Diante da preocupação com a previsão do tempo para este final de semana em Porto Alegre, moradores dos bairros Humaitá, Sarandi e Farrapos cobram agilidade na limpeza das regiões afetadas pela enchente de maio, mas que ainda seguem tomadas por montanhas formadas pelo lixo.
A reportagem de GZH circulou nesta sexta-feira (14) nos pontos mais afetados por entulho nas três regiões, onde encontrou bloqueios em ruas e avenidas, devido a quantidade de materiais, que variam de móveis e eletrodomésticos até ferragem, alimentos e restos de residências.
Em parte das localidades, foram encontradas equipes atuando na limpeza, mas em regiões mais ao fundo dos bairros e próximas de grandes avenidas, como a rua 698, na Vila Liberdade, que pertence a Vila Farrapos, um corredor de entulho foi formado, impedindo o acesso de famílias às moradias e até mesmo a circulação.
Cerca de meia hora após a chegada da equipe de reportagem de GZH, uma equipe de limpeza e maquinários foi ao local para iniciar a remoção do lixo da área.
Proprietária de um salão de beleza na Vila Farrapos, Caroline Sader, 39 anos, perdeu tudo durante a enchente e iniciou a limpeza da casa, ainda afetada pelo cheiro e lama. No local, ela e as famílias estavam ajudando na renovação de materiais, como forma de auxiliar nos trabalhos do maquinário, devido ao tamanho da rua.
Porém, a ação só foi possível após ela e vizinhos irem até a rua Voluntários da Pátria, onde havia uma equipe do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) trabalhando, para pedir que auxiliassem na retirada do entulho.
— Eu perdi tudo aqui em casa e no meu salão. Eles não vinham aqui nunca e tivemos que protestar antes. A prefeitura fecha o olho quando é vila e deixa por último. Nós precisamos de agilidade. Vai chover de novo e alagar tudo, mais uma vez — cobrou ela.
Segundo o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), equipes trabalham em 33 pontos afetados pela enchente na Capital nesta sexta-feira. Um terço dos locais está concentrado no Sarandi, na Vila Farrapos e no bairro Humaitá.
Bueiros cobertos
No Sarandi, GZH encontrou bueiros tapados por entulhos e conversou com moradores de pontos onde a água atingiu a marca mais elevada. Na rua Oliveira Lopes, o nível chegou em quatro metros e 22 centímetros.
O consultor comercial, Alexsandro da Silva Neto, 45 anos, é morador da rua e está fazendo a limpeza da residência. Porém, com a previsão do tempo marcando intensa, ele a família têm uma preocupação, o entupimento da casa de bombas 10.
— É uma rua paralela e é imensa a quantidade de material jogado fora. A nossa preocupação é que o valão passa atrás da última casa aqui da rua. Esse valo leva a água para a bomba 10, que faz o escoamento. Esse lixo todo vai parar lá na estação — afirma.
Ainda conforme o morador, vizinhos da rua e de locais próximos conversaram com as equipes de limpeza, mas não receberam confirmação de data para início da retirada dos entulhos.
— Se eles não tirarem (o lixo) daqui, vai entupir tudo. Não adianta limpar na parte de cima se eles não começarem por baixo. O motivo que pode piorar a situação está aqui. Atendemos o pedido do DMLU de retirar todos os carros, mas eles não voltaram — lamenta
Na rua Oliveira Lopes, além das montanhas de entulhos, a reportagem encontrou uma vaca morta, arrastada pela força da chuva, segundo as famílias.
Em outros pontos do bairro Sarandi, como as ruas Domingos Santoro, avenida Souza Melo e Adherbal Faria, as famílias temem que os alagamentos sejam agravados pelo impacto do acúmulo de resíduos.
Em coletiva na tarde de quinta-feira (13), o prefeito Sebastião Melo disse que é impossível concluir a limpeza das ruas afetadas nos próximos dias e reafirmou a dificuldade para contratar maquinário.
De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Pavimento e Obras de Terraplanagem do Rio Grande do Sul (Sicept-RS), faltam caminhões e maquinários, além de mão de obra para atuar na limpeza da cidade. Melo admitiu no começo desta semana que há dificuldade na contratação destes equipamentos para auxiliar na retirada de entulhos.
A estimativa do Sicept-RS é de que seriam necessárias em torno de 600 máquinas e caminhões para retirar o lixo de todas as localidades afetadas em Porto Alegre, quase o dobro do número atual destes equipamentos, que gira em torno de 350.