O mundo é conectado, hoje, por pelo menos 570 cabos submarinos que, se fossem dispostos em linha reta, somariam mais de 1,4 milhão de quilômetros — extensão equivalente a três vezes e meia a distância entre a Terra e a Lua. Esse vasto conjunto de filamentos de fibra ótica responsáveis por transportar dados tem uma peculiaridade: nenhum deles aporta no litoral do Rio Grande do Sul. Mas isso pode estar prestes a mudar.
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Está em estudo a conexão do Estado a um dos cabos que passam ao largo da costa gaúcha em direção à Argentina. Do Litoral, a fibra ótica seguiria por terra diretamente até a Capital. Isso colocaria Porto Alegre em um novo patamar de competitividade para atrair negócios voltados a tecnologia e inovação por permitir a transmissão de informações em quantidade e velocidade muito maiores.
Fontes do setor de tecnologia e da prefeitura avaliam como muito provável que essa ligação ocorra dentro de um par de anos. A empresa responsável pelo projeto, a V.tal, confirma que vem trabalhando para concretizar a ideia, mas, ao menos publicamente, ainda não firma compromissos ou garante prazos.
— No momento, estamos realizando estudos técnicos e de viabilidade financeira — afirma o vice-presidente de Engenharia da V.tal, Cicero Olivieri.
A V.tal lançou ao mar em 2021, em parceria com a Meta — empresa responsável por Facebook e Instagram —, 2,6 mil quilômetros de um cabo chamado Malbec ligando Rio de Janeiro e São Paulo à Argentina (o nome é uma homenagem ao vinho produzido no país vizinho). Desde aquele momento, já havia previsão de que Porto Alegre poderia se tornar um outro ponto de ligação.
Toda essa malha de cabos que repousam no fundo dos oceanos é o caminho que serviços utilizados diariamente, desde o streaming de um vídeo até uma chamada de voz, percorrem para se conectar a usuários em diferentes partes do globo. Servidores localizados nos Estados Unidos, por exemplo, dependem dessa estrutura para se ligar a outros lugares como o Brasil — onde, depois de seus sinais trafegarem pelo leito marítimo, completam a viagem por meio de redes em terra.
Fortaleza, no Ceará, é hoje o principal ponto de chegada e partida da fiação oceânica no país, em razão da maior proximidade com os EUA e com a Europa.
O litoral cearense conta com uma dezena de conexões. Dispor de uma ligação direta a essa teia submersa teria um grande impacto para os gaúchos, ao reduzir a latência (tempo de resposta) da internet para empresas que venham a se instalar na Capital.
— Hoje, o tráfego (de internet) no Brasil vai por via terrestre até São Paulo, Rio de Janeiro ou Fortaleza, de onde então segue para o destino final (por cabo marítimo). Quanto mais pontos de interconexão ao longo do caminho, pior fica o sinal. Então temos hoje várias empresas avaliando qual seria o custo e a redução da latência se, em vez de (o sinal) subir até Fortaleza, fosse de forma mais direta. Apostamos que Porto Alegre pode ser um novo centro para distribuir esse tráfego — afirma o vice-presidente sênior de Customer Experience da empresa de data centers Scala, Cleber Braz.
A necessidade de dar conta de uma demanda cada vez maior por dados e velocidade de navegação na internet mantém em alta a implantação desses cabos de fibra ótica ao redor do globo. Estimativas indicam que, entre 2022 e 2024, o investimento na construção desse tipo de infraestrutura pode chegar a US$ 10 bilhões, ou cerca de R$ 50 bilhões. A expectativa da Capital é contar com uma fatia desse montante.
— Porto Alegre tem como vantagem a proximidade com o Uruguai e a Argentina. Poderia atender o mercado argentino porque, lá, as condições socioeconômicas não são as melhores para se investir atualmente — complementa Braz.