Os móveis, utensílios e outros objetos que se tornaram inservíveis e são descartados após a enchente em Porto Alegre percorrem um longo caminho até o seu destino final. Grande parte do lixo e entulhos são reciclados e conseguem ser reaproveitados em forma de outros materiais. Das 38 mil toneladas de resíduos que já foram recolhidos na Capital, cerca de 3 mil já foram encaminhadas até a última etapa do processo, o que representa 7% do total.
Zero Hora acompanhou todo o caminho do lixo, desde o recolhimento nas ruas, até o reaproveitamento. O trabalho envolve apenas os chamados resíduos inertes: materiais que se misturam com componentes orgânicos, como lama, por exemplo, mas que não são deteriorados.
1) O Lixo nas ruas
Com as águas do Guaíba baixando e o processo de limpeza das casas e estabelecimentos, os itens agora sem utilidade são deixados nas calçadas, aguardando que o caminhão do DMLU passe e faça o recolhimento. Isso foi feito em boa parte dos bairros Praia de Belas, Cidade Baixa e Centro Histórico.
A prefeitura afirma contar com mais de 400 servidores do Departamento Municipal de Limpeza Urbana e outros 3 mil cooperativados da Cootravipa trabalhando. O órgão espera contratar até segunda-feira (10) mais 200 pessoas para reforçar a limpeza na cidade. O edital já foi aberto.
2) Depósitos provisórios
Quando caminhões do DMLU recolhem os materiais, levam diretamente para os "bota-espera": depósitos provisórios cedidos para a prefeitura concentrar os resíduos exclusivos da enchente. São cinco unidades ativas.
Uma delas, localizada na avenida Loureiro da Silva, Centro Histórico, recebe das 8h às 18h materiais descartados em bairros da região central. Uma montanha de entulho em concentrada na área, cedida pela governo do estado. O uso dos espaços é utilizado especificamente para este momento. Mas ainda não há previsão para a operação ser encerrada.
— É um trabalho contínuo. É preciso respeitar o tempo das pessoas e empresas que fazem os descartes. Tem bairros que a gente já passou mais de dez vezes. Limpamos, e aí as pessoas descartam mais lixo. Então não podemos precisar até quando estaremos com essa operação — afirma o diretor-geral do DMLU Carlos Hundertmarker.
Carretas recolhem parte do lixo e iniciam um deslocamento de cerca de uma hora até o interior de Gravataí, onde fica a unidade de valorização de resíduos da construção civil São Judas Tadeu. Diariamente 40 carretas se deslocam de um ponto para outro. A média de viagens varia de uma a três cada uma.
3) Pesagem e descarte no aterro
Antes de chegar no destino final, os caminhões param em um outro local específico para fazer a pesagem. Depois de descarregar no outro aterro retorna para pesar apenas o veículo. A diferença entre os dois valores serve para ter o controle do quanto está sendo descartado. Essa etapa é feita em outro lugar pois a unidade contratada pela prefeitura não possui balanças.
Ao chegar no destino final, os caminhões despejam toda a carga em uma área de descarte. São montanhas de lixo formados por resíduos de Porto Alegre e Canoas. Na sequência é feito um processo de tiragem em que cada material possui uma destinação. A imensa maioria consegue ser reutilizada.
— Nós iniciamos esse recebimento de Porto Alegre no dia 22 de maio. A triagem é feita com ajuda de tratores e retroescavadeiras. Os resíduos são separados e possuem diferentes destinações. Temos ao todo 35 funcionários trabalhando aqui na unidade — explica Diego Nuñez, sócio-diretor do grupo Centauro, responsável pelo aterro.
4) Reaproveitamento
Madeiras de móveis, pallets e outros objetos, além de galhos de folhas de árvores são os mais presentes na pilha de lixo. Estes restos são encaminhados para um depósito, onde são triturados e utilizados em outras finalidades.
Madeiras secas (como as utilizadas em móveis) são processados e encaminhados como combustível, usado principalmente em caldeiras industriais. Já os galhos e folhas são encaminhados para compostagem em terrenos agrícolas.
Já a parte de recicláveis, como vidro e plásticos, são destinados para cooperativas e recicladoras. Materiais que não podem ser reaproveitados, como pedras e lama, são aterrados.