude do Arroio Dilúvio, quando a ciclovia poderá ser reconstruída.
Foi verificado o número expressivo de ciclistas que utilizam a ciclovia, mesmo interditada. Nos trechos onde houve comprometimento do talude, esta prática mostrou ainda maior risco pois estes usuários se deslocavam para o meio dos carros, na pista da esquerda da Ipiranga.
Mesmo uma rota alternativa tenha sido divulgada e oferecida no passeio compartilhado, foi demonstrado um amplo desrespeito à sinalização de modo que não é possível monitorar e orientar todos os ciclistas que passam pelo trecho.
Assim, apesar da rota alternativa que foi oferecida, a Secretaria de Mobilidade Urbana (SMMU) entende a movimentação das pessoas já habituadas a utilizar a ciclovia. Por esta razão foi implantada esta sinalização na via evitando que os ciclistas se coloquem em risco ao transitar entre os veículos no trecho onde foi identificado o maior volume de utilização, entre a av. Dr. Salvador França e a Orla do Guaíba.
Em razão do estreitamento da via nestes trechos, foi realizada uma nova programação semafórica para minimizar possíveis congestionamentos.
A ciclovia da Ipiranga será implantada junto com a recuperação do talude. A SMMU segue com o monitoramento e avaliação da ciclovia para realizar ajustes se houver necessidade".