Com grandes pilhas de entulhos e até casas de madeira que foram arrastadas pela enchente ainda ocupando parte das ruas, moradores de alguns bairros de Eldorado do Sul alegam estar preocupados com a previsão de mais chuva no final de semana e se preparam para deixar suas casas nesta sexta-feira (14).
Nos últimos dias, um carro de som circula pelos bairros Vila da Paz, Chácara, Cidade Verde, Itaí e Picada orientando a população sobre o risco de novos alagamentos. Por volta das 11h, o carro chegou até a Avenida Alvicio Heller, no Itaí, pedindo que moradores ficassem atentos para volumes de chuva chegando a 200 milímetros e alertando para a possibilidade de novos alagamentos e divulgando telefones de emergência.
— Nenhum bairro precisa ser evacuado. Nosso carro de som está passando alertando de alagamentos na rua para pessoas ficarem em alerta — esclareceu o coordenador da Defesa Civil e Secretário de Planejamento Josimar Cardoso.
Conforme a Defesa Civil do município, se necessário, moradores devem procurar abrigo no ginásio da Escola Municipal de Ensino Fundamental Getúlio Vargas ou pode m ir para a prefeitura. Ônibus estarão disponíveis para condução de quem sair de casa. Além disso, um abrigo na cidade de Guaíba, que está sendo administrado por Eldorado do Sul, está preparado em caso de necessidade.
No bairro Cidade Verde, um casal de idosos se preparava para voltar para a casa de praia, em Imbé, com medo de a água retornar para dentro da residência, na Rua Bento Gonçalves, onde ainda há detritos espalhados, como na esquina com a Rua Érico Veríssimo.
— Aqui perdemos tudo. Estamos ganhando doações — conta aposentada Vera Leão Pereira, 64 anos.
O marido dela, Agostinho Dartora, 72, lamentava os estragos em itens de recordação da família.
— Aqui estão as fotos, meu histórico, minha carteira de trabalho. Ficou tudo molhado, difícil de recuperar — observava.
Na Rua Getúlio Vargas, no bairro Vila da Paz, montanhas de resíduos dificultam a passagem de veículos e até a entrada nas residências. Não há água na região, por isso muitas pessoas não voltaram para casa e só fazem a limpeza, como o casal Joel Ferreira Alves, 37 anos, que é operador de máquina pesada, e a dona de casa Luciana Rolim Bonelli, 47 anos.
Os dois estão acampados em uma barraca no pátio da mãe de Luciana, que fica no bairro Cidade Verde, outra região que está em alerta novamente. Dentro da casa deles, onde moravam com a filha de 9 anos, há rachaduras nas paredes, deixando ainda mais inseguro e incerto o retorno para casa.
— Não tenho mais o que fazer nessa casa. Eu não vou colocar minha família aqui dentro e correr o risco de acontecer uma tragédia. Vendi meu caminhão para colocar aqui e hoje estamos aí, sem nada (…). Ninguém sabe mais o que fazer, inclusive estamos saindo daqui, porque não dá para ficar — desabafa Alves, sem conter o choro.
A esposa dele, Luciana, mostra a casa do vizinho, que ficava do outro lado da rua, parada na entrada no pátio.
— Chegou até aqui. Fica difícil até de entrar em casa. A água chegou até o segundo andar na nossa — mostra ela.
No Chácara, moradores pedem agilidade no recolhimento dos entulhos
No bairro Chácara, a reportagem de Zero Hora foi abordada por dezenas de moradores da Rua Lajeado que afirmam estar indignados com a falta de equipes da prefeitura para retirada dos materiais que foram retirados das casas e bloqueiam parcialmente a via.
— Estamos preocupados, porque está prevendo chuva de novo, pode encher e não foi recolhido o lixo. Não sabemos nem para onde vamos. A verdade é essa — afirma Priscila Rocha, 41 anos, que foi resgatada por um rebocador do Exército no dia 6 de maio, em ação acompanhada por Zero Hora.
A vizinha da casa da frente de Priscila, Lorena Santos Artus, 74 anos, ofereceu abrigo para a família da moradora e disse que vai para um sítio em Barra do Ribeiro por precaução.
— Já ficamos lá e vamos voltar hoje, até a noite pretendemos voltar. Mas a gente está com tudo jogado aqui, não tem como levar. As coisas que a gente lavou aqui embaixo não tem como levar porque lá em cima é lodo (no segundo andar da casa). Inclusive, nós estávamos dormindo no colchão molhado com plástico e um cobertor. Aí ontem eu fui na prefeitura e eles deram um colchão lá para nós, mas não tem como — relata a aposentada, que também acrescenta que os caminhões-pipa que estão levando água para a região estão com dificuldade para passar em meio aos entulhos.
Questionado sobre a limpeza e sobre um plano de ação com a previsão de chuva, o secretário de Obras de Eldorado do Sul, Hermeto Ramires, disse que os bairros citados pela reportagem “foram os últimos a baixar as águas” e que “todos esses bairros tem programação de retirada pra hoje”. No entanto, o cronograma repassado por ele para a data de 14 de junho cita os bairros Delta, Centro, Loteamento, Medianeira, Cidade Verde (Rua do Comércio) e Vila Schimitt (Rua Coração Gaúcho). Ele ainda disse que haveria uma força-tarefa no sábado e domingo, mas não detalhou como será realizada.