Lama, destroços, limpeza e recomeço. Com o recuo da água nos bairros Humaitá e Vila Farrapos, na zona norte de Porto Alegre, moradores das localidades começaram a retornar para residências e comércios atingidos após mais de três semanas da enchente que atingiu o Estado.
Nesta terça-feira (28) a reportagem de GZH percorreu trechos dos bairros que não eram acessíveis de carro ou caminhando até a última segunda-feira (27), entre eles, a Avenida Palmira Gobbi, que havia sido tomada pela água, além das avenidas José Aloísio Filho e Ernesto Neugebauer. Em alguns pontos, segundo moradores e integrantes do exército que atuam no auxílio aos atingidos, foi possível observar um recuo de 35 centímetros do nível da água.
No entanto, mesmo com o funcionamento da Estação de Bombeamento de Água Pluvial número cinco, que fica no bairro Humaitá, e com a instalação de uma bomba de drenagem emprestada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), dezenas de ruas nas imediações da Arena do Grêmio seguem tomadas pela água. Na Padre Leopoldo Brentano, na saída da Rodovia do Parque (BR-448), ainda há pontos com o nível da água acima de um metro e 20 centímetros.
Vânia Mendes, 63 anos, mora em frente ao estádio gremista e perdeu praticamente tudo. Nesta terça, pôde retornar ao local, que ainda têm pontos tomados pela água, incluindo a entrada de sua casa.
— Eu tenho ficado em um abrigo, mas precisava voltar hoje. É muito duro ficar tanto tempo longe da nossa casinha. Por sorte, alguns vizinhos não saíram e estão cuidando da minha casinha — lamentou.
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) não estabeleceu prazo para a normalização da região, que ainda conta com a abertura de uma das comportas de proteção contra as cheias, a de número 11. Também não há previsão de ligação da Estação de Bombeamento da Vila Farrapos. Com o religamento, será possível acelerar a secagem de regiões mais afetadas no bairro.
Moradora da Vila Farrapos, a diretora da Escola de Educação Infantil Vitória, Sandra Ferreira, 52, retornou ao colégio pela primeira vez na tarde desta terça. O espaço fica na Avenida AJ Renner, no bairro Humaitá, em um ponto em que a água ultrapassou a marca de um metro e meio.
Tomada pela lama e pelos materiais perdidos, entre brinquedos, livros e equipamentos, agora, a luta será pela busca de um reinício para que alunos e funcionários retomem suas rotinas na escola.
— Eu moro na Vila Farrapos e perdi tudo duas vezes. Em casa e na escola. Foi a primeira vez que ocorreu uma enchente como essa. Ela foi devastadora e teremos que colocar tudo fora. A gente espera ter saúde mental para reiniciar tudo. Perdemos esperança e autoestima — disse a diretora.
Bairro Anchieta terá reforço no escoamento de água
Conforme o Dmae, até a próxima sexta-feira (31), outras duas bombas de drenagem da Sabesp serão instaladas nas imediações do Aeroporto Salgado Filho, no bairro Anchieta. A ação o objetivo de auxiliar no escoamento da água da chuva na região, que deve contar com o funcionamento da casa de bomba seis, situada no bairro, ainda na noite desta terça.
Bairro Sarandi segue com nível de água elevado em partes mais afetadas
Na avenida Bernardino Silveira Amorim, a água deu lugar ao lixo, composto por resíduos de moradores que iniciaram a limpeza das casas e estabelecimentos comerciais afetados pela enchente.
Porém, 26 dias após o início da chuva no Rio Grande do Sul, o nível da água no bairro Sarandi segue elevado, com pontos acessíveis apenas de barco, onde o nível está acima dos dois metros de altura.
No bairro, apenas uma das quatro Estações de Bombeamento de Água Pluvial (Ebaps) está em funcionamento. É a de número nove, que fica às margens da freeway, entre os quilômetros 88 e 89 da rodovia. Três bombas de drenagem, emprestadas pela Sabesp, auxiliam no escoamento da água da chuva nesta região.