Os moradores do condomínio onde foi registrada uma explosão no bairro Rubem Berta, zona norte de Porto Alegre, participaram de nova reunião com representantes da construtora Tenda e do poder público. O encontro ocorreu em um espaço do Instituto de Educação São Francisco, na mesma região onde fica o condomínio. A reunião foi marcada por tentativa de esclarecimento, dúvidas sobre moradias temporárias e momentos de insatisfação com as respostas, principalmente das fornecidas pela construtora.
Medidas que haviam sido adiantadas no encontro da última quarta-feira (10) foram confirmadas na reunião deste sábado. Entre os anúncios está a suspensão de seis meses da cobrança de financiamento por parte da Caixa Econômica Federal e a isenção da cobrança de três meses da taxa de entrada da empresa Tenda para os blocos 11 e 12 e de seis meses para os blocos nove e 10. Além disso, foram citados pontos sobre a possibilidade de moradores usarem pousadas no município e a cobertura de seguros.
Um dos principais temas citados na reunião foi o futuro dos donos de imóveis da torre 10, que abriga o ponto de explosão. Uma das moradoras relatou que seria inviável retornar para o local em eventual reconstrução da estrutura, pensando no trauma e na insegurança após o fato. O superintendente da Caixa Econômica Federal em Porto Alegre, Renato Scalabrin, citou a possibilidade de transferir o financiamento para outro imóvel:
— Se a definição for pela recuperação (do prédio), e a pessoa falar “não quero mais ficar, posso transferir meu financiamento para outra unidade que tenho interesse”? É possível, e vocês vão contar com a Caixa apoiando.
Segundo a Caixa, as operadoras de seguro dos imóveis pagarão as parcelas do financiamento dos moradores até a recuperação das unidades.
Weliton Costa, diretor regional da Construtora Tenda, afirmou que integrantes da empresa estiveram no local após o ocorrido, mas isso gerou insatisfação de parte dos moradores. Eles protestaram, dizendo que essa informação não seria verdadeira. Costa reforçou que teve essa ação e citou doações da empresa nesse momento emergencial, outro ponto que foi contestado pelo público. No entanto, o executivo seguiu com o relato da ajuda pós-explosão:
— Logo na sequência, nós mandamos alimentos, bebidas. Caso a administradora condominial e o síndico tiverem a oportunidade de falar, vão confirmar tudo o que foi feito. A gente pode ter tido alguma falha de comunicação de não não termos nos preocupado em divulgar a autoria das doações como sendo da Tenda naquele primeiro momento.
Parte dos moradores seguiu discordando do posicionamento do representante da Tenda. Na avaliação deles, as doações partem de vizinhos e entidades sociais.
Insatisfação e busca por respostas
O promotor de Justiça Cláudio Ari Mello, coordenador do Centro de Apoio Operacional da Ordem Urbanística e Questões Fundiárias do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), informou que o objetivo dessa reunião era buscar soluções para os moradores.
Moradores dividiram o microfone para cobrar ajuda para alimentação e moradia emergencial. Na avaliação deles, falta atendimento e assistência por parte da construtora e dos órgãos públicos.
Morador do bloco nove, Renan Felipe, 31 anos, é um dos que relata essa sensação de falta de auxílio. Atualmente morando com a sogra após a explosão, o motorista de aplicativo diz que a maior parte da ajuda vem dos próprios moradores:
— É uma sensação de impunidade. Porque tu paga imposto, tu vota, faz tudo conforme a lei. É um cidadão, sempre ajudando e quando tu mais precisa, não tem ajuda.
Abiel Hilário, 36 anos, mora em um imóvel do bloco 14. Ele afirma que sua residência não sofreu danos, mas que o clima no condomínio é de tensão. Nos primeiros dias, ele não conseguiu dormir tranquilo, ficando em alerta com qualquer som diferente. Agora, diz que consegue ficar menos preocupado, mas que ainda vê nos vizinhos dos locais mais afetados a sensação de medo:
— Esses dias fui botar o lixo e o vento fez a sacola bater em uma parte do prédio e deu um barulho. Minhas vizinhas foram olhar apavoradas, pensando que tinha acontecido algo mais grave. Até pedi desculpa pra elas — disse o montador de móveis, enchendo os olhos de lágrimas em seguida.
Outras medidas
Também participaram do encontro representantes da Defensoria Pública do Estado e da União, e membros da prefeitura de Porto Alegre. O secretário municipal de Habitação e Regularização Fundiária e diretor do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), André Machado, citou as pousadas que podem ser usadas de maneira emergencial pelos moradores que estão sem local para ficar e demais questões de habitação emergencial. Questionado sobre possibilidade de isenção de pagamento de IPTU, disse que vai tratar desse tema com demais órgãos do Executivo municipal.
O caso
A explosão no terceiro andar da torre 10 foi registrada na madrugada do dia 4 de janeiro. Um dos moradores, Tiago Lemos, de 38 anos, morreu na UTI do Hospital Cristo Redentor na última segunda-feira (8). Um dos feridos ainda permanece internado na casa de saúde.
O quadro de saúde dele é grave. Ao todo, nove pessoas ficaram feridas no incidente.
O Instituto-Geral de Perícias (IGP) ainda apura as circunstâncias da explosão. Moradores relataram um forte cheiro de gás vindo do edifício antes do registro da ocorrência.
A construtora Tenda confirmou na sexta-feira (12) o risco de colapso da torre 10 do condomínio Alto São Francisco, no bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre, após o acessar o laudo técnico que avaliou a explosão.