A tempestade da noite de terça-feira (16) segue causando transtornos a moradores da Capital. Nesta quinta (18), além da falta de água e luz, que se mantêm em alguns bairros, ruas da cidade permanecem bloqueadas por árvores que caíram e ainda não foram recolhidas. Em alguns pontos, chegaram a atingir residências, causando prejuízos.
Na Rua Tobias Barreto, no bairro Partenon, a aposentada Leonir de Souza, 80 anos, teve parte da residência onde vive com o marido, também idoso, destruída. O casal assistia televisão quando a árvore despencou sobre o teto da sala, atingindo também a cobertura e as paredes do hall de entrada, além do quintal. Eles não se feriram.
Até a tarde desta quinta-feira a árvore ainda não havia sido removida e permanecia bloqueando a entrada do terreno. A árvore está escorada sobre paredes da casa, que já apresenta rachaduras.
Apesar do risco de novos desabamentos, Leonir e o marido não abandonaram a residência por medo de que o local seja saqueado. Quando é necessário sair dali, os idosos atravessam o pátio do vizinho. O morador se sensibilizou com a situação e quebrou uma parte do muro que divide as casas para facilitar o trânsito do casal.
— A nossa situação está terrível, dramática — desabafa Leonir. — Já chamamos a prefeitura, a Defesa Civil, os bombeiros, a CEEE, todo mundo, mas ninguém fez nada. Os nossos impostos estão todos em dia, até o IPTU desse ano nós já pagamos. Deveriam ter mais consideração com a gente.
A idosa lamenta, ainda, os prejuízos materiais causados:
— Somos aposentados, ganhamos pouco, não temos dinheiro para reconstruir a casa. Graças a Deus tivemos só o dano material, mas quem vai pagar essa conta? O pior de tudo é que há anos a gente pede para que a prefeitura corte as árvores e eles só enrolam.
Vizinho de Leonir, o aposentado Guilherme Andrade, 61 anos, conta que abriu 20 protocolos para poda e corte das árvores da Rua Tobias Barreto nos últimos dois anos. De acordo com ele, que também teve sua residência atingida por uma árvore, nenhum dos pedidos foi atendido.
— A prefeitura perdeu a mão no trato dessas árvores. Não fazem nenhuma manutenção, não podam, é lamentável. Há árvores aqui que já devem estar com 30 metros, totalmente podres. Eles só aparecem quando acontece alguma tragédia — protesta o aposentado.
A Rua Tobias Barreto seguia sem luz na tarde desta quinta. Conforme os moradores, equipes da CEEE Equatorial estiveram no local, mas alegaram que o conserto necessário só poderia ser realizado após a remoção das árvores que seguem na rua.
Transtornos pela cidade
Na Rua São Manoel, nas proximidades do cruzamento com a Rua Cabral, no bairro Rio Branco, o cenário é de destruição. A via sofreu com a queda de diversas árvores, que chegaram a atingir prédios, veículos estacionados e postes de luz. Nesta quinta, o trecho permanecia com trânsito bloqueado e sem luz. Galhos, troncos e fios também seguiam acumulados.
Proprietário de uma pizzaria na São Manoel, Giovani Mayer, 53 anos, reclama de demora na remoção das árvores e limpeza da via. O empresário afirma que nenhuma equipe da prefeitura esteve no local desde a noite de terça-feira.
Segundo ele, os bombeiros chegaram a realizar a remoção de galhos que apresentavam risco à população, mas teriam alegado que o manejo das demais árvores que sofreram queda é de competência do município.
— Os bombeiros fizeram a parte deles, mas cadê a prefeitura para remover o resto? Cadê a CEEE para arrumar a luz? — questiona o empresário. — Aí tu entra na rede social e vê que o prefeito está no Twitter mandando recado para a Equatorial. O que é isso? Estamos até brincando que, pelo jeito, vamos ter que chamar o Batman para nos ajudar — critica.
Entre as árvores que permanecem no local, uma estaria escorada entre o estabelecimento de Giovani e o prédio vizinho. O empresário afirma já ter feito contato com a prefeitura e teme que a demora para solucionar os problemas cause danos maiores.
— O que mais me choca é que isso não está ocorrendo somente aqui. A gente roda pela cidade e não vê nada sendo feito, não vê um caminhão na rua. Parece que a cidade está abandonada, é uma sensação de descaso total — desabafa.
"Se chover novamente, estamos ferrados"
Na Avenida Professor Oscar Pereira, na altura do cruzamento com a Rua Anchieta, no bairro Glória, moradores reclamam de ineficiência dos serviços. Conforme o aposentado Emilio José Santa Maria, 74 anos, a prefeitura realizou a remoção de partes de uma árvore que havia caído no local, mas não concluiu o serviço. Ainda há troncos com risco de queda que precisam ser retirados, segundo ele.
— Se chover novamente, estamos ferrados — teme o aposentado.
O encontro da Oscar Pereira com a Anchieta está bloqueado por fios de luz que atravessam o cruzamento das vias. No local, também há um poste caído sobre o asfalto.
Há poucos metros dali, ainda na Avenida Professor Oscar Pereira, uma árvore que caiu sobre um estabelecimento comercial segue aguardando remoção nesta quinta-feira. O cenário é parecido na Rua General Jonatas Borges Fortes, onde uma casa também foi atingida por uma árvore, que ainda não foi removida.
Na Rua Francisco Ferrer, no bairro Rio Branco, a demora na remoção das árvores causa dificuldade ao acesso a alguns edifícios. Comércios locais também vêm enfrentando prejuízos com a perda de insumos refrigerados, uma vez que, em razão do acúmulo de árvores na rua, ainda não teria sido possível realizar o conserto da rede elétrica, conforme a CEEE. As árvores também estariam atrapalhando consertos elétricos na Rua Tomaz Flores, no bairro Bom Fim.
O que diz a prefeitura
A prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria de Serviços Urbanos, informou, em nota, que recebeu cerca de 500 pedidos de remoção de árvores caídas nas vias e residências da Capital devido ao temporal. Conforme relatado pela pasta no início da tarde desta quinta-feira, 300 pedidos já foram atendidos.
A secretaria informou, ainda, que "cerca de 30 equipes trabalham durante o dia e a noite desde o temporal da última terça-feira atendendo as prioridades, juntamente com os bombeiros e concessionária de energia elétrica para a retomada da normalidade da cidade o mais rapidamente".
Questionada pela reportagem, a pasta não informou uma previsão para atendimento de todas as demandas ainda pendentes.