
Autoridades e especialistas não identificam um fator específico que explique as 11 mortes no trânsito gaúcho em um intervalo de 12 horas, entre a noite de quarta-feira (12) e a manhã de quinta (13). Mas devem reforçar campanhas e fiscalização diante do alerta desse cenário.
Das 11 vidas perdidas, nove foram em rodovias estaduais, uma em rodovia federal e uma no trânsito de Porto Alegre. As duas ocorrências mais graves foram registradas no Noroeste, onde uma colisão matou três pessoas na RS-155; e na Serra, onde pai e dois filhos morreram na-RS-446 após baterem em um caminhão.
— Do segundo semestre de 2024 até agora, temos um fenômeno de elevação no número de acidentes, principalmente com mortes. Ocorre de forma geral, em rodovias estaduais, federais e, inclusive, em perímetros urbanos. Temos que trabalhar de forma muito direcionada, principalmente naqueles pontos de maior risco para prevenir tais acidentes — afirma o coronel André Luiz Stein, comandante do Comando Rodoviário da Brigada Militar.
Em estradas federais, um motorista morreu em Cruz Alta, na BR-158, após se envolver em uma colisão frontal com duas carretas.
— Neste acidente, o trecho era de pista simples e curva onde era proibida a ultrapassagem. A gente consegue perceber que o fator principal para um trânsito seguro é o comportamento do motorista, ele saber que não pode fazer ultrapassagem em local proibido — explica Douglas Paveck, chefe de Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Estado.
Dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) apontam que em 2024 aconteceram 1.507 acidentes com mortes, contra 1.432 em 2023 (aumento de 5,2%). O número de mortes no trânsito gaúcho foi de 1.652 em 2024, ante 1.576 em 2023, alta de 4,8%.
O efeito celular
Autoridades e especialistas apontam para um fator comum em ocorrências: o uso do telefone celular.
— A letalidade está ligada a velocidade, consumo de álcool, direção perigosa. E nós temos um componente novo que é o celular. Estamos nos distraindo mais. O celular, hoje, está ocupando quase espaço do álcool como um fator — afirma Diza Gonzaga, diretora institucional do Detran gaúcho.
Na avaliação da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), a distração provocada pelo uso do telefone pode ser observada em acidentes de menor gravidade. Nos dois primeiros meses deste ano, foram registradas 1.242 ocorrências, contra 690 colisões no primeiro bimestre de 2024.
— Tivemos neste janeiro e fevereiro um aumento de 80% nas colisões sem feridos. Isso demonstra que está havendo algum problema de atenção. No semáforo, há uma tendência de as pessoas consultarem o celular, atrasarem a saída ou terem uma batida atrás, pequenas batidas — avalia Pedro Bisch Neto, presidente da EPTC.
A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) faz um alerta para o chamado efeito "pós-chamada". É uma circunstância em que, mesmo com o uso de bluetooth veicular, o motorista pode se distrair após encerrar a chamada em decorrência da conversa que teve ao telefone.
— Por pelo menos mais três segundos você fica com a sua atenção voltada para aquela informação. Se você está dirigindo um veículo a 80 km/h, nestes três segundos você percorre praticamente um campo de futebol sem perceber absolutamente nada que tem à sua frente — alerta Ricardo Hegele, vice-presidente da (Abramet).