Um dos estabelecimentos gastronômicos mais antigos e conhecidos do 4º Distrito, em Porto Alegre, superou o trauma da enchente histórica. Após ficar 22 dias fechada, a Churrascaria e Galeteria Komka pôde reabrir as portas para os clientes em 26 de maio. Durante a cheia, a água atingiu na parte interna uma altura de 65 centímetros. As feridas do drama não estão totalmente cicatrizadas.
Os prejuízos estimados chegam a R$ 500 mil. E o restaurante ainda não está operando no turno da noite, como fazia antes da inundação. Serve o cardápio à la carte apenas no horário do almoço de terça-feira a domingo. Para piorar, dos 35 colaboradores, 11 deles perderam tudo. Nove desses eram moradores do bairro Mathias Velho, em Canoas, na Região Metropolitana. Trata-se de uma das regiões mais inundadas durante a catástrofe.
— Foram os piores momentos da história do Komka, junto com a pandemia — afirma o proprietário Edésio Komka, o Deco, 57 anos.
Em 19 de maio, o dono chegou de bote ao restaurante inaugurado em 1967. Ao lado de um amigo, acessou o estabelecimento para tirar a água e o lodo para fora. Foi preciso usar dois lava-jatos para executar o trabalho. A faxina se estendeu por oito dias e precisou de reforços, entre funcionários e outros conhecidos.
— Conseguimos levantar todas as mesas e as cadeiras para o segundo piso do restaurante. E doamos e vendemos muita coisa do estoque — menciona o empreendedor, dizendo que houve tempo hábil para salvar muitos objetos internos.
Nesta segunda-feira (10), a reportagem de GZH esteve no Komka. A marca d'água pode ser vista em um balcão de madeira, e a umidade ainda brota em partes do piso do chão. No lado externo, só é possível enxergar os vestígios em postes, árvores ou outros imóveis. Entretanto, nada estragou dentro do restaurante e não há qualquer indício de cheiro ruim deixado pela inundação.
O proprietário cogita a possibilidade de instalar uma placa com o registro da altura que a água atingiu dentro do local, como ocorreu no Mercado Público depois da enchente de 1941.
— O 4º Distrito ainda necessita de atenção, porque tem muita gente precisando recolher o lixo que está em frente aos seus estabelecimentos — diz.
Até o tradicional Studebaker Champion 1951, carro da família que sempre está estacionado em frente ao Komka e já foi tema de reportagem de GZH, foi atingido pela água. Mas os danos foram mínimos, porque ele estava em um local mais elevado do estacionamento.
Questionado se pensa em criar algum tipo de barreira de contenção para evitar que a água entre novamente no restaurante numa futura inundação, Edésio opta por refletir sobre a responsabilidade do poder público no episódio.
— A melhor coisa que a gente pode fazer nessa hora é cobrar da prefeitura, do Estado e do presidente para que nos ajudem e deem condições de num próximo evento não termos esse infortúnio de receber as águas até aqui. O sistema de defesa existe e precisa ser posto em prática — observa.
A Churrascaria e Galeteria Komka auxilia os 11 colaboradores para o recomeço depois das perdas. Uma vaquinha está aberta para arrecadar dinheiro para os funcionários. Para quem quiser doar, a chave do Pix é o e-mail monicakomka@gmail.com.