Mesmo com o nível do Guaíba cada vez mais baixo, a situação dos bairros da zona sul de Porto Alegre ainda está longe de ser ideal. Moradores dos bairros Ipanema, Guarujá e Serraria relatam que ainda há ruas alagadas, estragos nas calçadas, problemas de locomoção e muito entulho acumulado. Além disso, os residentes nessa região da Capital temem novos alagamentos.
O medo é porque os episódios de chuva da última semana fizeram com que o nível do Guaíba se elevasse e, assim, as ruas dos bairros da zona sul voltassem a ser invadidas pela água. O empresário Ricardo Prochnow, morador do Guarujá, relata que ele e os vizinhos já ficaram preocupados com a previsão do tempo para esta semana, uma vez que a chuva deve retornar ao Estado na sexta-feira (14).
— Eu limpei a minha casa e a minha pizzaria e, da última vez que choveu, a água subiu de novo. Nessa última vez, não chegou a entrar água em casa, mas veio até o pátio, com bastante lama, animais mortos e lixo. A sensação é de que fomos severamente atingidos por um tsunami, a Zona Sul está convivendo com esgoto e entulho desde que o caos da chuva passou. Ao andar pelo bairro, qualquer um fica chocado — afirma.
O acúmulo de descartes das casas atingidas pelas cheias é um problema notado em diferentes áreas da Capital. Na Zona Sul, é possível encontrar móveis, colchões, pedaços de madeira e outros tipos de entulho espalhados pelas calçadas. Para Prochnow, o lixo é o principal problema do bairro Guarujá no momento. O empresário Pablo Zanini, dono de uma importadora de vinhos localizada no bairro Serraria, conta que a vizinhança tem feito mutirões de limpeza para conseguir dar conta dos estragos deixados pelas cheias e que todo o lixo retirado está nas ruas.
A prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria de Serviços Urbanos (SMSUrb), informou que uma força-tarefa atua na limpeza da cidade. A pasta afirmou que os bairros Lami, Guarujá, Ipanema e Serraria estão sendo atendidos, com atenção maior para as avenidas mais movimentadas. "A operação especial está mantida nos locais em que é possível o acesso das equipes, em atenção à saúde e à segurança dos garis. O recolhimento dos materiais está em execução e seguirá com os repasses de limpeza nos próximos dias", garantiu a secretaria, em nota.
— O bairro está com um cenário de pós-guerra, com muito lixo, casas, muros e grades destruídos, ruas com buracos enormes e muita areia. Nas ruas que antes estavam alagadas, agora já se consegue caminhar, porém as estruturas estão muito precárias, e fica bem perigoso de transitar. As placas de sinalização de trânsito estão todas no chão. Quiosques, pracinhas e o calçadão que liga Guarujá e Serraria estão destruídos — conta Zanini.
No bairro Ipanema, a situação não é diferente. A jornalista Lara Moeller, que mora em frente ao calçadão desde que nasceu, conta que não reconhece mais a vista. Apesar de já ser possível ver um pedaço da faixa de areia, coisa que era impensável até algumas semanas atrás, o cenário ainda é descrito como algo assustador.
— Destruiu o calçadão. Tudo que a prefeitura consertou depois da cheia de setembro terá que ser consertado novamente. As ondas arrancaram as lajotas do chão, o piso levantou em alguns pontos, os bancos que o pessoal se sentava para tomar chimarrão foram destruídos. Agora que nós vimos que a água tem potencial para subir com força, ficamos muito apreensivos toda vez que chove ou que tem vento forte — confessa.
"Equipes da prefeitura já estão trabalhando no levantamento das áreas danificadas com a enchentes para montar um plano de reconstrução", pontuou a SMSUrb sobre os calçadões destruídos e as ruas esburacadas. A pasta também informou que, ao total, 160 praças e parques foram atingidos pela chuva em Porto Alegre. A previsão é de que os espaços sejam restaurados nos próximos meses. A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) garantiu que a recuperação da sinalização será feita após o término da etapa de limpeza dos bairros.