Por Raquel Hagen
Presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura no Rio Grande do Sul (Asbea-RS)
Cidades são organismos em constante evolução, acompanhando o desenvolvimento econômico, tecnológico, social e o próprio espírito do tempo. E, para sanar as dores do crescimento, além de uma necessidade, a transformação é um dever, sob pena de tornar esses lugares insustentáveis para a qualidade de vida.
Diversas metrópoles pelo mundo se viram diante desses desafios e buscaram respondê-los com novas visões de planejamento urbano. Entre esses desafios está a verticalização, com a construção de prédios mais altos, especialmente nas áreas centrais. E, sempre que esse tema entra em pauta, acaba reduzido a simplificações grosseiras, que nos distanciam de reais soluções para problemas que nossas cidades enfrentam.
É o caso de Porto Alegre, onde esse assunto voltou ao debate com a revisão do Plano Diretor. Vozes tentam pintar um quadro de que permitir edifícios de maior altura seria uma criação desordenada de arranha-céus em toda a Capital. É um reducionismo, que interdita as discussões e nos afasta de alternativas. A questão é determinar o modelo de cidade ideal para atender às necessidades de sua população. A realidade de Porto Alegre é de uma capital que muito se espraiou e só há poucos anos começou a redescobrir seu Centro Histórico, onde está concentrada grande parte dos serviços e empregos.
Nesse sentido, Porto Alegre se beneficiaria do conceito de cidade compacta: ou seja, aquela com moradia próxima ao trabalho, lazer e serviços, além dos eixos de transporte, reduzindo distâncias e a dependência dos carros. Esse conceito estimula o trânsito a pé e a ocupação dos espaços públicos, ampliando a segurança. Aliás, cabe lembrar que a população da capital gaúcha está envelhecendo mais rapidamente do que a média nacional. Nesse contexto, para os idosos, quanto menores as distâncias a serem percorridas, melhor.
Prédios mais altos são uma das estratégias possíveis para esse adensamento, concentrando mais habitantes numa área, principalmente se oferecerem ao pedestre uma bela fachada ativa, com comércio e serviços que tragam vida à cidade. A altura é apenas um dos elementos considerados no projeto – que também precisará ser compatível com o quarteirão e com as regras de zoneamento, além de passar por estudos aprofundados. É fundamental entender que, por trás de cada projeto arquitetônico, há vários profissionais com razões e critérios específicos.
Temos agora a chance de avançar nessa direção com o Plano Diretor. Se quisermos que Porto Alegre seja mais eficiente e atenda verdadeiramente às demandas de sua população, não podemos fugir de soluções já testadas e exitosas pelo mundo – o que inclui a verticalização. Interditar esse debate é impedir que a cidade evolua.
Neste momento, torna-se mais claro que a arquitetura e o urbanismo precisam ocupar maior destaque nas pautas públicas, a fim de permitir discussão mais ampla e democrática sobre as necessidades de seus habitantes. A Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura no Rio Grande do Sul (Asbea-RS), que tem desempenhado papel ativo nas discussões do Plano Diretor e pretende fazer mais, entende que é preciso planejar, compactar, simplificar e humanizar. A busca por uma cidade mais compacta, onde as pessoas possam viver, trabalhar e desfrutar de serviços próximos, é uma meta que contribui para um crescimento sustentável e uma qualidade de vida melhor para todos os cidadãos.