O recuo das águas do Rio Jacuí permite que, aos poucos, os moradores e comerciantes comecem o processo de limpeza dos espaços em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana. Nesta quarta-feira (22), o bairro Centro e parte do Medianeira já apresentavam uma redução do nível da água.
Logo no acesso principal de Eldorado do Sul, parcialmente bloqueado, funcionários de um supermercado faziam uma operação para retirar os sacos de areia, que impediram o avanço do rio, para que os clientes pudessem voltar a entrar no local. Além disso, parte dos sacos e pallets serviram de ponte para que as pessoas conseguissem passar pela água que ainda não havia escoado pela Rua Lateral.
O proprietário do local, Paulo Pinzon, coordenava a ação enquanto uma outra parte da equipe limpava o estabelecimento, que permaneceu fechado por dois dias. Segundo ele, o prejuízo se aproxima dos R$ 460 mil.
— Tiramos cinco caminhões de mercadorias não perecíveis quando água avançou em direção ao mercado. Dos produtos perecíveis, do que foi possível, nós doamos. Mas, perdemos muita coisa. Hoje (quarta-feira), estamos voltando a atender, principalmente, aquelas pessoas que precisam de algo mais urgente, como água — relatou.
No entanto, a enchente causada pelo Rio Jacuí ainda afeta os bairros Cidade Verde, Vila da Paz, Chácara, Sans Soucci, Loteamento, Picada, Irga e Itaí. O número de pessoas fora de casa subiu para 5,8 mil – eram 5,7 mil nesta terça-feira (21).
Segundo o coordenador da Defesa Civil municipal, João Ferreira, mais moradores buscaram os abrigos oferecidos pelo município.
— As pessoas que não quiseram sair das áreas de risco antes, agora, começam a pedir para sair por conta das dificuldades causadas pela demora para a água baixar. As pessoas começam a sentir falta de água potável, de alimentos e a insegurança com os filhos e animais de estimação — explicou.
Atualmente, estão abertos para os desabrigados o Ginásio Getúlio Vargas e o ginásio da Escola Estadual de Ensino Médio Eldorado do Sul. Já a maioria das pessoas, cerca de 5 mil, permanece na casa de amigos, parentes e em abrigos de igrejas e CTGs.
É o caso da aposentada Margot Aymone, 71 anos, que está desde a segunda-feira (20) na casa da sobrinha. Moradora da Rua Cecília Meireles, ela nunca tinha vivenciado a cheia do Rio Jacuí em sua residência. No momento em que isso aconteceu, Margot relata que foi salva pelos vizinhos.
— Eu sabia que tinha que lembrar de pegar os meus medicamentos, as minhas coisas, mas não consegui. Eu não conseguia acreditar. A minha vizinha me coordenou, levantou os meus móveis lutando contra a água. Fiquei olhando aquilo e desconhecia o meu quarto, a minha sala. Eu sempre mantenho a minha casa limpa e aquela água podre entrou sem pedir licença. Eu só pensava na vulnerabilidade da pessoa — lembrou, emocionada.
Ainda segundo a Defesa Civil, a estimativa é de que o município volte a uma normalidade em duas semanas. Nesta quarta-feira, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) liberou parte do acesso principal a Eldorado do Sul. Permanece bloqueado somente o acesso pelo km 107, para quem segue pela BR-290, no sentido Capital-Interior.
Para esta quinta-feira (23), 12 das 19 escolas da cidade seguem com as aulas suspensas por conta da enchente.