A Sociedade Polônia, situada no bairro São Geraldo, em Porto Alegre, passa por reforma após a enchente de maio invadir o imóvel de cinco andares e causar destruição, especialmente no pavimento térreo, onde funciona um restaurante e a secretaria da entidade.
— Tivemos perda total dos móveis e dos equipamentos da secretaria, que fica aqui no térreo, e do restaurante (que está alugado, mas pertence à entidade), além do elevador e da loja da esquina (cedida para locatário). Mas a perda maior foi com o ginásio do esportes, localizado na Rua Santos Dumont, em frente ao Gondoleiros — explica o vice-presidente da Sociedade Polônia, Mariano Hossa, 88 anos.
Fotos e documentos históricos sofreram danos em razão da cheia. Precisaram ser congelados antes de serem submetidos ao começo do processo de recuperação especializado (leia mais abaixo).
Durante a cheia, a água chegou a 1m50cm de altura dentro do imóvel, situado na Avenida São Pedro, quase na esquina com a Pernambuco.
Somando as perdas na sede com a destruição do ginásio esportivo, o prejuízo total fica em torno de R$ 500 mil. Há quatro funcionários fixos no local e nenhum foi dispensado. O prazo para os pagamentos do IPTU e da conta de energia elétrica foram prorrogados.
A reforma começou a ser realizada na segunda quinzena de junho. O serviço está sendo pago com recursos próprios. Até agora, não houve qualquer tipo de auxílio financeiro do consulado ou do governo polonês. As doações vieram apenas de alguns associados.
Restaurante deve reabrir em agosto
Nesta quarta-feira (24), a reportagem de Zero Hora esteve na Sociedade Polônia. O andar térreo está passando pela reforma, especialmente no espaço do restaurante, que tem previsão de reabertura para agosto.
A secretaria já foi pintada, mas falta o acabamento do piso e a instalação de móveis e computadores novos. O elevador segue danificado e fora de funcionamento, assim como uma sala em frente dele. Não há previsão de reforma para a quadra esportiva.
A Sociedade Polônia completará 128 anos em 11 de novembro. Já havia resistido a grande cheia de 1941. Enquanto esteve fechada durante a enchente deste ano, ficou sem receita. Três bailes por semana estão sendo retomados para gerar algum dinheiro, mas tudo de forma gradual.
No final de agosto deverá ser realizado um galeto, enquanto a reinauguração oficial está prevista para acontecer na data de aniversário da entidade. Os dirigentes estudam ainda a possibilidade de instalar uma placa dentro da sede mostrando a altura que a água atingiu nas paredes das dependências.
— Inicialmente, o sentimento foi de desespero. A gente só ouvia falar da enchente de 1941, inclusive por meio de familiares, e agora aconteceu a mesma coisa. Então, foi uma desolação. Mas também despertou o ânimo vendo a ajuda do povo. Agora estamos otimistas e não podemos deixar cair a peteca — reflete o vice-presidente.
O estabelecimento gastronômico que opera no térreo se chama Restaurante Polonu's. Desde 3 de maio, quando começou a inundação na Capital, precisou fechar as portas. Cerca de 150 pessoas costumavam frequentar o ambiente diariamente. O local funciona somente durante o horário do almoço.
— Pensei em desistir. Não desisti pela história do restaurante, pela família e por ter um trabalho — diz a proprietária Rejane Beatriz Mendes Barcellos, 53 anos, que acompanhava o serviço de reforma nesta quarta-feira.
Mais de 5 mil fotos e documentos resgatados
A Sociedade Polônia conta com biblioteca e acervo de cerca de 12 mil itens. A sede é um centro de pesquisa em Porto Alegre. Há obras com mais de 200 anos na língua polonesa que não possuem exemplares nem na própria Polônia. Como essas obras estão nos pavimentos mais altos, não chegaram a ser atingidas pela água. Porém, mais de 5 mil fotos e documentos históricos ficavam no térreo e sofreram danos. Há sinais de lama e umidade em itens raros.
Foi preciso congelar o material danificado, que está sendo recuperado com auxílio do Grupo Sépia, vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Trata-se de um projeto de pesquisa e extensão transdisciplinar dedicado à conservação e pesquisa de acervos documentais. Desde 2018, há parceria entre a Sociedade Polônia e o grupo para ações de recuperação e catalogação do material da entidade. O trabalho é minucioso e respeita diversas etapas.
— Enxergo isso como uma visualização para o futuro. Quando entrei aqui, há 10 anos, vi que muita gente não dava bola para o material do acervo. Mas entrei para o mundo da pesquisa e percebi que isso aqui é a história viva — observa a técnica em gestão cultural Gabriella Pinto, 27 anos, que também atua na secretaria da Sociedade Polônia.