Cerca de um mês depois do começo das inundações no bairro Arquipélago, em Porto Alegre, mais de cem pessoas ainda estão fora de suas casas. São 113 pessoas acolhidas nos abrigos da Ilha da Pintada, de acordo com atualização da manhã desta sexta-feira (6).
Ao longo da manhã, GZH esteve em dois dos pontos mais críticos do bairro Arquipélago: o Ilha Grande dos Marinheiros e Ilha da Pintada.
No trecho norte da Ilha Grande dos Marinheiros ainda há trechos em que veículos mais baixos não passam e a água invade residências. Centenas de moradores estão ilhados e só conseguem sair de barco. Na parte sul, o cenário é de tentativa de limpeza e recuperação dos estragos.
Os moradores que optaram por permanecer em suas casas acabam ficando com poucos mantimentos ou em condições precárias para fazer tarefas do dia a dia, como cozinhar. Por isso, marmitas têm sido distribuídas por voluntários da Escola Marista Tia Jussara. A instituição tem uma sede social no lado norte da Ilha Grande dos Marinheiros, que também foi afetada pela enchente.
— Estamos produzindo cerca de 500 marmitas por dia para os moradores daqui. Utilizamos a cozinha do centro social e dividimos a entrega, geralmente, em três áreas diferentes — explica Carla Goulart, diretora da escola.
Como as vias seguem interditadas no entorno da instituição, o encarregado pelo transporte das marmitas é o marinheiro Alex Luzia, 48 anos, que atualmente está desempregado. A bordo do seu barco, ele vai de uma parte a outra da ilha dando "carona" para funcionários da escola e voluntários.
— Faço tudo isso na parceria com o pessoal aqui. Conheço a região e neste momento estou parado, então consigo ajudar — afirma Alex.
Ilha da Pintada
Já a Ilha da Pintada apresenta sinais de melhora por um lado, mas estabilidade da cheia em outro. A Avenida Getúlio Vargas, que na semana passada teve água na altura da cintura, estava seca nesta sexta-feira. Por outro lado, na Avenida Nossa Senhora da Boa Viagem, na margem do Guaíba, não é possível passar de carro, ainda que o nível da água tenha baixado em relação às duas últimas semanas.
Na esquina dessas duas vias, mora a dona de casa Daniele dos Santos, 41 anos. Na última semana, a reportagem havia encontrado o marido dela, o pedreiro Jeferson Teixeira, 36 anos, correndo atrás das latas de tinta da sua oficina. Agora, ela relata que ambos estão tentando retomar a rotina, mas que durante a noite a água volta a invadir a rua:
— Todas as noites, todo mundo aqui fica em pânico. A rua fica cheia de água. Não como era antes, mas enche. Dentro de casa não tem mais água, mas ficam o barro e móveis estragados.
O nível do Guaíba, na manhã desta sexta-feira, estava em 2m38cm, medida considerada abaixo da cota de alerta, de 2m5cm.
Transtornos nas aulas
A cheia no bairro Arquipélago segue afetando as aulas em cinco instituições de ensino. As escolas estaduais Maria José Mabilde, Oscar Schmitt, Almirante Barroso e Alvarenga Peixoto estão apenas com atividades online. Já na rede municipal, apenas a escola conveniada Anjo das Flores segue com aulas suspensas.