Dos nove depósitos temporários de resíduos sólidos da enchente em Porto Alegre, um já foi fechado e quatro já estão com destino definido e dias contados. É o caso dos “bota-espera” (como são chamados pela prefeitura) que possuem contratos com a empresa MCT Transportes Ltda, que concluiu a liberação da área da Avenida Loureiro da Silva, 104, no final de junho. O material está sendo transportado até um aterro sanitário em Gravataí, na Região Metropolitana.
Desde 24 de junho, a contratada atua em três desses locais: Rua Voluntários da Pátria, esquina com a Rua Seis, perto da Arena do Grêmio (fotos); outro na Voluntários da Pátria, 3522, perto da Avenida Cairú; e na Avenida Loureiro da Silva, nas proximidades do prédio da Receita Federal. Já na última segunda-feira (15), a mesma empresa passou a prestar o serviço na região do Porto Seco, na Avenida Élvio Antônio Filipetto, bairro Rubem Berta.
De acordo com o secretário adjunto municipal de Parcerias, Jorge Murgas, os dois pontos da Voluntários da Pátria e o da Loureiro da Silva devem ser desmobilizados até a próxima quarta-feira (24), dentro da previsão de um mês, enquanto o do Sambódromo conta com o mesmo prazo de 30 dias, a partir da data de início.
— Nós fizemos uma estimativa, com um levantamento topográfico, para entender o volume desses bota-espera. Calculamos que os três do primeiro contrato teriam 24,5 mil toneladas. Até agora, recolhemos cerca de 23,5 mil toneladas, em 950 viagens. Mas como o material estava prensado e sofre alterações com o carregamento, o chamado empolamento, estimamos que ainda restem 9 mil toneladas — detalha Murgas.
No caso do depósito temporário localizado nas proximidades da Arena do Grêmio, moradores reclamam da demora para a remoção completa dos entulhos e do impacto que o acúmulo de sujeira na região vem provocando.
— Tem muita mosca e barata que vem dali, fora o cheiro ruim principalmente em dias um pouco mais quentes. Também costumam aparecer alguns ratos. Colocamos veneno pra rato dentro de casa, e guardamos comida só em lugares fechados. De preferência, procuramos comer na hora o que compramos para não precisar guardar — explica a auxiliar de limpeza Bruna Silva da Silveira, 29 anos, que mora ao lado de um dos terrenos utilizados para receber o lixo produzido pela enchente em Porto Alegre.
Bruna afirma que acompanhava diariamente o movimento de caminhões removendo os entulhos para o aterro, mas, desde o final da semana passada, não percebeu mais o fluxo de veículos retirando restos de móveis, roupas e outros utensílios do local. As vizinhas Jéssica Tanise Martins, 31 anos, e Sayonara dos Santos, 23, também reclamam da demora para a limpeza do espaço.
— A pilha já foi bem maior, tinha uns cinco metros de altura. Vinha baixando, mas nos últimos dias não temos visto movimentação por aqui, e a quantidade de insetos continua muito grande — lamenta Sayonara.
Zero Hora esteve no local no meio da tarde de terça-feira (16) e não percebeu qualquer movimentação de pessoas ou maquinário. Jéssica afirma que o terreno onde foi instalado o bota-espera costumava ser um espaço onde os moradores mais próximos faziam até churrasco aos finais de semana. Agora, teme que a prolongação do uso como depósito de entulhos desvalorize ainda mais os imóveis da região.
— Já sofremos com a enchente, moramos em uma área que não é muito valorizada, e agora tem esse monte de lixo, mosca, barata — acrescenta Jéssica.
Segundo Murgas, houve a decisão de concentrar esforços no bota-espera da Loureiro da Silva, 678. Apesar do prazo de 45 dias para a desmobilização do local, o objetivo é encerrar os três ao mesmo tempo, em 30 dias. Outro motivo para a urgência é o fato de que o terreno foi cedido ao Executivo municipal pela Polícia Federal.
— Houve o pedido de celeridade e, como os dois pontos da Voluntários estão com poucos resíduos, voltamos a energia para terminar os três até quarta-feira. Concentramos máquinas e trabalhadores na Loureiro, mas eles devem voltar aos demais locais até segunda-feira. Estimamos que na Arena ainda tenha em torno de 1,5 mil toneladas e, na esquina com a Cairú, cerca de 3,5 mil toneladas, o que conseguiremos finalizar em alguns dias — sublinha o secretário adjunto municipal de Parcerias.
Nos três pontos, o trabalho da empresa abrange a disponibilização de equipamentos, caminhões e mão de obra, inclusive operadores e motoristas. O custo é de aproximadamente R$ 2,1 milhões.
Situação nos demais bota-espera pela cidade
O próximo depósito temporário que deve ser fechado é o do Porto Seco. Segundo Murgas, os trabalhos iniciaram no começo desta semana no local, com atuação da mesma empresa que assumiu o edital das três anteriores, após a desistência da primeira colocada.
— Abrimos novo chamamento para recebimento das propostas, seis apresentaram e a MCT Transportes Ltda teve o menor preço, de aproximadamente R$ 798 mil. Estimamos cerca de 11 mil toneladas nesse ponto. Até o momento, em torno de 1 mil tonelada já foi levada para Gravataí — resume.
Agora, o foco será voltado para outros três bota-espera: mais um na Rua Voluntários da Pátria, esquina com a Rua Adelino Machado de Souza, bairro Humaitá, o da Avenida dos Estados, 1763, bairro Anchieta, e da Avenida da Serraria, 2517, Espírito Santo.
— Já começamos, esta semana, a fazer o levantamento e até sexta-feira devemos ter o volume estimado. O da Voluntários tem um número considerável de resíduos e o da Serraria é um terreno cedido pelo Exército. Vamos abrir um novo chamamento para estes três.
Segundo o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), os bota-espera da Avenida dos Estados e Serraria seguem recebendo resíduos gerados pelos repasses de limpeza, ao passo que o da Voluntários já é considerado fechado.
Para a população que ainda deseja depositar resíduos, continua em funcionamento o espaço do bairro Sarandi, na Rua Sérgio Jungblut Dieterich, 1201, próximo à Avenida Severo Dullius. O horário é de segunda a sábado das 8h às 22h, e nos domingos até as 18h.
— Na Severo Dullius, fica ainda disponível para o remanejo de eventuais resíduos. Precisamos desse local como reserva — conclui Murgas.