A restauração do prédio da Fundação Pão dos Pobres, em Porto Alegre, está 50% concluída. Nesta quinta-feira (3), GZH teve acesso ao canteiro de obras e registrou detalhes dos trabalhos em execução. No próximo dia 15, às 18h, ocorrerá a solenidade de entrega da fachada situada no lado da Avenida Praia de Belas e da iluminação cênica.
— Temos a fachada da Avenida Praia de Belas finalizada e parte da localizada na Rua da República concluída. Ficam faltando as fachadas que ficam na nossa hortinha, no lado da Loureiro da Silva, e a maior, que é a interna — explica Lucas Volpatto, arquiteto responsável pela restauração e que comanda a equipe Studio 1 Arquitetura.
Ao percorrer as dependências internas do Pão dos Pobres, é possível ver operários trabalhando, material de construção, andaimes, peças recém-restauradas, tapumes e o que está sendo preparado, tudo sob o barulho dos equipamentos.
Uma das novidades será uma tela de grades que está concluída na Avenida Praia de Belas. As pessoas que passarem pelo trecho da via poderão enxergar a frente do imóvel, o jardim e uma espécie de pracinha que está sendo preparada. Neste momento, tapumes impedem que o público perceba as transformações.
Durante os trabalhos, foi descoberta parte de um muro, que acabou restaurado e será exibido no dia 15.
— Toda esta pedra vermelha é uma novidade — comemora Volpatto, mostrando a parte do muro ainda desconhecida da população.
A porta do hall de entrada, rica em detalhes esculpidos na madeira, está restaurada à espera da reinstalação. Foi projetada, assim como o prédio, pelo arquiteto alemão Joseph Franz Lutzenberger, pai do ambientalista José Lutzenberger. Por sinal, familiares estarão presentes na solenidade deste mês, assim como autoridades municipais e estaduais.
— Estamos retomando as cores de 1925, o que é muito simbólico — cita o arquiteto.
As prospecções cromáticas revelaram mais de quatro camadas e diversas composições de cores que o edifício já teve. Os tons remetem à aquarela do arquiteto Joseph Lutzenberger, realizada para o projeto daquele ano.
A última intervenção nas fachadas do prédio ocorreu em 2003. Em 2017, teve início o processo de restauração, uma vez que a evolução do recalque da fundação fazia o edifício afundar gradativamente. Com fundação rasa, o edifício foi erguido sobre um solo arenoso e mole de decomposição orgânica. A rocha está a 18 metros de profundidade.
— Vamos inaugurar também a iluminação cênica. Serão mais de 60 lâmpadas LED que iluminarão cada janela. A imagem do Santo Antônio ficará iluminada durante toda noite — antecipa o arquiteto, mencionando que a cor das luzes será neutra.
A inserção de uma subcobertura metálica no telhado e as melhorias nas quatro casas de acolhimento ocorreram entre 2018 e 2019. Há dois anos, começaram as restaurações das fachadas.
Um estudo detalhado sobre a construção da edificação foi realizado em 2022, com a participação de uma equipe multidisciplinar de restauradores, historiadores e arquitetos. A arquiteta Cristina Maluf, que elaborou o projeto de iluminação cênica, realizou o mesmo trabalho há 20 anos.
— Esta fachada está dando outra cara para a Fundação Pão dos Pobres. Está tirando aquela mística de que todo prédio público é horrível — observa a servidora pública Marcia Amaral Rockenbach, 59 anos, que passava pela Avenida Praia de Belas nesta quinta-feira.
A inauguração da fachada principal está sendo realizada com recursos próprios da fundação. Os trabalhos retomam os tons originais da edificação (amarelo nas paredes e verde nas venezianas) e englobam o restauro do grupo escultórico, o muro da Baronesa e a implantação da iluminação cênica.
— Acho que a restauração vai valorizar o bairro e preservar o prédio histórico. Muitos estão desvalorizados aqui na Cidade Baixa — atesta a profissional autônoma Luciane Soares, 49.
A lateral da Avenida Loureiro da Silva ainda não começou a ser recuperada, o que deve começar apenas em novembro. Operários em andaimes lavavam parte da fachada interna, que fica perto das quadras esportivas.
Por sua vez, na sala dos azulejos, por onde os visitantes entrarão no dia 15, foram removidos os painéis de madeira que estavam nas paredes desde 2003, e o piso laminado que ficava por cima do original.
O edifício foi tombado em 2004 pelo município de Porto Alegre. Foram investidos em torno de R$ 3 milhões na atual restauração. A Fundação Pão dos Pobres estima que ainda sejam necessários mais R$ 2 milhões para a conclusão dos trabalhos. A previsão é de que toda obra seja finalizada em dezembro, mas para isso acontecer será preciso que o dinheiro chegue por meio de doações.
Para o gerente da Fundação Pão dos Pobres, João Rocha, as intervenções são significativamente relevantes.
— Para o Pão dos Pobres é de suma importância essa obra, porque é um prédio vivo e aqui moram crianças — diz.
Saiba mais
- O Pão dos Pobres surgiu em 1895, por iniciativa solidária do Cônego José Marcelino de Souza Bitencourt, que buscava amparar viúvas e crianças órfãs durante a Revolução Federalista. O conflito ocorreu no RS entre 1893 e 1895.
- Por solicitação da Arquidiocese de Porto Alegre, o imóvel da Fundação Pão dos Pobres de Santo Antônio foi construído para acolher famílias carentes que já eram atendidas pela fundação. O prédio foi concebido pelo arquiteto alemão Joseph Lutzenberger.
- Com auxílio da sociedade e de muitas doações, o imóvel foi concluído e inaugurado em 1929.
- Atualmente, 120 jovens moram na Fundação Pão dos Pobres, que trabalha com três eixos de atendimento: proteção, prevenção e inserção no mundo e no mercado de trabalho. Mas o total de atendidos, de zero a 18 anos incompletos, em situação de vulnerabilidade social, chega a 1,4 mil.
- São servidas 60 mil refeições mensais.
- No local, também é desenvolvido o serviço de Aprendizagem Profissional, com a oferta semestral de 13 cursos que preparam os jovens, a partir de 14 anos, para o mercado de trabalho.
- Quem quiser doar e ajudar no restauro da Fundação Pão dos Pobres pode entrar em contato com Cecília Muccillo Daudt pelo e-mail praxisgestaodeprojetos@gmail.com.
- Para mais informações, acesse este link.