A segunda-feira (2) foi de recomeço para algumas famílias da Ilha Grande dos Marinheiros, em Porto Alegre. Com a presença do sol, moradores de casas que já não estão mais tomadas pela água aproveitaram para dar início ao processo de limpeza.
Dentro das residências, prevalece a umidade. Móveis e eletrodomésticos seguem empilhados. Mas, apesar dos esforços, muitos foram alcançados pela água.
Enir Gomes, 75 anos, vive há mais de 50 no bairro Arquipélago. Conta que esta não foi a primeira vez que presenciou o Rio Jacuí avançar a ponto de atingir as moradias de madeira. No entanto, diz que não recorda outro episódio em que a água tenha subido tanto como em setembro deste ano.
A pia da cozinha ficou submersa. Sofás, guarda-roupas, entre outros móveis, estragaram. Ainda assim, o idoso faz questão de demonstrar compaixão com a população do Vale do Taquari, onde centenas de residências foram destruídas e pelo menos 50 pessoas morreram.
— Se olhar para o lado, tem gente em pior situação. O que dizer lá para aqueles lados (Vale do Taquari)? Até vidas se perderam — observa o aposentado.
Enir mantém alguns eletrodomésticos distantes do chão. O vento registrado na região tem dificultado o escoamento do Guaíba — alimentado pelo Jacuí, que continua em patamares elevados. A água está na porta de casa.
Filha do idoso, Alexandra da Rosa Gomes mencionou a dificuldade que os moradores das ilhas de Porto Alegre vivenciam há muito tempo.
— É difícil. As pessoas de fora perguntam por qual motivo a gente não sai. Elas não sabem a situação de cada família que mora na ilha. Não é assim: "Sai e vai para outro lugar". Não é. Tudo tem um custo. E aqui, pelo menos, é da gente. A gente perde, mas a gente luta e constrói de novo.
Na noite de domingo (1º), cerca de 40 moradores da Região das Ilhas bloquearam a BR-290 em protesto contra a falta de luz no local. Eles afirmavam estar há 16 dias sem luz.