Faltando poucos dias para completar um mês, a cheia do rio Jacuí segue afetando significativamente a rotina dos moradores do bairro Arquipélago, em Porto Alegre. Enquanto muitas pessoas permanecem impossibilitadas de retornar para suas moradias, a solidariedade ganha força para suprir as necessidades mais básicas de quem precisa de ajuda.
Nesta segunda-feira (2), a movimentação foi grande junto a um dos principais acessos da Ilha Grande dos Marinheiros. Cerca de 10 mesas foram posicionadas, formando uma espécie de "balcão de donativos". Dezenas de roupas e calçados doados por pessoas e instituições sensibilizadas com o que aconteceu ficaram à disposição da comunidade. São itens que as famílias perderam em meio à inundação.
A escolha do que levar para casa é feita sem pressa. Após as peças serem escolhidas e retiradas pelos moradores, o restante volta para as caixas de papelão. O destino: pessoas necessitadas das outras ilhas da cidade.
— O que não fica aqui dá para outras famílias que estão precisando também — explica Simone Macedo Borges, líder comunitária.
O cenário atual ainda inspira cuidados. Muitas residências permanecem submersas na região. A casa da Simone não chegou a ser atingida, porque foi construída em cima de uma estrutura mais elevada. Mas o pátio está debaixo d'água.
Por isso, o estado de vigilância é permanente no Arquipélago. Até o início da noite desta segunda, 182 pessoas permaneciam em abrigos provisórios disponibilizados pela prefeitura de Porto Alegre. A maioria delas, 106, encontrava-se na Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, na Ilha da Pintada. As outras 76, no ginásio do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), no bairro Santana.
Nesses locais, a assistência do poder público é integral: desde o café da manhã, passando por almoço, lanches e jantar, incluindo banho, vestuário e lugar para dormir.
Uma parcela considerável dos moradores das ilhas continua dentro de casa ou junto de amigos e familiares próximos. O objetivo é seguir monitorando de perto a situação. O temor por furtos é grande. De qualquer maneira, existe uma expectativa pelo retorno à normalidade nos próximos dias. Por isso, o processo de higienização das moradias, onde já é possível, começa a ocorrer.
Na Ilha Grande dos Marinheiros, os alimentos não-perecíveis doados são distribuídos entre as famílias. As crianças recebem pequenos kits com doces. Na hora do almoço, tem entrega de marmitas. Mais tarde, chega a vez de sanduíches com presunto e queijo chegarem até as mãos de quem passou o dia inteiro trabalhando na tentativa de recomeçar a vida.
— Veio almoço, agora veio o cafezinho da tarde. Só faltou o refri — comentou, rindo, uma das moradoras.