Há 50 anos, o caminho até as praias do Litoral Norte ficou mais curto para os gaúchos. Em 26 de setembro de 1973, era inaugurada a BR-290, conhecida popularmente como freeway.
A primeira autoestrada do país foi um divisor de águas na história do Rio Grande do Sul: as viagens de carro, que antes podiam levar até quatro horas, deixaram de ser perigosas aventuras para os motoristas e verdadeiros testes de resistência para os veículos.
— A freeway foi um novo momento da vida do RS, porque a estrada antiga era terrível e perigosa — conta o colunista de GZH Gilberto Leal, 79 anos.
Como jornalista, ele cobriu a solenidade de inauguração da rodovia, que possui 96,4 quilômetros de Porto Alegre a Osório. Também era o editor em Zero Hora das notícias diárias sobre a freeway.
Segundo recorda, ter um acesso mais fácil e rápido para o Litoral era um sonho acalentado pelos gaúchos, cansados das longas jornadas em direção aos aprazíveis balneários durante os feriados e nas temporadas de veraneio. A nova rodovia possibilitou ainda a ligação da BR-101 com a Ponte do Guaíba, o que facilitou as viagens rumo à Argentina e aos demais Estados brasileiros.
— A freeway foi importante em termos de mobilidade, mas também para o desenvolvimento e escoamento da produção gaúcha — afirma Leal, meio século depois.
Em vídeo, veja como era a freeway há 50 anos:
Antes de a autoestrada existir, os deslocamentos ocorriam pela RS-030, com saída por Gravataí e passando por Glorinha, com diversas paradas durante o trajeto. Eram tempos românticos, em que lentas e extensas filas de automóveis se formavam. E uma palavra definia a jornada até o aguardado banho de mar: paciência.
O fotógrafo Ricardo Chaves, o Kadão, 72, recorda em detalhes como era viajar até Capão da Canoa, onde os pais tinham uma casa na Avenida Paraguassu. De Morro Alto até a praia, sequer havia asfalto. Os carros enfrentavam trecho de chão batido. Naqueles anos 1950, era uma verdadeira aventura.
Conforme relembra Kadão, existiam quatro guaritas da Polícia Rodoviária entre a Capital e Capão da Canoa. Os veículos que se dirigiam ao Litoral precisavam parar nesses postos, onde os motoristas recebiam cartões-ponto de cartolina para serem carimbados.
— Era um cartão de cartolina que colocavam no relógio de ponto e marcavam a hora em que o motorista passava pelo local — diz o responsável pela seção do Almanaque Gaúcho de GZH e Zero Hora.
O primeiro posto ficava em Gravataí, enquanto o segundo era localizado na entrada de Santo Antônio da Patrulha, onde os veranistas costumavam parar para comer um sonho e tomar um cafezinho para afastar o sono e o cansaço.
— Tu carimbavas o cartão e tinha 15 minutos para chegar em Santo Antônio da Patrulha. Se tu apresentasses o cartão antes do tempo, tu eras multado — explica Kadão, que atualmente veraneia em Remanso.
Após o lanche, o motorista pegava um cartão novo na saída de Santo Antônio da Patrulha. Este valia até a chegada a Osório. Lá o cartão era batido pela última vez. Mas também havia outros postos para quem se dirigia para localidades como Tramandaí.
— Quem tinha carro muito bom e acelerava mais, parava pela Lagoa dos Barros e fumava um cigarro. A ideia era não chegar muito cedo e evitar a multa em Osório — lembra.
— Quando eu fui as primeiras vezes a Capão da Canoa, não havia aquela ponte ali. Tinha uma balsa e tu eras obrigado a colocar o carro na balsa para passar — acrescenta o fotógrafo, citando que as pessoas deixavam a Capital com o carro carregado com ranchos de alimentos.
Eram outros tempos, onde a pressa precisava esperar pelo futuro.
Como foi a inauguração da autoestrada
No dia 26 de setembro de 1973, o presidente Emílio Garrastazu Médici esteve na inauguração da BR-290 (freeway). Na ocasião, o mandatário do país não discursou, mas descerrou uma placa comemorativa e hasteou a bandeira do Brasil.
Não houve desenlace de fita simbólica na solenidade que começou às 17h, durou apenas 10 minutos e ocorreu no trevo de acesso da travessia do Guaíba. O governador do RS, Euclides Triches, participou da cerimônia.
O então ministro dos Transportes, Mário Andreazza, fez um pequeno discurso: "Motoristas do RS e do Brasil, a Rodovia Marechal Osório é a melhor do país. Mas foi feita para chegar com vida, não para encurtá-la. Só depende de vocês".
Na sequência, 200 carros formaram uma fila de sete quilômetros e se dirigiram até Osório, onde chegaram após uma hora de viagem. No Parque Histórico Marechal Osório foi oferecido um churrasco para 200 convidados no Galpão Tradicionalista Marquês do Herval. Às 20h30min, Médici retornou pela rodovia para a Capital, onde pernoitou no Palácio Piratini.
Primeira rodovia a passar para a iniciativa privada
Em 10 de março de 1997, a administração da estrada passou para responsabilidade da Concessionária da Rodovia Osório-Porto Alegre (Concepa), formada pela Construtora Triunfo, do Paraná, e a gaúcha SBS Engenharia. O contrato foi assinado pelo período de 20 anos.
Ao longo daquele ano, a Concepa investiu R$ 11,5 milhões em obras. Nos primeiros dois meses de exploração do pedágio, a receita foi de R$ 3,9 milhões.
A concessão da freeway e do trecho da BR-290 sobre a Ponte do Guaíba passou a integrar a chamada Rodovia de Integração Sul (RIS), sob responsabilidade da CCR ViaSul, em janeiro de 2019. A RIS também contempla as BRs 386 (entre Canoas e Carazinho), 101 (de Osório a Torres) e 448 (Rodovia do Parque).
Obras em andamento e projetos para a freeway
Atualmente, são realizadas obras de adequação de três pontes e quatro viadutos na freeway, entre os kms 74 e 88, em trecho correspondido entre Gravataí e Porto Alegre. Uma já está concluída, no km 81, no sentido 0este (em direção à Capital), sobre o canal DNOS 2. Nesses pontos acontece a implantação de acostamentos e passeio de pedestres.
Em relação à ampliação da capacidade de tráfego, a CCR ViaSul pretende, a partir de 2031, começar as obras de extensão da quarta faixa entre Gravataí e Osório.
Para o presidente da CCR Rodovias, Eduardo Camargo, a estrada tem extrema relevância para o Estado.
— Estamos falando da sétima melhor rodovia do país e a melhor do RS, segundo a classificação da pesquisa CNT (Confederação Nacional do Transporte) do último ano. Ao mesmo tempo, é uma via responsável por movimentar parte do PIB gaúcho e do Brasil entre a região Sudeste e o Porto de Rio Grande — avalia.
— Ao todo, de 2019 até agora, já temos um investimento realizado de mais de R$ 260 milhões na freeway. Destes, são mais de R$ 34 milhões só neste ano — acrescenta.