Na entrevista que concedeu ao colunista Rodrigo Lopes, o presidente da CEEE Equatorial, principal fornecedora de energia elétrica para Porto Alegre e outras cidades da Região Metropolitana, defendeu-se das acusações de falta de acesso do público aos operadores do serviço e devolveu uma crítica velada ao prefeito Sebastião Melo, que se queixou publicamente dessa dificuldade. Na visão do senhor Riberto Barbanera, a prefeitura da Capital não está cumprindo adequadamente sua atribuição de cuidar da arborização da cidade – segundo ele, a principal causa dos danos à rede elétrica quando ocorre uma tempestade. O grande número de árvores caídas e as dificuldades da prefeitura para removê-las, a ponto de o prefeito ter solicitado o empréstimo de motosserras à população, dão consistência à crítica do executivo da concessionária.
Eis aí uma questão que precisa ser debatida pela sociedade porto-alegrense e examinada com atenção em eventuais investigações parlamentares que estão sendo projetadas para cobrar mais eficiência dos prestadores de serviços essenciais à cidade. O roteiro da calamidade é bem conhecido: árvores plantadas nas proximidades da rede elétrica não recebem a poda e o tratamento adequados e, ao primeiro vento forte, desabam sobre a fiação, ou sobre residências e ruas, causando prejuízos e exigindo mobilização urgente. Com a falta de luz, estações de água e esgoto deixam de funcionar, e a população fica privada dos serviços mais essenciais. Isso sem contar a obstrução de ruas e os danos a imóveis e veículos. Evidentemente, a culpa não é das árvores: é, muito mais, da inépcia dos governantes e gestores públicos para o planejamento urbano adequado e para o tratamento que a vegetação e os equipamentos urbanos exigem.
A culpa é, muito mais, da inépcia dos governantes e gestores públicos para o planejamento urbano adequado e para o tratamento que a vegetação e os equipamentos urbanos exigem
Porto Alegre orgulha-se de ser uma das cidades mais arborizadas do país. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade estima que a Capital gaúcha tenha mais de 1 milhão de árvores plantadas nas calçadas, parques e praças públicas. Recentemente, na metade do ano passado, a Smamus anunciou a implementação de um sistema tecnológico para a gestão digital da arborização urbana com o propósito de melhor diagnosticar árvores que oferecem perigo e prospectar novos pontos de plantio. Pelo que se viu depois do último temporal, porém, a inovação ainda não produziu os efeitos desejados.
Leis e regras sobre o assunto não faltam. Ninguém pode podar ou transplantar espécimes vegetais sem seguir rigorosamente a orientação dos órgãos ambientais e das secretarias municipais que cuidam da arborização. Porém, quando ocorre uma situação como a atual, fica a impressão de que os tutores das árvores porto-alegrenses estão sendo negligentes nos seus cuidados.
Manter árvores sadias é uma questão de sobrevivência para a espécie humana. Árvores são patrimônios ambientais urbanos, dão sombra, produzem oxigênio, abrigam os pássaros e regulam a temperatura. Merecem, portanto, atenção e cuidados de todos para não se transformarem em obstáculos à normalidade da vida nas grandes cidades.