Confirmando a tradição, religiosos vestidos de branco e carregando flores iniciaram por volta das 8h a procissão com a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, no centro de Porto Alegre. A caminhada se iniciou na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, na Rua Vigário José Inácio, e seguiu pelas avenidas Mauá e Castello Branco até o Santuário de Navegantes, ao lado da antiga ponte do Guaíba, onde chegou por volta das 10h20min.
Após a caminhada, uma parte dos religiosos dispersou pela Avenida Sertorio, enquanto milhares de fiéis aguardaram a chegada da imagem sacra em frente ao santuário, onde foi realizada uma segunda missa em honra à Virgem, celebrada pelo arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler.
Mais cedo, às 7h, centenas de fiéis já haviam lotado a igreja no centro para a primeira missa em homenagem a Navegantes. Outros acompanharam a celebração nos entornos do templo. Seguindo o planejamento do evento, organizado pela Arquidiocese de Porto Alegre e prefeitura, a Brigada Militar isolou o perímetro da igreja para facilitar o transporte da santa em um caminhão logo após a missa.
— Hoje, nós temos a maior expressão religiosa da cidade. E a referência sempre é Nossa Senhora, Maria de Nazaré, aqui invocada sob o título dos Navegantes. A ela recorremos pedindo que nos inspire e interceda por nós, para que possamos cultivar na nossa vida um pouco do jeito de ser dela — afirmou o arcebispo, à frente do cortejo. — Aqui, nessa expressão religiosa, vemos muitos sinais de sincretismo religioso. Isso diz que a figura de Nossa Senhora não nos pertence, ela é maior do que as nossas confissões religiosas, as nossas posições — completou.
O prefeito Sebastião Melo chegou para a missa, por volta de 7h15min.
— É a festa da cidade. Já tivemos momentos como em 2016, depois do temporal, e agora de novo, depois do temporal. Vim rezar pela cidade. Cada um está aqui por uma razão. Sempre prestigio esse evento, antes como vereador, agora prefeito. E vamos caminhar — disse.
Pela água, embarcações também prestaram homenagem a Navegantes. Eles partiram da Região das Ilhas e navegaram até as imediações da antiga ponte do Guaíba, transportando uma santinha.
A fim de acompanhar a celebração e participar da caminhada, fiéis madrugaram para chegar ao centro.
— Venho pagar promessa e agradecer há uns 17 anos, faça chuva, faça sol — diz Cátia Margarida da Silva, trabalhadora de serviços gerais e moradora da Lomba do Pinheiro, acompanhada pelas primas Sheila e Vana de Oliveira.
Moradora do bairro Humaitá, a aposentada Clara Pasuch diz que participa da procissão há quatro décadas, desde que se mudou de Planalto, no norte do Estado, para Porto Alegre. Carregando uma rosa amarela e uma sombrinha azul, Clara traduz a ligação de fé com a celebração:— A fé me traz estabilidade. É uma forma de saber que não preciso ter medo. Venho de uma família muito cristã — resume a aposentada.
Natural de Ijui e moradora de Gravataí, Herta Irma Cavalari é presença constante na procissão, à exceção dos anos de pandemia, conta. Profissional aposentada da área da saúde, Herta diz ter participado da caminhada até mesmo às véspera de dar à luz uma dos três filhos.
— É um momento de devoção, de agradecimento. Você pode trabalhar o ano inteiro, mas precisa tirar um dia pra agradecer a Nossa Senhora. Enquanto tiver saúde, vou vir todos os anos — garante.