Um morador da pousada atingida pelo incêndio que matou 10 pessoas na madrugada desta sexta-feira (26), na Avenida Farrapos, em Porto Alegre, arriscou a própria vida ao retornar ao prédio em chamas para resgatar a companheira. O vendedor ambulante Jorge Antônio Ferreira contou à reportagem da RBS TV que acordou com "estouros, assim que iniciou o fogo".
— Não queriam deixar eu entrar, porque o fogo já tinha tomado conta, mas eu entrei. Não vou deixar minha esposa morrer. Entrei igual e, graças a Deus, consegui pegar ela — relatou o homem.
Tudo que o casal conseguiu pegar do local foram duas mochilas e duas sacolas com cobertas, panelas e outros pertences.
— Não tenho um centavo, não sei para onde eu vou, nem onde eu colocarei as poucas roupas e panelas que conseguimos salvar — disse Jorge.
Jorge e a companheira, Juliana, serão encaminhados ao Hospital de Pronto Socorro (HPS). Eles passarão por exames e avaliação médica, pois inalaram fumaça durante o incêndio.
O local recebia pessoas em situação de vulnerabilidade social, segundo a prefeitura de Porto Alegre. Estavam no espaço, que é privado, 30 pessoas, sendo que as estadias de 16 delas eram mantidas com dinheiro público.
A causa do incêndio ainda é desconhecida. O Corpo de Bombeiros avalia que o fogo se alastrou rapidamente porque os quartos da pousada eram muito próximos. Isso teria feito com que pessoas que estavam no local fossem impedidas de sair.
O delegado Leandro Bodoia, responsável pela investigação, aponta que um morador da pousada teria tentado apagar o incêndio com um colchão, que pegou fogo e as chamas atingiram uma parede de madeira, alastrando-se em seguida.
A versão se opõe à da Defesa Civil, de que há a hipótese de incêndio criminoso. O Instituto-Geral de Perícias (IGP) é o órgão que poderá atestar o que aconteceu.
O incêndio
A pousada fica na Avenida Farrapos, entre as ruas Garibaldi e Barros Cassal, no sentido Centro-bairro. Os bombeiros foram ao local para combater o incêndio por volta das 2h. O fogo foi controlado por volta das 5h. No primeiro andar do prédio, foram encontradas duas vítimas. No segundo, cinco. Já no terceiro, outras três.
Oito pessoas foram resgatadas. Elas precisaram de atendimento médico e foram levadas pelos bombeiros e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para os hospitais de Pronto Socorro e Cristo Redentor.
Os bombeiros divulgaram que o espaço funcionava de forma irregular, sem PPCI nem alvará. Representantes da pousada negam, e a prefeitura afirma o local funciona totalmente de forma regular, segundo parecer da assistência social.