Um domingo de sol e calor, que chegou aos 29ºC durante a tarde, foi propício para os porto-alegrenses se despedirem do Carnaval de Rua 2019 já no outono. O último dia de folia na Capital se concentrou na Orla do Guaíba, com a passagem de quatro blocos: Ai Que Saudade do Meu Ex, Do Guerreiro, Filhos do Cumpadi Washington e Império da Lã.
A festa na Orla começou pela manhã, com desfile do bloco Ai Que Saudade do Meu Ex e prosseguiu à tarde com o Do Guerreiro. No "horário nobre" deste domingo de Carnaval, quanto o sol começava a se pôr no Guaíba, o bloco Filhos do Cumpadi Washington animou o público concentrando-se em sucessos do pagode e do axé dos anos 1990.
Milhares de pessoas acompanharam o trio elétrico no final da tarde, de todas as faixas etárias, muitos delas fantasiadas: teve gente com glitter, com colares havaianos, descamisados com gravata borboleta, tiara de unicórnio, alguns de anjinhos, outros de diabinhos (a reportagem contabilizou mais foliões pendendo para o lado pecador), bombeiros e até Emília, do Sítio do Picapau Amarelo, como Miller Freitas, 33 anos.
– Quero resgatar a personagem que marcou a infância de muita gente – conta o biólogo paraense, que vive há sete anos na Capital gaúcha.
Resgatar personagens na folia é uma das marcas de Miller. Ano passado, ele marcou presença no mesmo bloco vestido de Charlie Chaplin, conforme relatou a reportagem de GaúchaZH na ocasião. Para ele, o Carnaval de rua de Porto Alegre melhora a cada ano.
– A localização na Orla é bem melhor. Acaba respeitando a vizinhança e quem não quer ouvir – avalia.
Quem também achou uma boa o Carnaval pela orla é o cadeirante Paulo Sidnei dos Reis Freitas, 56 anos, que seguia sozinho o trio.
– Espero que seja sempre aqui. Carnaval é liberdade. Não tem casa, comércio ou vizinhança reclamando.
Para Paulo, o Carnaval de rua tem potencial para chegar ao nível da Bahia, tanto que ele já faz planos para 2020.
– Espero voltar ano que vem com uma prótese na minha perna esquerda – anseia.
Ainda entre os fantasiados estava Jonatan Trindade, 34 anos. Ele portava uma faixa no peito com os dizeres "Miss Quece" e uma coroa na cabeça.
– Procurei na internet algumas fantasias e vi a questão do "ex". Achei que era uma boa. É Carnaval, vamos curtir – explica.
Ao contrário de Paulo e Miller, a Orla não é o seu ponto carnavalesco preferido:
– Particularmente, gosto mais da Cidade Baixa, por ser mais centralizado. Mas estou curtindo aqui.
Da sofrência ao Tchan
Apesar do Carnaval ser propício às canções mais agitadas, o bloco Filhos do Cumpadi Washington abriu os trabalhos com a melancólica Meu Jeito de Ser, do Só Pra Contrariar. Apesar da sofrência carregada na letra da música ("Era só dizer pra mim, que não sentia mais / Que tudo se acabou como um vento forte que passou"), a versão animada dos Filhos empolgou os foliões.
Sempre em ritmo carnavalesco, o pagode dos anos 1990 foi bastante revisitado no repertório: Marrom Bombom, de Os Morenos; Essa Tal Liberdade (que traz o intrigante questionamento platônico "O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade?"), do Só Pra Contrariar; É Tarde Demais, do Raça Negra; Inaraí (do voluptuoso verso "Seu corpo é um mar por onde quero navegar") e Recado à Minha Amada (Lua Vai), do Katinguelê.
Os sucessos do axé nos anos 1990 também sacudiram os foliões: Arerê, da Banda Eva; O Pinto, Raça Pura; Vem Neném, do Harmonia do Samba. Também pintaram nomes de outros ritmos no repertório do bloco, como Mamonas Assassinas (Pelados em Santos) e Tim Maia (Não Quero Dinheiro). Enfim, uma festa.
Claro que não poderia ficar de fora algumas músicas do É o Tchan! – grupo do pai do bloco, Cumpadi Washington. Teve hits como Pau que nasce torto / Melô do Tchan, A Nova Loira do Tchan e a Dança da Cordinha, que fez foliões improvisaram cordas para passarem por baixo.
– É o melhor de todos os blocos! Venho todos os anos. A música, o jeito que eles conduzem o público. A galera se entrega muito mais – destaca Andressa Souza, 30 anos.
Ela estava acompanhada da amiga Pamela Martins, 15, que acompanhava o bloco pela primeira vez e resumia a experiência como "muito louca".
Andressa também frisou o quanto era bom o Carnaval por ali:
– Pode-se transitar bem mais. Tem mais espaço para se soltar.
Quem também estava curtindo o repertório do Filhos do Cumpadi Washington era Margareth Gustafson, 61 anos.
– É o melhor trio elétrico! É a Bahia em Porto Alegre – definiu a advogada porto-alegrense.
Conforme Margareth, ela é capaz de voltar de Florianópolis, onde costuma visitar sua filha, só para prestigiar o Carnaval de rua da Capital gaúcha.
– Amo! Amo! É a melhor coisa que Porto Alegre tem. É uma festa da diversidade, para todas as pessoas, independente da idade ou religião, que agrega as pessoas independente da identidade – aponta.
Por fim, o último dia de Carnaval em Porto Alegre seria encerrado com a animação da Império da Lã.