A tendência de envelhecimento do Rio Grande do Sul atingiu novo patamar após a divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua: Características gerais dos domicílios e dos moradores. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, na última década, o grupo de pessoas com mais de 60 anos avançou de 1,5 milhão de habitantes no Estado, em 2012, para atingir a marca de 2,2 milhões, no ano passado.
E a situação estabelece que, agora, a parcela idosa representa 19,5% da população gaúcha. Dez anos antes, essa fatia era de 13,8%. No país, em igual intervalo de tempo, a proporção se deslocou de 11,3% (em 2012) para 15,3% (no ano passado). O Rio Grande do Sul registrou a maior aceleração em 10 anos, o que consolida o Estado no topo do ranking do envelhecimento no país, seguido por Rio de Janeiro (19,4%) e São Paulo (16,8%).
De um lado, o panorama reflete aspectos positivos. É o caso do aumento da expectativa de vida e da menor taxa de mortalidade infantil. Por outro, traz incertezas para o mercado de trabalho e faz crescer os desafios para a implementação de políticas públicas, sobretudo no que se refere ao setor previdenciário.
Esse é um dos pontos destacados pelo coordenador da pesquisa no Estado, Walter Rodrigues. Ele lembra que, em esfera nacional, o movimento é semelhante, entretanto, o aprofundamento da realidade é muito mais “agudo” por aqui.
— Com 19,5% de pessoas acima de 60 anos, temos a maior fatia da população de idosos do país, e isso se repete na Região Metropolitana. Se comparar com a outra ponta, a soma das pessoas de zero a 13 anos era de 19,2%, em 2012, portanto, maior do que os 13,8% relativos à população de idosos. Agora, isso inverteu e o grupo acima de 60 anos é o de percentual mais elevado em toda a pirâmide etária do Estado. Essa composição dos extremos evidencia o nosso grau de envelhecimento — resume Rodrigues.
Na Região Metropolitana, acrescenta Rodrigues, a elevação é ainda mais representativa do que na média do RS. Passou de 15,2%, em 2012, para 22,15%, em 2022, razão pela qual, o coordenador do IBGE, diz perceber cada vez mais sotaques distintos em circulação no RS. Ele explica:
— Quando há diminuição das faixas mais jovens da pirâmide etária, como agora (a faixa etária de 25 a 29 anos, em 2012 era a maior), porque no segmento que pode ser apontado como o presente e o futuro do mercado sofre uma redução considerável ao compasso em que se aumentam os idosos no topo. É algo bastante complexo não somente para a previdência, mas também porque estamos muito próximos de que perceber que faltará reposição dessa mão de obra — acrescenta.
Desigualdades
A Pnad ainda indica que, em 2022, o país tinha 74,1 milhões de domicílios e 85% deles – o que equivale a 63 milhões – eram casas, enquanto 14,9% (ou 11 milhões) eram apartamentos. A partir de 2019, diz a pesquisa, a proporção de domicílios ligados à rede geral de esgotamento sanitário aumentou de 68,2% para 69,5%.
No ano passado, 78% dos lares urbanos do país estavam ligados à rede geral de esgoto. São Paulo (96,4%), Distrito Federal (94,1%), Minas Gerais (92,3%) e Rio de Janeiro (90,6%) ostentam cobertura de saneamento superior a 90%. Por outro lado, em Estados como Amapá (23,1%), Piauí (23,3%), Rondônia (27,3%) e Pará (28%), a proporção fica abaixo de um terço.
Para o geógrafo, demógrafo e professor do Departamento Interdisciplinar do Campus Litoral Norte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Ricardo Dagnino, isso demonstra o tamanho das desigualdades. Ele destaca que, justamente nos locais que mais carecem, as falhas teimam em continuar.
— Há diferentes países dentro de um mesmo Brasil. Existe o Sul e o Sudeste com condições menos críticas, e realidades ainda muito complexas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste — assinala.