Nos últimos cinco anos, de 2019 a 2023, foram registrados 344 acidentes de trânsito que causaram 355 mortes nas vias de Porto Alegre. A maior parte das ocorrências fatais é de atropelamentos, e a maioria das vítimas era idosa.
Conforme os números da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), ao longo desse período, foram registrados 121 atropelamentos que causaram mortes na capital gaúcha. Morreram nestes acidentes pessoas com idades de seis a 91 anos, mas a população idosa representa mais da metade dos registros (56,2%), com 68 óbitos de pessoas de 60 anos ou mais por atropelamento. Na população da Capital, os idosos são pouco menos de 22%, de acordo com o IBGE.
Uma das vítimas foi Zenaide Costa do Nascimento. No dia em que completava 73 anos, em dezembro de 2022, a idosa foi atropelada por um carro que fugia da polícia e invadiu a calçada. Um dos três filhos de Zenaide, Itamar do Nascimento da Rosa, conta que o acidente afetou profundamente a família:
— Ficou a saudade, bastante. Tanta saudade que meses depois meu pai foi atrás dela. Coitadinho, faleceu também. E não tem o que explicar. Não tem o que explicar. Duas perdas em seis meses. Tudo isso por uma brutalidade.
A morte ocorreu em uma das curvas da Avenida Serraria, na Zona Sul, e não foi a primeira registrada no local. Pelo menos um outro acidente fatal aconteceu ali, em 2016. A vítima conduzia uma moto. A partir da morte da mãe e do histórico da via, Itamar tentou acionar as autoridades em busca de mais segurança no trecho, com a instalação de quebra-molas, mas relata que não teve respostas.
Conforme o diretor-presidente da EPTC, Pedro Bisch Neto, reduzir o número de mortes no trânsito de Porto Alegre é uma meta constante do órgão. Neste ano, devido aos dados levantados, o foco são os idosos e os motociclistas, que estão envolvidos em mais da metade dos acidentes fatais, seja como vítima ou como causador. As ações vão desde fiscalização até investimento na infraestrutura.
— Existem atropelamentos variados pela cidade. Nós colocamos no mapa os pontos quentes, onde teve dois ou mais atropelamentos, e investimos na infraestrutura. Recentemente, foram instaladas 10 lombadas eletrônicas exclusivamente em pontos onde aconteceram, no mínimo, dois atropelamentos. A ideia é buscar nexo de causalidade. Porque um atropelamento ao acaso, numa rua do interior, acontece até na garagem — explica Neto.
Educação e fiscalização
Outra frente da EPTC para prevenir os atropelamentos é a educação no trânsito. Através de ações com a Secretaria Municipal da Educação (Smed), o órgão busca ensinar crianças para que elas repassem aos familiares cuidados importantes no trânsito. Na visão do professor de Engenharia Civil da Feevale, Glauber Silveira, que atua há 35 anos em projetos de infraestrutura viária e rodoviária, este é um caminho essencial:
— Para mim, é fundamental a educação para o trânsito. Eu estou convicto de que esse é um dos caminhos necessários (para reduzir o número de mortes), porque ao fazer isso, nós estamos também agindo na questão comportamental. Sem isso a gente não vai conseguir, por mais que se faça uma boa infraestrutura, reduzir os acidentes e as mortes.
Silveira complementa que a educação não deve ser direcionada somente aos condutores, mas a todos os envolvidos no trânsito, seja motorista, passageiro, ciclista ou pedestre. Mas ele também relembra a importância da fiscalização:
— O ser humano precisa ser fiscalizado para que ele se lembre e tenha que cumprir as regras. Se todos fossem educados, se todos fossem conscientes, se todos tivessem noção dos perigos, a fiscalização seria a mínima. Mas como isso não ocorre, a fiscalização de trânsito precisa estar presente para poder lembrar os condutores da importância de cumprir a sinalização.
E este é um dos caminhos adotados pela EPTC, quanto à mortalidade de motociclistas na cidade, com a Operação Duas Rodas. De acordo com os números, durante as ações já foram abordados 604 condutores que não possuíam Carteira Nacional de Habilitação (CNH) para conduzir motos. Seja por não ter a categoria, estar com o documento suspenso ou, até mesmo, não possuir nenhum tipo de habilitação.
— O grupo mais perigoso, mais propenso ao acidente, é o grupo sem carteira e sem condições técnicas — complementa Neto.
Características dos acidentes fatais de trânsito em Porto Alegre
- 122 acidentes (35,47%) foram registrados à noite;
- Pessoas com idades entre 26 e 35 anos compõem o segundo grupo, depois dos idosos, com maior número de vítimas de acidentes de trânsito fatais;
- Mais da metade (54,07%) dos acidentes fatais dos últimos cinco anos tiveram motos envolvidas;
- As vias com maior número de mortes no período são: Avenida Bento Gonçalves, com 20 acidentes fatais; Avenida Assis Brasil com 16; Estrada João Antônio Silveira com 13; Avenida Juca Batista com 12; e Avenida Professor Oscar Pereira com 10.