Às vésperas de novos episódios de chuva, 22 das 23 Estações de Bombeamento de Água Pluvial (Ebaps) de Porto Alegre estão ligadas nesta sexta-feira (14). Entretanto, a grande maioria opera com 50% da capacidade. Conforme o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Mauricio Loss, nenhuma delas opera na totalidade.
— Nós estamos operando com metade da capacidade nelas, porque não houve tempo hábil de a gente conseguir recuperar todos, são mais de 100 motores que ficam nas 23 casas de bombas. Eles ainda estão em processo de recuperação — explica Loss.
Isso significa que, por exemplo, as casas de bombas que possuem quatro grupos de motores, estão com dois deles ligados. É o caso das duas estações do Sarandi, na Zona Norte: as casas de número 9 e 10 operam com 50% da capacidade.
A estação número 5, localizada no Humaitá, está em 75%: três dos cinco grupos de motores estão funcionando, o que representa uma vazão de 7.500 litros por segundo. Já a de número 8, que atende a Vila Farrapos e é uma casa auxiliar a 5, opera com dois dos grupos de motores com vazão de 300 litros por segundo, dos 600 que escoam normalmente. Entretanto, algumas estações também operam com menos da metade dos motores ativos.
Com a previsão de chuva, alguns pontos da cidade preocupam mais. Conforme o Dmae, duas bombas flutuantes da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) estão alocadas no Sarandi, sendo uma na casa 9 e outra na 10, e uma no Anchieta, na Ebap 6. Outras duas bombas anfíbias estão na casa 5, no Humaitá.
— Caso alguma bomba da casa de bombas pare, a gente tem essas bombas também anfíbias de backup. Então, nesses bairros mais atingidos é que a gente tem esses sistemas de backup, geradores e tudo mais — explicou Loss.
Falta de energia
Um dos motivos de algumas casas de bombas terem parado de funcionar na enchente de maio foi a falta de energia elétrica ou o desligamento da rede. Agora, 15 das estações contam com geradores de energia, sendo que 11 delas estão ligadas também na rede elétrica.
Questionado se a baixa capacidade das Ebaps pode impactar no escoamento da água da cidade, Maurício Loss descartou a possibilidade de a água voltar invadir as casas neste final de semana.
— Nos preocupa um pouco, principalmente no domingo, pelo volume que está previsto. Se confirmando 100 milímetros, num período curto aí de duas, três, quatro horas, teremos acúmulo de água nas vias. Mas, mantido o funcionamento das casas de bombas, essa água escoa depois de uma hora, duas. Então a gente vai ter, na verdade, pode ter acúmulos de água na via, mas nada de invadir casas, de grandes elevações, do pessoal ter prejuízos novamente — considerou
Em coletiva na quinta-feira (13), o prefeito Sebastião Melo garantiu que as equipes do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) iriam dobrar o número de motores em operação nas estações 1, 2, 8, 17, 18 e 20, ação que faz parte do plano de contingência para mitigar os efeitos da chuva. Segundo o Dmae, essas estações estavam com apenas um motor funcionando e, nesta sexta-feira, passaram a ter dois grupos em operação, é o caso das Ebaps do Centro Histórico, 17 e 18, que possuem quatro motores cada.
De acordo com o Dmae, as equipes foram reforçadas para o final de semana e as empresas que fornecem os geradores de energia também foram contatadas para que a equipe de manutenção também esteja a postos.
— Para sábado está previsto mais descargas elétricas, mais ventos, então pode ser que a gente tenha falta de luz, mas nós estamos preparados, também com mais equipes no final de semana, tanto de manutenção eletromecânica quanto de atuação de limpezas de redes, com caminhões hidrojato. Há um volume expressivo de chuva, principalmente no domingo, mas nossas equipes estão preparadas — reforçou Loss.
Com a enchente de maio, 19 das 23 Ebaps pararam de funcionar. A única que ainda não foi religada é a de número 21, que fica na Vila Asa Branca, no bairro Sarandi. A região foi uma das mais afetadas pelos alagamentos. Segundo o Dmae, os servidores trabalham para retomar a operação no local no final de semana. Entretanto, a estimativa do Dmae é que, como é uma casa de bomba pequena, a falta de funcionamento não irá provocar transtornos na região neste final de semana.
Não deve ocorrer inundação na Capital, diz IPH
Conforme o hidrólogo e professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, Fernando Fan, a chuva prevista para o final de semana não deve provocar novas ocorrências de inundações em Porto Alegre.
— Existem dois fenômenos relacionados ao excesso de água que aflige em Porto Alegre. Um deles é a inundação, que é a subida das águas do Guaíba que acaba entrando dentro da cidade. Isso ocorre na região das Ilhas, na Zona Sul, que não tem proteção. Recentemente, a água acabou superando o nosso sistema de proteção. Em relação a essa subida das águas do Guaíba, as previsões não têm indicado, por enquanto, com os volumes previstos de chuva, essa subida — projetou.
O segundo fenômeno que tem ligação com a água é o alagamento, que poderá ser visto nos próximos dias na Capital em decorrência da combinação entre chuva, lixo acumulado e sistema de proteção fragilizado.
— Só pela existência do lodo, dos entulhos, dos resíduos na nossa drenagem, a gente já está esperando que venham a acontecer alagamentos em algumas regiões. Com as casas de bomba funcionando de forma deficitária, isso eventualmente pode potencializar esse problema dos alagamentos, que é essa falta da capacidade da cidade em drenar a água para fora. Felizmente, a gente está com os níveis do Guaíba em valores moderados, digamos assim, o que facilita também um pouco o escoamento por gravidade para fora da cidade — considerou Fernando Fan.
Sobre a capacidade das casas de bomba, Fan explica que, do ponto de vista do projeto de engenharia das casas de bombas, pode ser considerado normal não ter todos os motores ativos ao mesmo tempo.
— O que acontece é que, se a gente tem, por exemplo, locais que deveriam ter quatro bombas e só temos uma funcionando, possivelmente a gente está trabalhando abaixo dessa capacidade máxima. E se ocorrer, então, uma chuva mais forte, mais torrencial, mais intensa, pode ser que essa água acumule antes de ela conseguir ser bombeada para fora, ocasionando, então, alagamentos, pelo menos temporários, nessas áreas que seriam atingidas por essas chuvas.
O pesquisador salienta, entretanto, ser difícil estimar com mais precisão o que deve acontecer na cidade já que o alerta hidrológico é feito apenas após a chuva começar a cair.