Samba, suor e diversidade: o Carnaval voltou a tomar conta do trecho 1 da orla do Guaíba neste domingo (18). Sob o sol e um calor na casa dos 30ºC, o Circuito Orla da Diversidade recebeu milhares de pessoas na Avenida Edvaldo Pereira Paiva, entre a Usina do Gasômetro e o Parque Harmonia.
O evento é organizado pela Pró Bloco, uma das vencedoras do edital para Projetos dos Blocos de Rua do Carnaval, da prefeitura de Porto Alegre. Conforme a Produtora Cultural, 35 mil pessoas passaram pela folia na Orla neste domingo. No sábado (17), o público chegou a 15 mil e atravessou o trecho acompanhando Lula Bloco, Bloco do Isopor, Bloco Delas e Turucutá.
A folia começou neste domingo com o Bloco da Laje, logo às 13h. O sol era forte, embora às vezes resolvesse se esconder entre as nuvens no começo da tarde. Para os foliões, tudo bem. O público marcou presença com seu colorido.
Aliás, o colorido estava presente nas roupas, roupas, fantasias, adereços (tiaras, presilhas, colares etc.) e no glitter espalhado pelos corpos. Também havia quem encarasse os blocos de sunga, maiô ou top. Entre as fantasias, as plaquinhas com letreiros persistiram por mais um ano (“Destino”, “Misterioso”, entre outros exemplos). Havia referências aos videogames, com pessoas fantasiadas de Mario ou Luigi. A reportagem notou uma tendência maior aos chifres de diabinho (a) e tridentes, mais uma vez. Pela turma celestial, apenas um rapaz com asas de anjo. Vitória da turma de baixo.
O Big Brother Brasil também era tendência no Circuito Orla da Diversidade: havia um ambulante vendendo tiaras com os dizeres “Calma Calabreso”, frase do humorista Toninho Tornado que viralizou após Davi proferi-la no reality show.
Falando em ambulante, teve um que vendia óculos escuros escrito “Boiadeira”, além de copos da cantora Ana Castela. Ele veio de Caxias do Sul, onde esteve no sábado para comercializar produtos relativos à artista sertaneja, que foi uma das atrações da Festa da Uva. Então, tentou vender o que sobrou no Carnaval da Orla.
Depois do Bloco da Laje, que costuma trazer canções carnavalescas autorais, foi a vez da Tribo Carnavalesca Guaianazes emendar vários clássicos da folia. O público vibrou com De Bar Em Bar, Didi Um Poeta, samba-enredo de 1991 da União da Ilha, uma sequência de Tim Maia — O Descobridor dos Sete Mares e Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar) —, Pingos de Amor (grenalização rolou aqui, com o pessoal puxando brasa para seu time) e a inevitável Fogo e Paixão, de Wando.
Na sequência, Bloco Ziriguidum coloriu o trecho com azul e amarelo, empolgando o público que aumentava com clássicos pops, como Saideira (Skank) e Exttravasa (Claudia Leitte). Depois passariam também Bloco da Junção e Bloco Banda da Saldanha, com a festa prevista para ocorrer até por volta das 21h.
À tarde, os foliões estavam animados em meio ao calor, pulando, cantando, beijando, dançando e até formando trenzinhos. E era um público diverso, nos mais variados sentidos. Por ali estava o casal formado por Miriam Paranhos, 54 anos, e Isabel Dávila, 61. Elas estão juntas há 31 anos.
Para Miriam, o Carnaval na Orla é um bom encaixe:
— Estou adorando tudo! O espaço amplo daqui dilui melhor o público, além de ter um ventinho que refresca. E a diversidade, obviamente. Que também se estende aos blocos, uns mais focados em marchinhas e outros em samba.
Por conta do sol e calor, Isabel brincou:
— Só acho que poderia começar depois das 22h (risos).
Quem estava sozinho no Circuito era Guilherme Rodrigues, 30 anos, que veio de Santa Cruz do Sul. Usando glitter na face, ele percorreu mais de 150 quilômetros para curtir os blocos. O programador costuma fazer o trajeto também em outras festividades. Para Guilherme, o Carnaval de rua porto-alegrense estava sendo um momento de libertação.
— Destaco especialmente a liberdade. Aqui posso ser quem eu quero, algo difícil na minha cidade, por questões de família e trabalho. Pessoas novas, rostos desconhecidos — refletiu.
Conforme Ian Angeli, coordenador da Pró Bloco, a organização deve se qualificar cada vez mais para o Carnaval. De qualquer maneira, naquele domingo, havia uma emoção diferente.
— Poder fazer um dia que tem uma tribo carnavalesca histórica (Guaianazes), Bloco da Laje, que é um dos maiores blocos da cidade, e a Saldanha… É um dia que fico arrepiado de falar — diz Angeli. — Todo mundo tem direito ao Carnaval. Essa é a nossa base, nossa função maior. Ainda temos muitos dias pela frente.
O Circuito Orla da Diversidade ainda terá mais duas datas com blocos: nos dias 2 e 10 de março, organizados pela Pró Bloco. Já nos dias 3 e 9 de março é a vez do Circuito das Famílias, com blocos e programação que serão pensadas para as crianças.